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cesareaAntes do bebê chegar ao mundo, há uma enorme expectativa. A mãe passa meses planejando como será o parto, se pretende que seja natural, com ou sem anestesia, se terá uma doula, se será na água, entre várias outras opções … Em alguns casos, mesmo sem planejar, a mulher pode ter que ser levada ao centro cirúrgico para uma cesárea. A cena do nascimento já é conhecida. Deitada, a mãe é coberta por um pano verde ou azul – chamado de campo cirúrgico, no jargão médico. Durante o procedimento, o obstetra narra o que está acontecendo, mas a mãe não consegue assistir a todos os passos por causa da barreira física.

Pensando em humanizar esse momento, a ginecologista e obstetra Elis Nogueira desenvolveu uma nova opção: o parto com campo transparente. “Não me conformava com o fato de que a mãe era a última pessoa a ver o seu filho, ou a sua filha, num parto cesárea”, disse Elis, em entrevista a VEJA. Acompanhe os principais trechos:


Como surgiu a ideia do campo transparente? Sempre me preocupei em fazer do nascimento um momento muito especial para a mãe, pai e para o bebê. Eu não me conformava com o fato de que a mãe era a última pessoa a ver o seu filho, ou a sua filha, num parto cesárea, porque o campo de tecido não permitia que ela visse o exato momento em que o seu bebê chegava ao mundo. Até então, para ela, só era possível ouvir o chorinho do bebê e só depois que lhe mostravam. Em 2017, vi uma foto de um parto cesárea realizado nos Estados Unidos com o uso de um campo plástico transparente. Fiquei imaginando como aquilo poderia ter sido feito. Fui até o arsenal de materiais cirúrgicos e pedi uma capa plástica transparente e estéril que costumamos usar para cobrir microscópios e aparelhos de ultrassom durante cirurgias; e foi assim que comecei.

Qual a necessidade de ter essa separação entre a mulher e a cirurgia? O campo cirúrgico (que é o pano verde, azul ou transparente) é necessário para fazer uma barreira de proteção entre a área da cesárea e a parte superior do corpo da mulher, para evitar a contaminação por bactérias ou outros microrganismos através do contato direto das mãos ou braços da paciente com o local da incisão, e de fluídos como os produzidos por espirros, tosses, e pela fala, por exemplo.
Pode explicar qual é o material utilizado? O campo cirúrgico transparente é um material estéril e descartável, feito de polietileno transparente simples, e de baixo custo. Comecei usando uma simples capa plástica estéril transparente de 80×120 cm, que eu dobrava e fazia com que se tornasse uma ‘cortina transparente’, possibilitando a mãe visualizar o exato momento da chegada do seu bebê ao mundo. Mantendo, assim, as características de proteção, isolamento e esterilidade necessárias para se evitar contaminações.

Quais hospitais usam no Brasil? Desde 2017, uso do campo cirúrgico transparente em todas as cesáreas que realizo nos principais hospitais e maternidades de São Paulo.

No campo visual, é muito diferente do parto normal? Visualmente, a experiência da mamãe com o campo transparente na cesárea se aproxima à do parto normal, pois ela também vê o nascimento do seu filho. Não, não há mais sangue à vista, pois a paciente está deitada, o que a impede de ver a incisão cirúrgica.

O fato de ser uma cirurgia não pode impressionar os pais? Não assusta. A mulher fica deitada e não tem a visão da incisão cirúrgica ou de outras fases do procedimento que poderia impressioná-la. Além de estar na posição horizontal, após o nascimento, colocamos um outro campo, opaco. Ele é usado para fechar esta janela de visão da mãe e do pai, ou acompanhante.

Como é a recepção das famílias? A recepção foi e tem sido fantástica. A melhor possível. As mães me dizem que conseguiram se sentir parte daquele momento.

E dos médicos? Eles receberam bem? No início, a reação dos médicos foi de surpresa, até mesmo em minha própria equipe, por ser uma inovação nas cesáreas e uma prática até então desconhecida. Com o passar do tempo e com a adoção do campo cirúrgico transparente em todas as minhas cesáreas, a recepção passou as ser muito positiva.

 

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Foto: Katia Rocha/Divulgação