O bom senso chegou aos corredores de rua. Inspirados no movimento de jogadores que reivindica melhorias no futebol do país, atletas profissionais do Circuito Nacional de Corridas de Rua se organizam para lançar propostas de um novo calendário e limitar a presença de estrangeiros nas provas nacionais à Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). A piauiense Conceição Oliveira, segunda colocada no ranking de provas da temporada, é a representante dos quase 50 competidores que reivindicam melhorias na modalidade. Uma reunião entre técnicos, atletas e a presidência da CBAt está marcada para terça-feira, 12.
O movimento iniciou em Ribeirão Preto, durante etapa do Circuito Nacional de Corridas. Um abaixo-assinado foi lançado pelos atletas, que pedem uma revisão no número de estrangeiros em competições. Atendendo a resoluções da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), as corridas nacionais de rua no Brasil determinam até três atletas estrangeiros por país. A CBAt estabelece os critérios na norma 09. Segundo Conceição Oliveira, a definição traz desvantagens e prejudica os competidores nacionais.
"Não estamos contra os estrangeiros. As provas também são o meio de vida deles, mas queríamos que a CBAt observasse a forma como funciona a vinda de estrangeiros para as competições no Brasil. A maioria deles é trazida por managers que se beneficiam desses atletas. Eles fazem revezamento dentro do país com esses corredores e ganham a maioria das etapas. Enquanto isso, corremos o todo ano a maioria das provas. É uma disputa desigual, injusta", argumenta Conceição Oliveira, tricampeã do ranking.
Segundo a atleta, os managers são empresários que avaliam os corredores de outros países e trazem entre três a cinco atletas, fazendo com que eles representem centros de treinamentos pelo período de três meses. Esses centros de treinamentos, de acordo com o relato de Conceição, acabam se beneficiando das vitórias dos corredores, pagando a eles cachês. A atleta classifica essa pratica como uma “bola de neve” e defende premiações diferenciadas para brasileiros e estrangeiros.
A presença de estrangeiros não é a única reclamação dos atletas nacionais. Conceição Oliveira explica que algumas propostas do movimento buscam a renovação da categoria ainda para as Olimpíadas Rio 2016. A comparação com o Bom Senso FC vai mais além, como a necessidade de peneiras para revelar novos nomes nas corridas de rua e também o estabelecimento de competições específicas para brasileiros e para estrangeiros. O exemplo de como ficaria organizado essa separação está baseada também no futebol e seus campeonatos, com etapas nacionais e competições que compreendem clubes de outros países.
- Nesse momento, não é possível adiantar muita coisa porque muitas das propostas estão sendo formatadas. Nesse momento, vemos a necessidade de ter uma estrutura mais adequada para os fundistas, corredores de rua, atletas que vêm de regiões longes e fazem do esporte seu ‘ganha pão’, assim como os estrangeiros. Por isso solicitamos essa reunião com o presidente José Antônio Martins – conta Conceição Oliveira.
Aos 37 anos, Conceição chama a atenção para a necessidade dos representantes nacionais serem ouvidos nesse momento de forma que os brasileiros possam suprir as expectativas e descobrir uma nova geração.
- Nossa preocupação é com as novas gerações que tentam vencer por meio do atletismo, mas que não encontram uma estrutura que possa absorvê-los nas grandes capitais. Muitos das regiões norte e nordeste desistem porque não conseguem se fixar. Queremos um local, um centro de treinamento com alojamentos para preparar as próximas gerações até para justificar os altos investimentos das entidades no atletismo – explica a atleta.
CBAt esclarece
A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) se manifestou através de nota sobre a presença de atletas estrangeiros em solo brasileiro. A entidade esclareceu que desde 2009 a participação desses competidores em eventos atléticos no Brasil está normatizada, sendo que eles precisam estar devidamente autorizados pela federação de atletismo de seu país.
Na nota, o presidente da CBAt, José Antônio Martins Fernandes, o Toninho, afirmou que a confederação segue a legislação brasileira e as Regras da IAAF. As exigências, segundo ele, não trazem prejuízos aos atletas, pois há o Cadastro de Corredores.
"Estabelecemos limites para a participação dos atletas de outros países, como estabelece as normas. Porém, não há como impedir um atleta que esteja em situação legal de participar de uma competição nossa, pois estaríamos infringindo a própria lei brasileira e a regra da entidade internacional. Não podemos esquecer que centenas de corredores brasileiros disputam provas em outros países e não gostaríamos que eles sofressem qualquer tipo de constrangimento", afirma Toninho.
Fonte: globoesporte.com/pi