• roma.png
  • vamol.jpg
A Fifa investiga a manipulação de resultados no futebol e admite que vai apurar as denúncias feitas pelo ex-árbitro Gutemberg de Paula Fonseca, que acusa o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, de corrupção.

O esforço faz parte de uma operação mundial que tem o objetivo de lutar contra o crime organizado e apostas ilegais que, segundo os especialistas da entidade, movimentam US$ 500 bilhões (R$ 925 bilhões) por ano, valor superior ao PIB de muitos países. Há poucos dias, em entrevista à Rádio Jovem Pan, além de acusar o chefe dos árbitros da CBF, Fonseca insinuou que teria recebido ordens para beneficiar o Corinthians no Campeonato Brasileiro de 2010. "Estamos interessados em saber mais sobre essa denúncia", indicou o chefe de segurança da Fifa, Chris Eaton.

Segundo ele, juízes têm sido alvo de organizações criminosas em todo o mundo. A Fifa mandou nesta semana um de seus agentes ao Brasil. Confirma também que investigações conduzidas na Itália e na Argentina apontam para o envolvimento de apostas ilegais no Brasil, além de outros crimes que envolvem jogadores e árbitros. As informações se referem a jogos da Segunda Divisão dos campeonatos nacionais e locais. Mas a entidade admite que conta com suspeitas sobre jogos na Série A.

Para os especialistas em segurança da Fifa, não há dúvidas de que grupos criminosos estariam operando na rica do Sul, entre eles asiáticos envolvidos em apostas ilegais. Uma das provas seria o documento escrito a mão por um dos criminosos, já preso, o qual mostra que, em outubro de 2010, um amistoso entre Bolívia e Venezuela foi manipulado. Mas as investigações no Brasil também estariam ganhando proporções importantes, principalmente diante da Copa do Mundo. "Há muito dinheiro no futebol e os criminosos querem esse dinheiro", disse Eaton, que montou escritórios na Colômbia, Jordânia e Indonésia.

CRIME
Documentos revelados ontem pela Fifa escancaram o tamanho da infiltração do crime organizado no futebol mundial. Os contratos publicados incluem entendimentos entre criminosos e federações nacionais que estabelecem jogos com resultados acertados para manipular apostas mundiais. "O crime organizado desembarcou com força no futebol", disse Eaton.
Em contrato revelado pela Fifa, a empresa Footy Media, com sede em Londres, fechou acordo com uma federação nacional para a organização de amistosos com resultados já combinados. No contrato era estabelecido que "não haveria cobertura de televisão" justamente para que se evitasse polêmicas.


Pelos acordos, os criminosos estabelecem até número de gols numa partida e deixam claro aos presidentes de federações que receberiam parte dos lucros. Em uma das mensagens interceptadas, a empresa do criminoso Perumal Wilson garantia que pagaria US$ 10 mil (R$ 18,5 mil) aos cartolas locais para facilitar a realização de um jogo. Em outro e-mail, de 2008, US$ 100 mil (R$ 185 mil) seriam dados para um clube em troca de acordo sobre o placar de uma partida da Liga dos Campeões da África. "Queremos dois gols em cada metade do jogo e vocês podem fazer mais um depois do quarto gol", dizia o texto com as instruções.

Na mesma mensagem, o criminoso afirma que poderia influenciar outras partidas da Liga dos Campeões, garantindo a classificação do time em negociação para a próxima fase, prometendo mais US$ 500 mil (R$ 925 mil). O mesmo Wilson chegou a fechar acordos com federações, fornecendo árbitros para garantir resultados em amistosos. Já na prisão, onde cumpre pena de dois anos, Perumal escreveu a punho seu testemunho e admite que chegou a controlar uma liga nacional mais que a federação local.

Mas insiste que foi sua atuação que fez melhorar a situação dos jogadores que viviam na pobreza. Ele compara abertamente jogadores e cartolas corruptos a "prostitutas que vão com quem paga mais". Em outro documento obtido pela Justiça da Finlândia, o criminoso alerta que federações nacionais estão "quebradas" e ávidas por receber dinheiro, mesmo que seja sujo.

PROTEÇÃO
Mas o próprio criminoso alerta: "Eu sou peixe pequeno. Existem peixes muito maiores no mercado". Enquanto a Fifa insiste que o problema no futebol está nas casas de apostas ilegais espalhadas pelo mundo, críticos apontam que o maior problema está dentro da própria casa do futebol.

A entidade não divulga o nome das associações nacionais envolvidas nos acordos com os grupos criminosos e nem cogita punições aos cartolas. As cartas e e-mails revelam que tais criminosos atuaram com o apoio dos dirigentes de federações. Jogadores e árbitros que teriam sido alvo de subornos admitem não ter a quem recorrer, uma vez que os próprios dirigentes estariam envolvidos.


SEM MORAL
Wilson chega a alertar que, se a própria Fifa está atolada em escândalos de corrupção nas mais altas esferas, o problema não está apenas na base do esporte. Para 2012, a Fifa promete criar um disque-denúncia e um serviço de proteção a quem denunciar a corrupção ou apostas ilegais pelo mundo. "Será por meio de jogadores que vamos desmascarar criminosos", completou Eaton.


Fonte: Estadão