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Uma mutação genética pode explicar o fato de algumas pessoas nunca desenvolverem sintomas quando contraem a Covid-19, revelou nesta quarta-feira (19) um estudo publicado pela revista Nature.

A pesquisa, da Universidade da Califórnia (EUA), fornece pela primeira vez provas de que existe um componente genético nas pessoas assintomáticas infectadas com o coronavírus Sars-CoV-2. A chave, explicam os especialistas, está nos antígenos leucocitários (HLA), proteínas que permitem ao sistema imunológico diferenciar suas próprias células saudáveis dos elementos nocivos. Uma mutação em um dos genes codificadores do HLA pode ser responsável pelo fato de as células T (ou timócitos) serem capazes de identificar e atacar o coronavírus.

De acordo com o estudo, as células T de algumas pessoas com essa variante genética conseguem detetar o Sars-CoV-2, mesmo que este seja desconhecido do organismo, porque se assemelha a outros vírus sazonais comuns. Tal descoberta, observam os investigadores, pode ajudar a desenvolver novos medicamentos e vacinas na luta contra esse tipo de doença. "Se tivermos um exército capaz de reconhecer o inimigo precocemente, isso é uma grande vantagem. É como ter soldados prontos para a batalha, que sabem o que procurar e quem são os maus", diz Jill Hollenbach, a principal autora do estudo.

A mutação, chamada HLA-B*15:01, é bastante comum, pois os especialistas a encontraram em cerca de 10% da população estudada. Mas eles advertem que isso não impede o coronavírus de infectar as células.

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No entanto, a mutação neutraliza os sintomas da Covid-19, como a rinorreia (secreção nasal) e a dor de garganta.

Os pesquisadores descobriram que 20% dos indivíduos do estudo que permaneceram assintomáticos após a infecção tinham pelo menos uma cópia da variante HLA-B*15:01, em comparação com os 9% que desenvolveram sintomas.

E aqueles com duas cópias da mutação tinham "muito maior probabilidade" (até oito vezes maior) de não apresentar os sintomas do coronavírus.

Agência EFE

Foto: National Reprodução/Institute of Allergy and Infectious Diseases

Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) identificaram que o parto não é um fator determinante para a construção da microbiota da criança, ao contrário do que apontava a literatura científica. Resultados primários do Projeto Germina, que acompanha o desenvolvimento de 500 crianças nos primeiros mil dias, mostram que, nos primeiros três meses, o leite materno pode corrigir as eventuais complicações intestinais.

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Definida como o conjunto de microrganismos que habitam o intestino, a microbiota está relacionada com diversas doenças autoimunes, diabetes, obesidade, desnutrição, alergias alimentares na pele e doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn. Em crianças prematuras, por exemplo, uma microbiota muito desregulada, com grande número de bactérias disbióticas, que favorecem o desequilíbrio da cadeia de microrganismos, pode resultar em um quadro de sepse, infecções que figuram como uma das principais causas de mortalidade infantil.

“Observamos que o leite materno carrega uma carga de bactérias benéficas que se sobrepõe às bactérias maléficas e assim consegue dar resiliência à microbiota. Com isso, o fato de o bebê ter nascido de parto normal ou cesárea, prematuro ou nascido de nove meses tem pouco impacto na modulação da microbiota. O principal fator de modulação é o leite”, afirmou a coordenadora do estudo, professora Carla Taddei, docente colaboradora do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) e da FCF (Faculdade de Ciências Farmacêuticas) da USP, à Assessoria de Imprensa do ICB-USP.

Em contrapartida, o leite de fórmula se mostrou incapaz de produzir o mesmo grau de modulações positivas. “O que irá determinar como será a microbiota são, principalmente, as interações das bactérias com o ambiente do intestino, além da genética familiar e dos diversos eventos que acontecem nesses primeiros dias, como o parto, os medicamentos que a criança recebe [principalmente antibióticos] e o tipo de dieta”, explica a professora.

