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Uma pesquisa feita por uma equipe de cientistas franceses, publicada recentemente na revista especializada BMC Medicine, mostrou pela primeira vez que o cigarro - mesmo que seu consumo seja interrompido antes da gravidez- pode ter consequências na placenta e potencialmente na saúde da criança, alterando mecanismos do DNA.

O estudo foi realizado pelos cientistas do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), do CNRS, e da Universidade de Grenoble, que integram o Instituto para o Avanço da Biociência. Ele foi dirigido pela pesquisadora francesa Johanna Lepeule e começou há cerca de 20 anos.
A equipe analisou o DNA da placenta de 568 mulheres, durante a gravidez, entre 2002 e 2006, e após nascimento das crianças. Os pesquisadores analisaram amostras de placenta, retiradas no momento do parto. As participantes foram divididas em três categorias: não-fumantes, ex-fumantes (que abandonaram o vício três meses antes de engravidarem) e fumantes.

O estudo acompanhou, em seguida, o desenvolvimento das crianças, que hoje têm entre 14 e 15 anos. A próxima etapa será avaliar o efeito das alterações placentárias na saúde dos participantes e associá-las a possíveis patologias.

Os pesquisadores constataram que fumar durante, mas também alguns meses antes da gravidez, pode alterar um processo conhecido cientificamente como metilação do DNA. Esse mecanismo complexo é condicionado em parte pelos chamados fatores epigenéticos - modificações do genoma que não alteram a sequência do DNA, mas influencia a "expressão dos genes".

Todo indivíduo tem predisposições genéticas que manifestam em função da exposição a diferentes fatores ambientais, como a poluição, os disruptores endócrinos, entre outros aspectos. É o caso de várias patologias autoimunes. As células recebem sinais provenientes do meio-ambiente e se especializam ou ajustam sua atividade. Um indivíduo pode também ter um gene que predispõe a uma doença sem jamais desenvolvê-la.

Os motivos que "acionam" os genes, aliás, permanecem misteriosos e são objeto de vários estudos. “O DNA é imutável, exceto em casos muito excepcionais. A metilação é uma marca bioquímica que se posiciona sobre o DNA e fará com que ele se “expresse” mais ou menos", diz a pesquisadora francesa. "Em geral, há um efeito do tabaco na alteração dessas metilações na placenta e, de maneira interessante, também nas mulheres que haviam parado de fumar cerca de três meses antes de engravidar”, ressalta.


De acordo com a cientista francesa, as 152 alterações constatadas no genoma durante o estudo eram reversíveis, como se as mulheres nunca tivessem fumado. Essa conclusão é importante, diz, para as mensagens de prevenção: a recuperação de alguns efeitos nocivos do cigarro no organismo é total caso a futura mãe pare de fumar.

Por outro lado, em outras 26 regiões do genoma analisadas, os pesquisadores perceberam que os efeitos provocados pelo tabaco nos genes eram perenes. A descoberta surpreendeu a equipe, já que a placenta começa a se formar no momento da fecundação, e não foi, desta forma, exposta ao cigarro alguns meses antes da concepção nas mulheres que pararam de fumar três meses antes.“É como se o órgão conservasse um sinal dessa exposição ao tabaco pela modificação persistente da metilação do DNA da placenta", ressalta Johanna.

A placenta é um órgão efêmero que tem um papel fundamental no desenvolvimento do feto, vulnerável a inúmeros componentes químicos.“As preconizações são claras há anos, em função dos estudos sobre os efeitos do tabaco para as mães e as crianças. A melhor coisa a fazer é não começar a fumar e parar o mais cedo possível caso contrário. Isso só pode melhorar a saúde. É sempre uma boa ideia parar de fumar."

 

RFI