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zikaUma infecção anterior pelo vírus da zika pode deixar um paciente mais vulnerável à versão grave da dengue, apontam pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em estudo publicado nesta quinta-feira (27) pela revista "Science".

Os dois vírus são transmitidos pelo Aedes aegypti, mosquito facilmente encontrado no Brasil. Em dezembro de 2019, 2,6 mil casos suspeitos de pacientes com malformações do zika ainda eram investigados. A doença impactou a gestação de mães infectadas e milhares de bebês nasceram com microcefalia entre 2015 e 2016. No caso da dengue, 840 pessoas morreram devido à infecção no ano passado - mais de 6,4 mil desde 2008.

O estudo da instituição americana observou os dados de dois grupos de crianças no Nicarágua que viveram o auge da pandemia do zika em 2016 no país, e também do surto de dengue em 2019. Os resultados mostraram que anticorpos gerados pelo corpo contra o zika podem interagir com o vírus da dengue negativamente, piorando o quadro. De acordo com os pesquisadores, essa informação precisa ser levada em consideração durante a produção de vacinas contra as doenças.

"O principal ponto que o nosso estudo estabelece é que a infecção anterior do zika aumenta significativamente o risco de formas sintomáticas e mais graves da dengue", disse a autora principal do estudo, Leah Katzelnick, pós-doutoranda da Universidade da Califórnia, na Escola de Saúde Pública de Berkeley.

"A descoberta levanta as seguintes questões: uma vacina direcionada para o zika pode colocar as pessoas em risco de desenvolver a versão grave da dengue? Como é possível desenvolver uma vacina contra o zika que induza apenas 'anticorpos bons' e não induzam a versões prejudiciais de outras doenças?", explicou.

A dengue é causada por quatro tipos de flavivírus - gênero da dengue, zika, chikungunya - que são intimamente relacionados com sintomas e gravidade ligeiramente diferentes. Há uma chance maior de desenvolver a versão mais grave caso a pessoa seja infectada pela segunda vez. Desde 2015, quando o zika foi detectado no Brasil pela primeira vez, os cientistas tentam entender se isso também é possível enter outros "vírus parentes".

Os dados utilizados são resultado de uma coleta que iniciou em 2004, com cerca de 3.800 crianças que foram permanentemente monitoradas em Manágua, capital da Nicarágua.

"O zika ainda é um problema horrível que tem muitas considerações éticas complicadas, em parte devido à forma como as mulheres grávidas são afetadas, assim como os seus filhos", disse Katzelnick.

"Eu realmente espero que os cientistas continuem a trabalhar para encontrar maneiras de desenvolver uma vacina segura, mesmo que seja mais desafiador do que a gente pensava no início".

 

G1/Bem Estar

Foto: Agência Brasilia