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A palavra intubação passou a fazer parte da vida dos brasileiros mais intensamente há pelo menos dois meses, devido ao agravamento da pandemia no país. Com isso, vieram a preocupação e o medo das famílias e dos pacientes infectados com a covid-19.

Na última semana, na cidade de Londrina, no Paraná, um homem fugiu do hospital quando soube que seria intubado. A equipe médica conseguiu resgatá-lo. Mas, a reação chamou a atenção para ansiedade e medo que o procedimento leva ao doente. Os especialistas indicam que a reação está relacionada ao conhecimento que as pessoas já têm de que a ventilação mecânica está associada à gravidade da doença. “O paciente sabe que só está sendo intubado porque tem um risco de morrer. Quando o doente chega ao estado grave, existe um trabalho de conversa e confiança com os profissionais, que ele vai sentindo que a situação está piorando e pode chegar até a intubação”, explica a médica intensivista Mariza Loesch, coordenadora da UTI do Hospital São Luiz – Itaim.

A coordenadora de psicologia de São Paulo da Rede D’OR, Patricia Bader explica: “Cada vez mais a intubação é entendida publicamente como a morte. Só que cada paciente tem uma resposta aos medicamentos e existe chance de vida”, afirma a psicóloga. De acordo com dados do site UTIs Brasileiras, que registra informações de Unidades de Terapia Intensiva do Brasil, a taxa de mortalidade dos pacientes com covid e que recebem ventilação mecânica chega a 71,8% nos hospitais públicos e a 63,2%, nos particulares. Mesmo com números altos, a psicóloga do Hospital Santa Catarina, Ana Carolina Ratajczyk Puig enfatiza que o procedimento tem de ser associado à busca pela vida. “Tentamos trazer o paciente para o momento presente. O tubo não quer dizer que ele vai morrer, ao contrário, é uma ação e uma busca para a vida”, afirma a profissional.

Na grande maioria dos casos, as pessoas são avisadas sobre o procedimento. Médicos e psicólogos concordam que é fundamental a conversa e a explicação do que acontecerá. “O medo é ligado ao não controle da situação. Para lidarmos com isso, trazemos a informação, o acolhimento, o vínculo com a equipe. Mostramos que tudo bem ele sair do controle por um tempo para os profissionais cuidarem dele”, diz Puig.

A relação de confiança é fundamental no dia a dia dos hospitais. “Criamos um lastro com o doente e fazemos pactos para que ele perceba os sintomas do próprio corpo. Quando isso acontece no pronto-socorro, é mais difícil. Mas a orientação é se apresentar pelo nome, dizer sua função, reconhecer o nome do paciente e explicar o que vai ser feito. Porque, na verdade, recebemos uma procuração para cuidar da vida da pessoa”, salienta Bader.

Falta da família aumenta ansiedade A alta transmissibilidade da covid ainda deixa os doentes completamente afastados dos familiares, o que dificulta a manutenção da saúde mental. “Quando a pessoa está internada, veste uma roupa que não é dela, num ambiente que não é dela, com pessoas que ela conheceu agora. Mesmo sendo pessoas que estão lá para cuidar dela, ela demora para entender. A família é uma representação do que ela é lá fora e uma esperança que ela volte a ser o que ela é fora do hospital”, conta a psicóloga do Hospital Santa Catarina.

Por isso, os pacientes estão liberados para usar celulares, mesmo dentro das UTIs. “Autorizamos que os pacientes fiquem com os celulares, façam chamadas de vídeo e se possível um médico acompanha. É difícil: isolamento, medo de morrer e longe de quem ama”, exalta a médica Mariza Loesch.

Memória da intubação É importante lembrar que todo processo de intubação é feito com os pacientes sedados. Quando há tempo, após avisar a todos. Isso faz com que o procedimento seja menos sofrido e dolorido. Enquanto está intubado, o paciente está dormindo. Após o retorno, quase ninguém lembra dos dias de sedação.

“Eventualmente acontecem reminiscências, fatos sensoriais do momento. Tive uma paciente, não pós-covid, que passou muito tempo intubada e a irmã dela fazia massagem nas pernas dela, para ajudar na circulação. Após recuperação, ela teve muito sonhos ruins, mas disse que sentia um cheiro doce. Como a irmã estava junto na sessão, ela lembrou do creme de pêssego que usava durante a massagem. A partir daí trabalhamos para ela se livrar do trauma do tubo. Infelizmente, na fase atual da pandemia não conseguimos ter esse acompanhamento tão grande”, finaliza Patricia, da Rede D’or.

 

R7