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Nasci filho de agricultores. Doei para o meu pai Osório Mendes, desde o meu nascimento, longas horas da minha infância, infelizmente não pude doar a adolescência. Minha irmã, essa não teve sequer o prazer de doar uma ínfima parcela da infância, pois nosso genitor faleceu antes de conhecer o caráter de seus dois filhos. Minha mãe dividiu a educação dos filhos com árduo trabalho na lavoura, e depois de um longo lapso temporal de viuvez casou se novamente com meu primo Francisco Leal Neto, a quem devo o outro lado do destino e do meu conhecimento convencional, foi com meu primo e segundo pai que aprendi as primeiras letras do alfabeto, lendo sonetos de Luiz de Camões e alguns livros de “cordéis”, dessa forma a nossa genitora embora não soubesse lê naquela época, criou uma profunda intimidade com a literatura, e através do seu segundo esposo nos levou a identificar um objetivo e uma relação entre os livros e a formação intelectual adequada aos moldes de seu pacato conhecimento da vida. Por essa razão passei a admirá-los, respeitá-los, reverenciá-los, e principalmente, passei a compreendê-los. Lê, para a minha mãe e meu primo- pai, foi sempre uma devoção, assim como se rezava o pai nosso e a ave Maria todos os dias antes de dormir. Depois de adulto relembro os pedidos e apelos dos dois, e sempre digo: triste dos filhos que não respeitam e nem compreendem as devoções paternas e maternas.

Assim como meus pais e minha família, também sou herdeiro de uma razoável conduta ética-moral. Grande, extensa, profunda, séria. Fruto de muito trabalho, e do esforço de meus genitores e orientares. Falo isso porque o mérito não pertence a mim e sim a Osório Mendes, Vicença Sousa e Francisco Leal Neto, que possuíram um tempo na vida para orientar dois seres eu e minha irmã, prepará-los dentro de um princípio embasado numa educação de berço e respeito ao próximo, ensinando sempre que qualquer ser humano deveria ser abordado com o devido respeito e admiração, pois segundo eles cada pessoa é uma obra do criador, e assim sendo, possuía sua própria essência natural, cabendo aos pais amoldá-los e ensiná-los a palmilhar na estrada da vida, e sempre faziam observações estarrecedoras em relação ao grau de conhecimento dos mesmos, quando exclamavam nas reuniões familiares: meus filhos, sempre respeitem as pessoas mais velhas, pois as crianças que não temem os seus genitores e não respeitam os idosos, não são dignas de qualquer admiração.

Meus pais, e quando falo de pai eu incluo meu primo, por essa razão tive dois pais, um biológico e um pai primo e amigo, quando naquela época da minha infância e da ausência acentuada de escolas convencionais, minha mãe e principalmente meu primo e pai, já sabiam da importância da educação de berço, o que muitos desconhecem até hoje, e o mas importante é que eles sabiam que tipo de educação estava faltando para melhorar a educação da população brasileira. Acreditavam, meu primo pai, e minha mãe, que a educação acadêmica era fundamental e de real importância, mas nutriam dentro dos filhos, que a educação de berço não poderia ser esquecida, pois essa era a principal mola de sustentáculo da educação convencional que aprendemos na escola.

A educação que recebemos dos nossos pais é a que formará a nossa estrutura interna, o nosso alicerce onde construiremos a nossa história de vida e o caráter de cada um de nós. O que tenho observado é que muitos pais têm deixado essa educação por conta das escolas e estas, mesmo tendo excelentes educadores, nunca substituirão os pais neste papel.

Apesar de ter perdido meu dois pais e minha mãe. Mesmo assim, sou feliz e agradeço todos os dias a Deus por ter colocado em meu destino Osório Mendes, Vicença Sousa e Francisco Leal Neto, que por sua vez deixaram me uma grande herança. E já estou de posse da herança que eles me legaram, foi uma partilha sem desavenças, entre eu e minha irmã. Não a herança material, mensurável, quantitativa, que se deposita em conta bancária. Desta, basta-nos o óbolo de Caronte. O que recebemos de nossos genitores e educadores foi um norte, um rumo, um equilíbrio, um eterno buscar da verdade, um empático respeito ao semelhante. O amor e a admiração por tudo de bom que o ser humano já produziu e tudo de ruim que produz, afinal de contas, nem todos os pais sabem educar os filhos, e essa é a razão da tamanha diferença.

Meus dois pais e minha mãe, também receberam uma herança magnífica, portentosa, imensurável. A herança de um gigante. A herança de um gênio, “primus interparis”. Temos portanto, responsabilidades, eu e minha irmã, a minha, talvez mais leve, é a de impedir que a herança de um princípio ético e educacional, não seja desqualificada, e isso não acontecerá. Vivemos em um País em que a educação cada dia fica mais desvalorizada, diferente de outrora, pois na época em que meus genitores viveram se valorizava mais a cultura e a educação, do que hoje, apesar de outras carências, só me faz recordar as palavras de um ídolo queosorio10 eu sempre admirei como advogado e escritor, “Monteiro Lobato”, que um dia escreveu “um país se faz com homens e livros”. Portanto, primeiro os pais criam e educam os filhos, dando lhes uma educação empírica e convencional, principalmente no tangente ao caráter, aí sim, verás a grandeza do caráter de um povo.

 

JOSÉ OSÓRIO FILHO.