Os testes rápido de antígeno são capazes de detectar proteínas presentes na estrutura do novo coronavírus e, por isso, também servem para diagnosticar a covid-19. Ele é visto como promissor por especialistas, mas ao mesmo tempo exige cautela, pois a chance de falha é maior se comparada ao RT-PCR, considerado padrão ouro para identificar a infecção.
A vantagem do teste de antígeno, além da rapidez no resultado, que sai entre 15 e 30 minutos, é a sua maior acessibilidade, já que não exige a tecnologia necessária para a realização do RT-PCR.
"Eles são feitos em dispositivos que podem ser levados para qualquer ambiente porque não exige o aparato tecnológico de laboratório, que inclusive nem todos ele possuem", afirma o médico patologista Leonardo de Souza Vasconsellos, professor do Departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da UFMG e diretor de ensino da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial.
Entretanto, o especialista acrescenta que esse tipo de exame é menos preciso. Isso significa que a capacidade de detectar o novo coronavírus (sensibilidade) e de diferenciá-lo de outros vírus (especificidade) é menor, o que aumenta a chance de resultados falsos - negativos e positivos.
"Ainda não se compara com a biologia molecular. Mas são promissores, tudo indica que vai ser uma opção se ela não estiver disponível. E só o tempo vai dizer se pode substituir.É algo muito novo que exige mais estudos", analisa.
"Geralmente a bula fala que a sensibilidade está em torno de 90% e a especificidade em torno de 98%. Mas, como qualquer outro teste rápido, existe uma grande variedade de métodos de fabricantes. E tem muitas marcas pouco conhecidas no nosso meio. Isso não quer dizer que elas sejam piores, mas precisam ser analisadas", completa.
Resultados falsos
Uma reportagem publicada nesta semana no jornal The New York Times apontou que esses testes de diagnóstico rápido têm recebido críticas de cientistas americanos pelo grande número de resultados falsos positivos, principalmente quando usados para examinar pessoas sem sintomas.
O texto cita que no início deste mês as autoridades do estado de Nevada, no oeste dos Estados Unidos, ordenaram que as casas de saúde interrompessem o uso de dois testes rápidos de coronavírus até novo aviso, citando preocupações sobre a precisão, mas a proibição logo foi revogada por causa da pressão do governo Trump.
Vasconsellos explica que resultados falso positivos podem ocorrer em todo exame sorológico - aquele que depende da reação entre antígenos e anticorpos, como é o caso do teste de antígeno.
"Toda reação sorológica tem o risco de sofrer interferentes, que podem ser outros micro-organismos com os quais a pessoa está infectada", exemplifica. "Além disso, a indústria diz que detecta uma proteína que só o coronavírus tem, mas quem garante que os anticorpos de captura do antígeno só vai se ligar à proteína do coronavírus e não a outros elementos da amostra?", questiona.
Já os resultados falsos negativos, que são mais frequentes uma vez que a sensibilidade é de 90%, acontecem porque a coleta da amostra foi feita de maneira errada, no período inadequado, a carga viral da pessoa que se submeteu ao teste estava muito baixa ou ainda o resultado foi interpretado equivocadamente.
Daí a importância de serem aplicados por profissionais treinados em locais que tenham autorização para isso, alerta o professor. Segundo ele, o teste de antígeno deve ser feito na primeira semana de início dos sintomas, de preferência entre o terceiro e o quinto dia.
Sobre a utilização de testes rápidos no Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária afirmou, por meio de nota, que os testes rápidos de antígeno, assim como o de anticorpos, "são instrumentos auxiliares ao diagnóstico", que só pode ser dado por um profissional de saúde habilitado.
O órgão cita a resolução que liberou a aplicação de testes rápidos em farmácias - sejam de antígenos ou anticorpos - publicada em abril e destaca que os estabelecimentos devem ter licença sanitária e autorização de funcionamento.
Diferença entre testes de antígeno, anticorpos e RT-PCR
O teste de antígeno adota o mesmo procedimento de coleta que o RT-PCR: as amostras são retiradas do nariz ou da garganta com um instrumento chamado swab, que se parece com um cotonete gigante.
A diferença é que o exame considerado padrão ouro detecta e também aplia o material genético do coronavírus, o que por si só garante mais precisão, uma vez que o genoma viral é único. Já o teste de antígeno, como o próprio nome diz, detecta componentes do novo coronavírus que provocam uma reação do sistema imunológico, nesse caso, proteínas.
Em contrapartida, a tecnologia é a mesma do teste rápido que detecta anticorpos. Como já citato por Vasconsellos, o resultado depende da reação entre antígenos e anticorpos. "A diferença é que no tubo do exame de antígeno há anticorpos para capturá-los, e no teste de anticorpos é o contrário", detalha.
R7
Foto: Pascal Rossignol/Reuters