Pouca diferença faz também se o leite materno é oriundo da mãe ou de bancos de leite. Isso porque um estudo anterior conduzido pela FCF-USP no Hospital Universitário, e coordenado pela docente, identificou que, apesar das diferenças nutricionais proporcionadas pela pasteurização, os resultados na modulação da microbiota são os mesmos.

O projeto mais recente, “Evolução da microbiota fecal de recém-nascidos prematuros submetidos a colostroterapia durante o período de internação em uma unidade de terapia intensiva neonatal”, coordenado por Taddei, tem apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Equilíbrio de longa duração

A formação da microbiota nos primeiros dois anos de vida define como ela será durante o resto da vida, já que é nesse momento que se constrói a microbiota basal, que permanecerá, independentemente dos hábitos alimentares e questões de saúde.

“Após esse período, o que modula a microbiota é o ambiente e a dieta. No entanto, por mais que a microbiota sofra alterações, a qualquer momento ela pode retornar a ser como era nos primeiros dois anos. Por exemplo, se um adulto se tornar vegano, sua microbiota será alterada. Mas se ele abandonar o veganismo, ela voltará à forma basal”, pontua Taddei.

Para as mães que não podem amamentar, a melhor solução é, portanto, adquirir o leite materno de bancos de leite. “Nos hospitais, os leites passam por diversas avaliações que garantem uma segurança microbiológica e identificam suas propriedades nutricionais. Com isso, os hospitais Amigos da Criança selecionam os leites que mais se adequam às propriedades que cada bebê precisa, de acordo, por exemplo, com seu peso e seus índices de cálcio no sangue”, detalha a docente. Sequenciamento do DNA

Os resultados da pesquisa foram obtidos por meio de sequenciamento de dados do DNA dos 500 voluntários. Esse procedimento é realizado por meio de uma tecnologia inovadora no país, chamada de “shotgun”, que permite analisar milhões de informações das amostras em um curto período.

“Com essa tecnologia, conseguimos analisar 5 milhões de sequências de DNA por criança. Enquanto com as máquinas convencionais conseguimos algo em torno de 100 a 200 mil. Ao final desses mil dias, teremos um contingente de dados que poderão ainda ser analisados por mais de dez anos”, comenta Taddei.

O recurso e o projeto são fruto de um financiamento de US$ 2,8 milhões da Wellcome Leap, organização britânica sem fins lucrativos. Com isso, sete grupos de pesquisadores da USP, de diferentes instituições, se reuniram no Projeto Germina para analisar com detalhes o que é considerado um desenvolvimento saudável de uma criança de até três anos, do ponto de vista da genética, microbiologia, nutrição, fonoaudiologia, pediatria, psicologia, psiquiatria de crianças e neurociência do desenvolvimento.

“Esperamos fazer um modelo que possa prever, nos primeiros três meses, como a criança estará com três anos, e assim orientar tratamentos personalizados”, conclui a professora.

Agência Fapesp

Foto: Freepik

 

Um estudo clínico em fase final mostrou a eficácia do medicamento donanemabe, desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, na desaceleração da progressão da doença de Alzheimer. Os resultados, publicados nesta segunda-feira (17) no Jama (Jornal da Associação Médica Americana), trazem esperança de que o novo tratamento para essa condição neurodegenerativa possa estar disponível em breve.

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Chamado de Trailblazer-ALZ 2, o estudo envolveu 1.736 pacientes com idade entre 60 e 85 anos e diagnóstico de Alzheimer em estágio inicial e foi conduzido em 277 centros de pesquisa de oito países. Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo que a metade deles recebeu o donanemabe por via intravenosa a cada quatro semanas durante um período de 72 semanas. A outra metade recebeu placebo, também por via intravenosa. Nenhum participante sabia de qual braço do estudo fazia parte.

Os pesquisadores avaliaram a mudança na pontuação do iADRS, uma escala que mede a cognição e a função diária dos pacientes.

Os resultados revelaram que o grupo que recebeu donanemabe apresentou uma redução de 35,1% na progressão da doença na população de baixa/média patologia de tau e uma redução de 22,3% na população combinada. Esses números indicam uma desaceleração significativa do Alzheimer com o uso do medicamento.

