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A tuberculose é a principal causa de morte entre as pessoas infectadas pelo HIV. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017 foram registrados dez milhões de novos casos da doença no mundo e 300 mil mortes apenas entre Pessoas Vivendo com HIV/Aids (PVHA). Neste cenário, duas medidas para redução do risco de tuberculose ativa nesta população são de extrema importância: início imediato de Terapia Antirretroviral Combinada (TARc) e Tratamento da Infecção Latente por Tuberculose (ILTB) – condição em que o indivíduo possui a infecção por tuberculose sem qualquer indicio de doença ativa. Um tratamento de ILTB de um mês de duração oferece uma alternativa ao preconizado pela OMS - isoniazida (INH) por seis a nove meses - com potencial para revolucionar a estratégia de prevenção da coinfecção tuberculose/HIV. O estudo, cujos resultados foram publicados recentemente na The New England Journal of Medicine (NEJM), tem como um de seus coautores Rodrigo Escada, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids, no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

A pesquisa, descrita no artigo One Month of Rifapentine plus Isoniazid to Prevent HIV-Related Tuberculosis, foi conduzida no INI e em outros 44 centros de 10 países da África, Ásia, Américas e Caribe, acompanhando três mil voluntários com infecção pelo HIV. Os participantes do estudo foram distribuídos de forma aleatória para receberem rifapentina e INH por quatro semanas ou INH por nove meses e foram monitorados posteriormente ao longo de três anos e três meses, em média. Para Escada, um dos maiores méritos da pesquisa foi demonstrar que a nova estratégia é tão eficiente quanto o tratamento recomendado atualmente pela OMS. “Os pacientes do grupo que usaram o tratamento de curta duração apresentaram menos eventos adversos e uma adesão significativamente maior, de 97% contra 90% no grupo que recebeu INH por 9 meses”, destaca.

Prevenção da Tuberculose e de outras infecções bacterianas

“Nas Pessoas Vivendo com HIV/Aids o risco de contrair tuberculose é até 27 vezes maior que o da população geral. O tratamento da Infecção Latente por Tuberculose não apenas reduz a incidência da doença ativa, mas também o risco de doenças graves relacionadas ao HIV”, explica Escada, destacando em seguida a importância de falar sobre a resistência que existe para a prescrição da Isoniazida para o tratamento da ILTB. “Em 2017, por exemplo, apenas um milhão de PVHA, dos 30 milhões elegíveis para o tratamento da Infecção Latente no mundo, receberam a medicação. A descrença na eficiência do tratamento e o receio da falta de adesão, da toxicidade e da interação com a TARc são as principais causas do baixo índice de prescrição do tratamento de ILTB pelos médicos”, lamenta. Para o pesquisador é estratégica a sensibilização no sentido de adotar o tratamento da Infecção Latente o mais precocemente possível, de preferência no momento do diagnóstico da infecção pelo HIV.

Neste sentido, a aplicação de um questionário desenvolvido pela OMS para o rastreamento de tuberculose ativa já no momento da triagem seria uma medida rápida, simples e resolutiva para descartá-la, dando início imediato à Isoniazida no tratamento da ILTB para pacientes com contagem de linfócitos CD4 (principal indicador do grau de imunodeficiência nas PVHA) menor que 350, mesmo sem evidência de ILTB (com teste negativo ou não testadas), como recomendado pelo Ministério da Saúde. “Caso os pacientes não tenham nenhum dos sintomas de infecção ativa por tuberculose podem receber INH imediatamente. Entretanto, cabe ressaltar que o questionário para o rastreamento de tuberculose ativa deve ser aplicado em toda consulta das PVHA, especialmente naquelas em uso de Isoniazida para o tratamento de ILTB, e a realização do teste não deve ser descartada. É importante que o exame seja realizado anualmente nos pacientes que receberam a INH, caso o resultado tenha sido negativo ou não tenha sido testado e, caso o resultado seja positivo, repetir o tratamento para a Infecção Latente”, alerta o pesquisador.

Próximos passos

O estudo descrito não incluiu gestantes, mulheres em amamentação, crianças menores de 13 anos e pessoas sem infecção pelo HIV entre os voluntários. “Além disso, tivemos poucos pacientes com contagem de células CD4 inferior a 200, que estão sob um risco maior de apresentar formas mais graves deTuberculose. Nesses casos não podemos afirmar, no momento, que o tratamento curto de ILTB avaliado neste protocolo é tão eficaz quanto o preconizado pela OMS nesses perfis, mas novos estudos estão em desenvolvimento”, concluiu.

 

fiocruz