Os desmatamentos da Floresta Amazônica e as mudanças climáticas podem transformar algumas regiões do Brasil incompatíveis com a vida humana, devido ao calor extremo. Esse foi o resultado de um estudo feito pela Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o IEA/USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo), divulgado nesta sexta-feira (1º).
Os pesquisadores projetam um aumento do risco de estresse térmico na Amazônia Brasileira, que levaria a um efeito extremo na saúde de 11 milhões de pessoas da Região Norte do Brasil. A previsão é que até 2100 a população atinja o limite da adaptação fisiológica do corpo humano devido ao desmatamento. O que significa que o homem não será capaz de manter a temperatura corporal sem adaptação. De acordo com o estudo, sob condições ambientais desfavoráveis que incluem alta exposição à temperatura e umidade, as capacidades de resfriamento do corpo são enfraquecidas, resultando em aumento da temperatura corporal.
O que pode levar à desidratação e exaustão e, nos casos mais graves, tensão e colapso das funções vitais, levando à morte. Além disso, o estresse causado pelo calor pode afetar o humor, os distúrbios mentais e reduzir o desempenho físico e psicológico das pessoas.
“As condições extremas de calor induzidas pelo desmatamento podem ter efeitos negativos e significativamente duradouros na saúde humana. Precisamos entender globalmente que se o desmatamento continuar nas proporções atuais, os efeitos serão dramáticos para a civilização. Essas descobertas têm sérias implicações econômicas que vão além dos danos às lavouras de soja”, afirma Paulo Nobre, pesquisador do Inpe e um dos autores do estudo. Os efeitos da falta de preservação da natureza já são sentidos no Brasil e dados observacionais mostra aquecimento mais extremos relatados em grandes áreas desmatadas de 2003 a 2018.
No modelos climáticos feitos pelos pesquisadores, a combinação de mudança no uso da terra e aquecimento global pode ampliar ainda mais os riscos ocupacionais. Além disso, o aumento do número de incêndios florestais, a expansão de áreas agrícolas e atividades de mineração, tendem a impulsionar o crescimento desordenado e um processo de urbanização não planejado, com falta de infraestrutura sanitária básica e trabalho informal mais frequente.
Esses fatores estão associados ao processo de desmatamento e ao aumento da desigualdade e da vulnerabilidade, que atuam em sinergia com os efeitos das mudanças climáticas, aumentando ainda mais a demanda por serviços de saúde e proteção social na região da Amazônia brasileira.
“Os efeitos locais das mudanças no uso da terra estão diretamente ligados às políticas e estratégias de sustentabilidade das florestas, e as mudanças nessas áreas estão ao alcance da sociedade. Nessas áreas, o setor de saúde poderia ser um importante motivador na formulação de políticas integrativas para mitigar o risco de estresse térmico e a redução da vulnerabilidade social”, explica Beatriz Oliveira, pesquisadora da Fiocruz Piauí.
O ensaio mostra que os efeitos serão em escala regional, com os maiores impactos diretos na região Norte do país. Do total de 5.565 municípios brasileiros, 16% deles (30 milhões de pessoas) sofrerão impactos por estresse térmico.
R7