A proteína tau é uma substância associada à formação de emaranhados neurofibrilares, outra característica neuropatológica encontrada na doença de Alzheimer.

A gravidade da patologia de tau pode variar entre os indivíduos, sendo classificada como baixa, média ou alta, dependendo da quantidade e distribuição das proteínas tau detectadas em exames de imagem.

Além disso, o donanemabe demonstrou reduzir a quantidade de placas de amiloide no cérebro dos participantes. Cerca de 80% dos pacientes tratados com a nova droga alcançaram a remoção dessas placas, um marco importante no tratamento da doença de Alzheimer.

As referidas placas são depósitos anormais de uma proteína chamada beta-amiloide que se acumulam no cérebro de pessoas com a doença de Alzheimer.

Essas placas interferem na comunicação entre as células cerebrais, causando danos nos neurônios e levando a problemas de memória e cognição.

Reduzir ou remover essas placas é um objetivo importante no tratamento da doença, pois se acredita que isso possa retardar a progressão da doença e melhorar os sintomas.

Outro ponto importante do estudo foi uma troca planejada para placebo após 24 ou 52 semanas em indivíduos que tomavam o medicamento e cujos exames de imagem mostrassem uma remoção suficiente de beta-amiloide, o que ocorreu em cerca de metade dos pacientes aos 12 meses.

O artigo mostra que o donanemabe apresentou alguns efeitos adversos relacionados a anormalidades em exames de imagem, como edema/efusão ou micro-hemorragias e depósitos de hemosiderina — substância que é liberada quando há sangramento ou danos nos tecidos.

Três mortes foram consideradas relacionadas ao medicamento entre os participantes que desenvolveram anormalidades graves de imagem relacionadas à amiloide ou sangramento e inchaço cerebral.

A maioria dos eventos adversos, entretanto, foi geralmente leve e autolimitada, mas estes devem ser monitorados cuidadosamente durante o tratamento, acrescentam os pesquisadores.

Por fim, os autores afirmaram que o donanemabe é um medicamento promissor para desacelerar a progressão da doença de Alzheimer.

Em um editorial, também publicado nesta edição do Jama, os médicos Eric W. Widera, Sharon A. Brangma e Nathaniel A. Chin comentaram o avanço que o donanemabe pode representar, mas esclareceram que ese ainda está longe de ser um tratamento revolucionário.

"Essa ligeira diminuição na piora é pequena quando vista em valores absolutos. No entanto, retardar a progressão em um quarto ou meio ano, como visto com o donanemabe, permite que alguém permaneça no CCL [comprometimento cognitivo leve] ou demência leve por um pouco mais de tempo. Além disso, 47% dos participantes no grupo de baixa/média patologia de tau que receberam donanemabe foram considerados estáveis com base na pontuação da CDR-SB [Escala de Avaliação Clínica da Demência] em um ano, em comparação com 29% dos participantes que receberam placebo. Para alguns, isso pode ser considerado clínica e pessoalmente relevante", escreveram.

Em outro editorial, no Jama, Jennifer J. Manly, professora de neuropsicologia no Gertrude H. Sergievsky Center e no Taub Institute for Research on Alzheimer's Disease and the Aging Brain, e Kacie Deters, professora no Brain Research Institute, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, salientam que o donanemabe foi bom em remover as placas amiloides no cérebro, mas não teve um efeito clínico forte o suficiente.

Elas observam que, durante o estudo, as pessoas que receberam o medicamento tiveram um declínio menor na cognição e na função diária em comparação com as que receberam placebo, mas todas ainda apresentaram declínio.

O tratamento foi mais eficaz em pessoas com baixa/média patologia de tau, mas não foi tão eficiente em pessoas com um determinado tipo de gene chamado APOE4 — variante genética que aumenta o risco de desenvolver Alzheimer.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), atualmente 55 milhões de pessoas vivem com demência em todo o planeta, das quais entre 60% e 70% têm Alzheimer.

