Desde o mês de janeiro, a síndrome de burnout, ou esgotamento por estresse relacionado ao trabalho, passou a fazer parte do CID, documento elaborado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) que classifica todas as doenças.

Aqui, o assunto já faz parte da rotina há um bom tempo. Tanto que em pesquisa feita pela ISMA (sigla em inglês da Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse), em 2019, o Brasil aparecia em segundo lugar no ranking dos países com mais casos do problema. Sendo que 30% dos brasileiros apresentavam um quadro de estresse relacionado à profissão. Situação que ficou ainda mais grave durante a pandemia do coronavírus, devido às preocupações em perder emprego e manter as entregas mesmo no home office.

O psiquiatra Álvaro Cabral, colaborador do Ipq - HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), explica que mesmo com classificação no CID-11, a síndrome não é uma doença e, na verdade, influencia o estado de saúde do indivíduo.

"O burnout é uma condição que pode prejudicar o estado de saúde da pessoa. Da mesma forma que podemos ter algum tipo de outro estresse. Alguma situação que é porta de entrada para outras doenças. Por exemplo, a pessoa se machuca e fica com uma ferida. Aí a ferida infecciona e aí vai para o quadro mais grave", compara o médico. Por ser uma situação que influencia a saúde mental e pode causar problemas mais sérios, os sintomas acabam sendo confundidos com a depressão e os transtornos de ansiedade. "As pessoas estão associando muito os diagnósticos, dentro dessa hierarquia de descrições diagnósticas, o burnout seria uma condição menor. Ele está relacionado exclusivamente ao trabalho", diz ele.

As características da síndrome por estresse são sentimentos de esgotamento, exaustão ou falta de energia para exercer práticas profissionais; aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo em relação à profissão; e a sensação de ineficácia ou falta de realização profissional.

"A pessoa não chega a se perceber triste ou desanimada a maior parte do seu dia, ou ainda com alterações de sono e apetite, que são coisas que a gente descreve, por exemplo, no quadro de depressão", orienta Álvaro.

Porém o burnout pode levar à depressão. "A partir do momento observamos sintomas, como: tristeza o tempo todo, desanimo o tempo todo, falta de energia para tudo, pessoa está dormindo mal ou dormindo demais, está sem apetite ou comendo demais. Quando começamos a identificar esses outros sintomas, passamos a falar em um quadro de depressão. Não é mais burnout", ressalta o psiquiatra.

No caso da comparação com os sintomas dos transtornos de ansiedade, mais uma vez os sinais deixam de estar associados somente com as questões profissionais. "A pessoa se percebe ansiosa a maior parte do tempo, passa a ter sintomas físicos, como sensação de aperto no peito, batimentos cardíacos acelerados, tremores", explica Álvaro Cabral. Qual o tratamento da síndrome de burnout?

Para cuidar da síndrome de burnout não há indicação de medicamentos, o que deve ser buscado é uma mudança de comportamento das empresas e dos profissionais. "É difícil pensar de um tratamento para essa questão que parta somente do indivíduo. As intervenções são mudanças no estilo de vida e não dependem exclusivamente dos funcionários.", alerta o médico.

Do lado das organizações, é importante coibir práticas, como assédio moral, evitar o clima de cobrança por altas demandas, com metas muito rígidas. "Algumas empresas estão implementando atividades de promoção de saúde, estímulo às atividades físicas, cursos de meditação. Essas práticas tornam o ambiente mais agradável e satisfatório", diz Cabral.

Do ponto de vista das pessoas, a indicação é buscar e implementar atividades físicas, atividades de lazer e buscar propósito para a vida que vão além do trabalho. "Embora o burnout não seja doença, a psicoterapia que pode ajudar a pensar sobre essas coisas e o que é possível mudar na vida, além do trabalho para melhorar a condição. Outras vezes como a pessoa pode lidar com os relacionamentos com as pessoas no trabalho ou aprender a lidar com as cobranças de uma forma que diminua o sofrimento", conclui o psiquiatra do Ipq - HCFMUSP.

R7