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Não há assunto relativo ao coração que não desperte o interesse das pessoas. Por isso conversei com o médico Cleverson Zukowski, cardiologista intervencionista e supervisor de cardiologia do Hospital Copa D´Or, no Rio de Janeiro. Para quem não sabe, o cardiologista intervencionista é o profissional que realiza procedimentos por cateter, como as angioplastias, enquanto o cirurgião cardíaco faz as operações de peito aberto. Hoje, os avanços da medicina permitem que uma doença como a estenose aórtica, que atinge de 3% a 5% dos idosos, seja corrigida com a implantação de uma válvula por cateterismo.

E o que é a estenose aórtica? O volume de sangue que sai do coração é regulado pela válvula aórtica, responsável por bombear o sangue que vai irrigar o cérebro através das carótidas; o músculo cardíaco através das coronárias; e assim por diante. Acontece que, principalmente devido ao envelhecimento, ela vai se degenerando, perdendo potência e comprometendo o bombeamento. Com o tempo, o quadro pode evoluir para uma insuficiência cardíaca. “Essa é uma doença típica da velhice e que compromete a qualidade de vida do paciente”, afirma o doutor Zukowski. “Apenas 5% apresentem estenose aórtica devido a outros fatores, como uma alteração congênita ou sequelas de uma febre reumática”, completa.

Ele aponta uma tríade de sintomas que, embora não sejam específicos da estenose aórtica, indicam a necessidade de um exame mais aprofundado: dor no peito, cansaço e desmaios. A dor e o cansaço decorrem de esforço físico e os desmaios estão relacionados ao menor fluxo de sangue enviado ao cérebro. O pior é que a situação vai se deteriorando: “com a evolução do problema, os sintomas vão progredindo e o paciente fica cada vez mais limitado em seu dia a dia, além de, com frequência, necessitar de internações”, explica o cardiologista. A dor no peito pode ser confundida com doença coronariana, mas são duas enfermidades distintas. Normalmente um ecocardiograma ajuda a fechar o diagnóstico.

Para quem sofre de estenose aórtica, mesmo atividades simples podem demandar um grande esforço para serem realizadas. Um terço dos pacientes não resistiria ao tratamento convencional da esternotomia, a cirurgia de peito aberto, mais invasiva e às vezes contraindicada para indivíduos de idade avançada. É onde entra em cena a implantação de uma prótese de material biológico (pericárdio de boi ou porco), através de cateterismo, que substitui a válvula aórtica defeituosa – o chamado implante por cateter de bioprótese valvar aórtica. “O procedimento foi realizado pela primeira vez na França, em 2002, e, no Brasil, em 2009. Nesse período, os avanços tecnológicos reduziram o risco da intervenção, com a utilização de cateteres mais finos e válvulas reposicionáveis, que permitem sua colocação no lugar ideal. Antes, não tínhamos nada a oferecer para esses pacientes, que ficavam sem um tratamento efetivo. Muitos conviviam com as limitações como se fossem parte do envelhecimento e depois é como se tivessem suas vidas de volta”, diz o doutor Zukowski.

No entanto, o procedimento não está disponível no SUS, embora haja um projeto de lei já aprovado no Senado, e custa entre R$ 100 mil e R$ 150 mil. Se imaginarmos que até 5% dos idosos desenvolvem a doença, teríamos um universo de 1.5 milhão de pessoas que poderiam se beneficiar do implante e continuar ativas graças a ele. Mesmo os que têm planos de saúde enfrentam a resistência das seguradoras e há inúmeros casos cuja autorização só foi obtida através da justiça.

 

G1