Entre os tipos de demência neurodegenerativa, a doença de Alzheimer é considerada a mais comum. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o problema afeta mais de 30 milhões de pessoas no mundo e mais de 1 milhão de brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer. O neuropsiquiatra Lucas Mella, do Serviço de Neuropsiquiatria Geriátrica da Unicamp, explica que, com prevenção, é possível manter a cognição e retardar o processo de instalação da demência.
Os primeiros sinais, as primeiras alterações cognitivas e de memória começam a aparecer, em média, 15 anos antes do estabelecimento da demência. Esse processo é lento, mas logo no início já é possível começar a perceber pequenas diferenças na memória, principalmente na memória recente, e uma leve dificuldade de aprendizado de novos conteúdos. Pessoas que percebem esse declínio persistente da memória, mas não estão incapacitadas, continuam levando a vida, trabalhando e executando as atividades diárias, devem procurar um médico para fazer uma avaliação especializada em relação à cognição.
Essa avaliação pode ser feita por um geriatra, um psiquiatra ou um neurologista que sejam especialistas em cognição. Por meio de testes, é possível identificar se o paciente tem performance abaixo do esperado para a idade ou escolaridade e, portanto, tem algum comprometimento cognitivo leve. Pessoas que apresentam esse comprometimento, fazem parte do grupo que a medicina identifica como de maior risco de desenvolver doença de Alzheimer ou outras alterações vasculares no sistema nervoso que vão levar a algum tipo de demência.
Além do comprometimento cognitivo leve, existem outros fatores de risco para a demência. Um deles é a própria idade, quanto mais velha, maior a chance de desenvolver o problema. A isso somam-se alterações no organismo que representam risco cerebrovascular, como pressão alta, diabetes, colesterol, tabagismo, sedentarismo e fatores genéticos, como histórico familiar de demência. As pessoas que se enquadram nessas características devem se preocupar em prevenir o Alzheimer e outras demências.
O primeiro passo, e mais importante, é controlar rigorosamente os fatores de risco com tratamento e acompanhamento médico. Os fatores são os já descritos: hipertensão arterial, dislepidemia, que inclui colesterol e triglicérides alto e diabetes. Também é importante combater a obesidade e largar o hábito de fumar. O cigarro prejudica a saúde cardiovascular e pode aumentar a chance de demência.
Também é importante tratar sintomas comportamentais e psiquiátricos. É comum o paciente apresentar problemas como depressão, ansiedade, alterações de sono e apatia antes dos primeiros sintomas da doença. No caso da ansiedade, um estudo desenvolvido por pesquisadores do Hospital Brigham and Women's, em Boston, nos Estados Unidos identificou uma relação entre a ansiedade e a proteína beta-amiloide, responsável por formar as placas senis, que levam à demência, no cérebro. Os cientistas concluíram que, com o passar dos anos, o aumento dessa proteína pode causar sintomas de ansiedade e depressão antes de apresentar os sintomas de demência característicos da doença de Alzheimer.
É fundamental que as pessoas que fazem parte do grupo de risco para a demência se preocupem em implementar estratégias de estimulação cognitiva, ou seja, que essas pessoas tenham hábitos que estimulem o uso da memória. O neuropsiquiatra destaca que mais do que simplesmente usar a memória, é importante usar com atividades que a pessoa goste e que exija o envolvimento de muitos recursos como memória, raciocínio e linguagem. Um bom exemplo são os cursos de idiomas, as viagens, o hábito de assistir a filmes, a leitura e atividades que movimentem a vida social.
O hábito de resolver palavra cruzada ou montar quebra-cabeça pode ajudar, mas é pouco. Lucas Mella explica que o que traz, de fato, benefícios é um estímulo cognitivo maior. Nesse sentido, segundo ele, acompanhar uma novela faz muito mais efeito. "Quando a pessoa assiste um capítulo de novela, ela precisa se lembrar quem são as personagens, o que cada uma fez no capítulo anterior. Ela faz projeções para os próximos capítulos e ainda conversa sobre isso no dia seguinte com os amigos", diz
A prática de atividade física aeróbia regular também está associada à proteção contra a demência. Exercícios aeróbios são aqueles que têm intensidade baixa ou moderada e que movimentam grandes grupos musculares. Esse tipo de atividade aumenta o consumo de oxigênio pelo organismo e o metabolismo de gorduras. Caminhar, pedalar, nadar e dançar são bons exemplos de atividade aeróbia. O ideal é praticar um total de 150 minutos por semana.
Alimentação também ajuda a prevenir a demência. A melhor dieta é a do Mediterrâneo. Estudos indicam que ela ajuda a preservar a cognição. Esse tipo de dieta está ligada ao alto consumo de azeite de oliva, de proteína de peixes ricos em Ômega 3, como o salmão, e carboidratos complexos, como o grão de bico e a bata doce. O ideal é diminuir o consumo de pães e massas feitos com farinha branca e dar preferência aos produtos integrais .
Outra dica é o consumo moderado de vinho tinto, que é rico em flavonoides e resveratrol, duas substâncias antioxidantes que trazem benefícios para a saúde do cérebro e podem atuar como protetores contra a neurodegeneração que acontece em um processo de instalação da demência.
Por fim, pessoas que fazem parte do grupo de risco devem refazer a avaliação a cada 6 meses ou 1 ano para acompanhar o desenvolvimento cognitivo.
R7
Foto: Andreas Rentz/Getty Images