Na coluna de terça, falei sobre o promissor mercado de drogas voltadas para a longevidade. No entanto, o 7º. Aging Research & Drug Discovery Meeting, que aconteceu na semana passada, não tratou apenas de substâncias e procedimentos para deter o envelhecimento. Um outro assunto em alta no evento foi o jejum para controlar a síndrome metabólica de pacientes com pressão alta, nível aumentado de glicose e colesterol, além de gordura abdominal. Para os que se arrepiam diante da hipótese de serem privados de comida, explico que esse é um jejum que dura 14 horas, mas deve ser incorporado à rotina, ou seja, é para ser praticado sete dias por semana.
O nome técnico em inglês é TRE (time restricted eating), que significa uma janela de restrição para se alimentar. De acordo com a cardiologista Pam Taub, professora da Universidade da Califórnia San Diego, essa é uma estratégia eficiente no arsenal de medidas para manter sob controle o diabetes. Ela apresentou um quadro com os números da doença no mundo: a China vem disparado na frente, com 110 milhões de casos, seguida por Índia (70 milhões), EUA (30 milhões) e Brasil (14 milhões). “É importante alinhar a ingestão de alimentos com o ciclo circadiano do corpo e comer num determinado período que compreende de oito a dez horas durante o dia. A mudança é fundamental para influir no metabolismo humano em nível celular, e leva à perda de peso e à saúde cardiometabólica”, afirmou.
O ciclo ou ritmo circadiano é o período de 24 horas no qual se baseia nosso relógio interno, o que inclui comer e dormir. O desequilíbrio desse quadro, como ser privado do sono, tem forte efeito sobre o organismo. Por isso mesmo, a pesquisadora foi enfática ao dizer que o período de restrição alimentar não significa pular café da manhã, mudar a dieta em termos de quantidade e frequência das refeições, e muito menos jejuar por dias seguidos. “Trata-se de uma intervenção comportamental. São dez horas de janela para se alimentar e 14 horas jejuando. Os pacientes que participaram de um programa com a duração de 12 semanas apresentaram redução de peso, gorduras aterogênicas, pressão arterial, colesterol e melhora qualidade de sono”, descreveu.
O estudo da médica começou em 2019 e deve se estender até 2023, com participantes entre 18 e 75 anos. Durante o programa, o grupo utiliza o aplicativo myCircadianClock, desenvolvido pelo Instituto Salk, para medir a ingestão de comida e bebida; e usa um monitor de pulso que acompanha o nível de atividade física e avalia o sono. E o que acontece quando deixamos de nos alimentar por 14 horas? Na falta de glicose, que é a principal fonte de energia do organismo, o corpo passa a produzir corpos cetônicos, como resultado da destruição das células de gordura – que aí passam a fornecer a energia necessária para as funções vitais. No entanto, como qualquer dieta, esta também demanda supervisão médica, inclusive para controlar o nível de corpos cetônicos no sangue. Em quantidades altas, são extremamente prejudiciais à saúde.
G1/Bem Estar