No sábado (29) é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, que tem o objetivo de conscientizar sobre os danos causados pelo cigarro. O oncologista Luís Henrique de Carvalho afirma que diante dessa pandemia o combate ao tabagismo é ainda mais importante.
“O tabagista tem todo o trato respiratório acometido, além de uma inflamação crônica no organismo. É um paciente mais frágil para infecções, ainda mais a covid-19 que tem uma atuação importante no sistema respiratório e causa um quadro inflamatório generalizado que ainda não conhecemos muito bem o mecanismo.”
egundo Carvalho, o baixo nível de oxigênio no sangue e a exposição a outras toxinas do tabaco levam à disfunção da camada que reveste o interior dos vasos sanguíneos e linfáticos, o que pode levar a um processo inflamatório generalizado.
“A nicotina e todas as substâncias que estão presentes no cigarro causam muitas interações moleculares que prejudicam o sistema respiratório.”
Além disso, fumar aumenta o risco para doenças cardíacas, pulmonares, vasculares e diversos tipos de câncer, como a leucemia, câncer de bexiga, de pâncreas, de pulmão, laringe, esôfago, entre outros. Condições também consideradas fatores de risco para a covid-19.
O médico explica que a interação da nicotina e outras substâncias modificam o processo celular do corpo e pode desencadear o surgimento de tumores.
“Os órgãos como laringe, esôfago e o próprio pulmão são expostos diretamente à fumaça, é um processo direto. Além disso, parte dessas substâncias pode se acumular na parede gástrica. Agora, o câncer de bexiga, parte do que circula no sangue é processado via rins e excretado pela urina, então também existe essa exposição.”
Carvalho afirma que pesquisas mostram que o risco de pessoas fumantes desenvolverem câncer é 30% maior que as que não fumam. “O que vemos no dia a dia é um número ainda maior que este. O tabagismo é responsável por até 90% da mortalidade dos pacientes com câncer de pulmão, ou seja, é uma taxa extremamente alta.”
Como parar de fumar?
“O cigarro é feito para que a pessoa não consiga parar de fumar e crie dependência química. É extremamente prejudicial”, afirma o oncologista.
Segundo ele, o processo bioquímico que acontece no cérebro no ato de fumar é muito intenso e gera um alívio da ansiedade.
O médico Marcelo Demarzo, especializado em mindfulness explica que “o cérebro possui um sistema de aprendizado baseado em recompensa, ou seja, fazer algo que faça nos sentirmos bem acaba reforçando o comportamento, estimulando para que façamos a mesma coisa mais vezes.”
Ao fumar, a nicotina é fornecida ao cérebro, que se liga em receptores e desencadeiam uma onda de dopamina, um neurotransmissor que provoca bem-estar imediato.
O tratamento é feito com uma equipe multidisciplinar, mas depende muito da iniciativa do paciente. “O paciente precisa de muita persistência, buscar o entendimento que pode ser algo difícil e prolongado”, afirma Carvalho.
O primeiro passo é buscar ajuda profissional. O oncologista informa que, para as pessoas que não puderem buscar clínicas particulares, os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) possuem grupos e procedimentos muito eficazes.
“A gente sabe de algumas pessoas que param sozinhas, dependendo do grau, mas quem fuma com mais frequência é recomendado que ela tenha um apoio nesse momento”, afirma Demarzo.
Segundo ele, uma das estratégias que podem ser utilizadas com bons resultados é a prática de mindfulness ou atenção plena. “Ela é usada na fase de manutenção normalmente, que é o momento em que existe grande risco de recaída. Algumas pesquisas indicam que o mindfulness diminui até 70% a chance de recaída.”
A prática consiste em um treinamento de atenção, em que a pessoa procura ficar mais presente nas atividades do dia a dia, isso diminui o estresse e ajuda a tomar decisões mais conscientes.
“Muitas vezes o que acontece é que a pessoa já está há dois meses sem fumar e aí fuma uma vez em uma festa, por exemplo, isso gera culpa e uma autocrítica muito grande, que faz com que ela se sinta mal e aí volte a fumar. O mindfulness faz você ter uma noção de autocuidado e autocompaixão maior, evitando isso.”
O médico acrescenta que o treinamento amplia a percepção dos efeitos imediatos do cigarro, fazendo com que a pessoa preste mais atenção ao ato de fumar e perceba, por exemplo, a sensação de queimação enquanto inala a fumaça, ou se atente ao gosto e ao cheiro desagradável.
A quarentena, por aumentar o estresse e ansiedade, pode piorar o tratamento de tabagismo nesse momento, afirma Carvalho. Segundo Demarzo, o mindfulness também pode ajudar nesse processo.
“A gente sabe que é importante que tenhamos ferramentas para lidar com o estresse desse período e o mindfulness é uma delas. Muita gente que já conhecia voltou a praticar. Além disso, as pessoas estão revendo seus hábitos e seus valores, muita gente pode fazer essa escolha. Se for uma escolha consciente e não forçada e ela estiver com a motivação, então pode ser o momento sim.”
R7
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