Com o envelhecimento da população, estima-se que a demência poderá atingir 78 milhões de pessoas daqui a oito anos e 139 milhões até 2050.

R7

Foto: Freepik

Um dos adoçantes mais populares do mundo é um “possível carcinógeno", mas permanece seguro para consumir em níveis já acordados.

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É o que afirmam dois grupos ligados à OMS (Organização Mundial da Saúde), que se pronunciaram nesta quinta-feira (13), após uma série de reuniões.

O vídeo divulgado pela OMS mostrou especialistas dos painéis discutindo as descobertas em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.

"Portanto, o grupo de trabalho classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para humanos, ou seja, o Grupo 2B, com base em evidências limitadas de câncer em humanos", diz um dos representantes da agência.

O aspartame é um dos adoçantes mais utilizados pela indústria de alimentos e bebidas no mundo. A decisão põe o aspartame na mesma categoria que o extrato de aloe vera e os tradicionais vegetais asiáticos em conserva.

Embora as descobertas possam causar algum alarme, o chefe de nutrição da OMS, Francesco Branca, minimizou a probabilidade de produtos adoçados com aspartame realmente causarem câncer. "A conclusão desta avaliação não mostra que o consumo de produtos que contêm adoçantes leva automaticamente a um impacto na saúde. Tendo uma ingestão diária aceitável, significa que é possível consumir certa quantidade de aspartame sem ter efeitos apreciáveis na saúde. Essa quantidade é uma boa grande quantidade."

A ingestão diária aceitável é de 40 mg de aspartame por quilo de peso corpóreo. Na prática, um indivíduo adulto com 60 kg pode consumir até 2,4 g sem risco à saúde.

Vários cientistas não associados às análises disseram que as evidências que ligam o aspartame ao câncer são fracas.

As associações da indústria de alimentos e bebidas afirmaram que as decisões mostraram que o aspartame é seguro e uma boa opção para pessoas que desejam reduzir o açúcar em sua dieta.

Mas outros disseram que as descobertas devem levar a mudanças, incluindo o CSPI (Centro de Ciência de Interesse Público) dos EUA e um de seus principais cientistas, Thomas Galligan.

"Isso é algo que a indústria, os consumidores e os reguladores realmente precisam tomar conhecimento. Isso é muito preocupante. O CSPI gostaria que a indústria começasse a reformular seus produtos, usar alternativas mais seguras e ajudar os consumidores a evitar e minimizar sua exposição ao aspartame. Da mesma forma, os formuladores de políticas também podem levar em consideração essa avaliação muito importante e confiável e começar a tomar medidas para proteger os consumidores também."

Antes do anúncio, alguns médicos expressaram preocupação de que os consumidores de refrigerantes dietéticos pudessem agora mudar para bebidas calóricas e açucaradas.

Therese Bevers, diretora médica do Centro de Prevenção do Câncer da Universidade do Texas, em Houston, disse à Reuters:

"A possibilidade de ganho de peso e obesidade é um problema muito maior e um fator de risco maior do que o aspartame jamais poderia ser".

Mas a OMS e outros ressaltam que os consumidores confrontados com a decisão entre uma bebida açucarada e uma com adoçantes devem considerar uma terceira opção.

Um dos órgãos envolvidos na decisão foi a Apic (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer), um braço da OMS. A entidade, todavia, é criticada por causar preocupações desnecessárias na população com suas afirmações.

A agência já incluiu o trabalho noturno, o consumo de carne vermelha e o uso de telefones celulares como potenciais causadores de câncer. Brasil

No Brasil, a Abiad (Associação Brasileira de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres) emitiu uma nota em que concorda com a decisão dos órgãos ligados à OMS.

"A Abiad reitera seu compromisso em promover a disseminação de informações embasadas em evidências científicas e a garantia da segurança alimentar. Continuaremos monitorando atentamente os avanços científicos nessa área e colaborando com as autoridades competentes para assegurar que os consumidores tenham acesso a alimentos seguros e de qualidade", diz a associação.

Reuters

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado