Situado há mais de 200km da capital Teresina, Floriano é uma cidade localizada ao sul do Piauí, na divisa com o Maranhão, onde desde 1987 o Grupo ESCALET participa e organiza festivais e mostras de teatro, desenvolvendo também atividades sócio-culturais na comunidade.
Selecionados no primeiro Edital do Lab Cultura Viva, a equipe do ESCALET, assim como os outros vinte Pontos de Cultura também aprovados, produzem uma série de documentários que serão reunidos neste ano na Revista Eletrônica Cultura Viva.
O primeiro documentário narra a história da maior mestre da cultura popular maranhense, Dona Teté. Teté, que morreu em dezembro de 2011, criou o Cacuriá, dança tradicional que faz parte do calendário junino do Estado e possui mais de 60 grupos espalhados por São Luís. "Os documentários realizados pela Escalet Produções têm origens na cultura tradicional, no imaginário popular nordestino e cria elos com o contemporâneo", disse o coordenador do grupo Escalet, César Crispim.
O tradicional carnaval maranhense estrela o segundo documentário. Este vídeo acompanha uma viagem do bloco "Os Feras", que sai de São Luís rumo à cidade de Morros, no Maranhão. De forma descontraída “Os Feras” mostra a alegria contagiante dos foliões, o encantamento da criançada e a descontração dos participantes, seja no ônibus da viagem, nos alojamentos ou nas quadras onde acontecem as apresentações", comentou César Crispim.
"Com o objetivo de criar paralelos entre o ontem e o hoje, através da 'feira' como personagem, o vídeo 'Trocando em Miúdos' revela as pessoas típicas daquele local, os vendedores ambulantes, os bêbados, os compradores, etc", explica Crispim. Filmado em Juazeiro do Norte no Ceará, o vídeo mostra a arquitetura do local, a forma de comércio e as mudanças sofridas ao longo dos anos. Segundo Crispim, o vídeo é feito usando somente o recurso da imagem e dispensando palavras para retratar uma das culturas mais antigas da humanidade, a feira livre.
O último projeto mostra para o Brasil o Mestre Clarindo Silva, conhecido como "Anjo da Guarda do Pelourinho". Mestre Clarindo construiu sua vida entre os casarões do centro histórico da Bahia. Ele nos conta sua história, de como ali chegou e como criou paralelos entre a Cantina da Lua, o Pelourinho e seu 'Eu', disse Crispim. Carismático, Clarindo caminha entre os prédios e de forma natural falando de sua importância para a cidade e relembra as figuras ilustres que ali viveram. "É um verdadeiro mergulho na história de nosso povo", conta Crispim.
"Um ponto interessante foi como a produtora optou por temas que envolvem a cultura popular tradicional ao mesmo tempo em que criou pontes com a cultura contemporânea, isso fica claro na linha de edição, com rupturas de narrativas, intervenções de elementos não figurativos ao documentário e uso do silêncio como quebra da forma tradicional de ver e fazer cinema", comentou Crispim, evidenciando o que ele considera como alguns dos destaques dos documentários.
Para Crispim os temas diversificados deixam o documentário ainda mais rico e interessante. "Os personagens dos vídeos são múltiplos, às vezes falamos de uma senhora que mudou a história da dança popular no Maranhão, às vezes mostramos um homem que é responsável pela revitalização do maior centro histórico do Nordeste, o Pelourinho na Bahia. Outras vezes os personagens são entidades, como o bloco "Os Feras" ou espaços físicos geográficos como a Feira de Juazeiro do Norte no Ceará".
A maior dificuldade enfrentada pela equipe foi o tempo curto para realização dos trabalhos. "Ficamos limitados para fazer uma pesquisa mais ampla, mas foi o tempo suficiente para desenvolvermos um trabalho que revele uma porção desse Brasil", disse Crispim.
Aprendizado e troca de experiências não faltaram durante o processo de produção, com o contato com outros Pontos de Cultura do país e com profissionais de renome do cinema. "Todos estamos aprendendo, desde como elaborar um projeto até sobre o 'fazer cinematográfico' de forma profissional. As oficinas no Rio de Janeiro, oferecidas aos participantes gratuitamente, abriram portas para outras realidades da produção de documentários, mostrando que é possível fazer vídeo e cinema de qualidade e com bons argumentos no Brasil", afirma Crispim. "Foi uma grande oportunidade para nós do Escalet, pois tivemos a oportunidade de estar com pessoas capacitadas na área e que deram orientações para nosso trabalho. Pessoalmente destaco a professora Joana Collier, que revelou um mundo diferente na forma de ver e fazer montagem".
"O Lab Cultura Viva é uma usina de fazer arte e cultura, um modelo a ser seguido por quem realmente ama e quer ver nosso cinema crescer. Seria um sonho a implantação de um Lab por Estado, onde movimentasse a produção local, ao mesmo tempo em que articulasse no nível nacional. Acho que o MinC deveria olhar com carinho essa possibilidade, pois se o LAB/RIO está mudando a história do vídeo no Brasil imagina como seria se existissem 30 ou 40 ou mais Labs pelo país?", comenta Crispim.
"A grande verdade é que estão sendo produzidos 80 documentários que serão a cara, a identidade e a diferença desse Brasil. Agora todos poderão se ver e se encontrar em diversos momentos e lugares, em um ladrilho de imagens que não se repetem, mas que se completam e se refletem. Será fantástico poder assistir tudo isso depois.” finaliza Crispim.
Escalet