Enquanto empresas e governos correm para o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus que causa a covid-19, com gastos de bilhões de dólares, pesquisadores da Universidade do Estado da Pensilvânia, nos EUA, trazem à tona uma preocupação real.
Alguns vírus são capazes de desenvolver resistência a vacinas, do mesmo modo que alguns antibióticos perdem força contra determinadas bactérias.
O estudo, publicado na revista científica PLOS Biology nesta semana, lista cenários em que uma vacina se torna eficaz.
Os pesquisadores estabeleceram um tripé de condições que são necessários para um imunizante.
Na ausência de um desses pilares, ele estaria suscetível a não funcionar contra o coronavírus, por exemplo.
São eles:
1) "A vacina induz uma resposta imune que protege os hospedeiros ao direcionar múltiplos epítopos [sequências específicas de uma molécula de antígeno] de vírus simultaneamente, gerando assim redundância e proteção evolutivamente robusta." Neste caso, garante a proteção ao indivíduo vacinado para que não adoeça.
2) "A vacina suprime o crescimento do patógeno dentro dos hospedeiros e interrompe a transmissão de hospedeiros protegidos pela vacina." Desta forma, a pessoa vacinada não vai espalhar o vírus.
3) "A resposta imune induzida pela vacina protege contra todos os sorotipos circulantes do patógeno alvo". Um mesmo vírus — não é o caso do coronavírus SARS-CoV-2 até o momento — pode apresentar mais de um sorotipo, como é o caso do flavivírus que causa a dengue, que tem quatro.
Os autores observam que "combinados, estes três recursos tornam a probabilidade de emergência de resistência extremamente pequena".
"Assim como a terapia antibiótica combinada atrasa a evolução da resistência aos antibióticos, as vacinas que são projetadas para induzir uma resposta imune redundante — ou uma em que o sistema imunológico é encorajado a atingir vários locais, chamados epítopos — na superfície do vírus, atrasam a evolução da resistência à vacina ", exeplica Andrew Read, Evan Pugh professor de biologia e entomologia e diretor do Huck Institutes of the Life Sciences.
"Isso porque o vírus teria que adquirir várias mutações, ao invés de apenas uma, para sobreviver ao ataque do sistema imunológico do hospedeiro."
O artigo também frisa que a resistência deve ser pensada neste momento de desenvolvimento das vacinas, e não depois.
"É tentador deixar as preocupações evolutivas para depois que a vacina for introduzida. Mas, como vimos no caso da tuberculose e do HIV, a evolução da resistência pode minar rapidamente as intervenções recém-descobertas. Aprendendo com as soluções para os desafios evolutivos anteriores, podemos fazer melhor para a covid-19."
Para isso, a equipe sugere que as amostras de esfregaço nasal (swab) coletada dos voluntários durante as fases de teste das vacinas sejam utilizada para medir a quantidade de vírus presente, que pode indicar se aquela pessoa tem potencial para transmitir.
A supressão da cadeia de transmissão é apontada como fundamental na diminuição do risco de resistência do vírus, uma vez que minimiza as oportunidades de surgimento de mutações e reduz as oportunidades para a seleção natural agir sobre as mutações que surgem.
Atualmente, dez vacinas em todo o mundo estão na terceira fase de testes clínicos, que é a mais avançada antes de solicitar o registro junto a uma agência reguladora.
R7