Engana-se quem pensa que o Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é uma doença restrita ao público da terceira idade. É cada vez maior a quantidade de jovens vítimas do AVC, que é o campeão entre as causas de morte no Brasil.
O aumento no acesso ao diagnóstico da doença, o sedentarismo e hábitos alimentares errados estão entre as principais causas dessa mudança no perfil de vítimas.
De acordo com os últimos números divulgados pelo Datasus, o banco de dados do Ministério da Saúde, entre 1998 e 2007, houve um crescimento de 64% nas internações por AVC entre homens com idade de 15 a 34 anos. Entre a população do sexo feminino, com a mesma faixa etária, o aumento registrado foi de 41%.
Aos 16 anos, o estudante Lucas Coelho é um retrato desse aumento. Em 2010 ele estava na igreja com um grupo de amigos quando começou a sentir uma forte dor de cabeça. “Fui para casa andando e, depois, segui para o hospital. Passei dois meses internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e voltei para casa sem falar e sem andar”, relata o jovem, hoje com 19 anos.
Lucas lembra que, desde a infância, já apresentava um histórico de dores de cabeça constante. “Eu tomava remédio para enxaqueca. Mas, na época em que adoeci, senti uma dor insuportável na cabeça. Os médicos achavam que era meningite, pois eu também vomitava bastante”, diz Lucas. Ao fazer o exame, porém, foi diagnosticado que o AVC havia iniciado há dois dias.
O jovem foi submetido às cirurgias e passou quase um ano sem conseguir andar. Desde 2011 ele faz tratamento no Centro Integrado de Reabilitação (Ceir), na zona Sul de Teresina, e já passou por sessões de psicologia e fonoaudiologia.
Atualmente, ele faz fisioterapia e destaca o progresso no tratamento. “Consigo andar sem auxílio de aparelho e voltei a estudar. A força da minha família e de grandes amigos aumentou a minha autoestima e me deu força de vontade para melhorar”, afirma Lucas.
De acordo com Jordano Leite, da equipe de fisioterapeuta do Ceir, pacientes que sofrem AVC precisam de um trabalho especializado, principalmente para recuperar o equilíbrio e a força dos membros inferiores e superiores.
“São três fatores fundamentais para a reabilitação do paciente: vontade, terapia e o apoio da família”, destaca Jordano. O período do tratamento de reabilitação vai depender do grau da lesão causada pelo AVC.
Taxa de mortalidade de AVC no Piauí é superior a 60%
No Piauí, a taxa de mortalidade específica por AVC corresponde a 64,5%, segundo o DataSus. O Estado é o terceiro no ranking que elenca as Unidades Federativas com maior incidência de doenças cerebrovasculares (que incluem, além do AVC, o Acidente Vascular Encefálico).
Apesar dos altos índices, a boa notícia é que a prevenção e o atendimento rápido amenizam as sequelas da doença, entre elas a dificuldade para falar, a perda de movimentos nos braços e nas pernas e até a depressão. Daí a importância do acompanhamento multiprofissional para que as vítimas tenham sucesso na reabilitação.
“Em alguns casos, somente os medicamentos conseguem desobstruir os vasos, mas em outros é necessária a cirurgia. A reabilitação quase sempre é necessária para amenizar as sequelas deixadas pela doença”, destaca o neurocirurgião Benjamim Vale. Sessões de fisioterapia e fonoaudiologia estão entre as que ajudam na recuperação de quem teve um AVC.
Para os médicos, o aumento da incidência de doenças que são fatores de risco para o AVC, a exemplo da hipertensão, diabetes, alcoolismo e obesidade, é apontado com um dos principais motivos para o derrame acometer um número cada vez maior de pessoas, inclusive aqueles com faixa etária inferior a 35 anos.
“O próprio acesso ao diagnóstico da doença melhorou no país nos últimos anos. Além disso, o consumo de drogas, bebidas alcoólicas e cigarro é combinação favorece a ocorrência de AVC”, explica Benjamim Vale.
Segundo ele, entre as mulheres que sofrem de enxaqueca, o uso de pílulas anticoncepcionais sem indicação e acompanhamento médico também pode levar a um AVC.
Atendimento às vítimas deve ser imediato
Existem dois tipos de AVC, o isquêmico e o hemorrágico. Ambos acontecem quando o suprimento sanguíneo é reduzido ou bloqueado, podendo levar à perda súbita da função neurológica e ao aparecimento de lesões cerebrais.
Ações preventivas e o diagnóstico precoce podem fazer toda a diferença no que diz respeito à ocorrência do Acidente.
A vítima que é atendida em até quatro horas após os primeiros sintomas de um derrame cerebral, por exemplo, tem as chances de sobrevida sem sequelas aumentadas em até 30%. “Trata-se de uma emergência médica.
“O ideal é que o paciente que teve um AVC seja atendido em até seis horas após o início dos sintomas”, enfatiza Benjamim.
Acompanhamento médico regular e controle dos fatores de risco modificáveis (sedentarismo, hipertensão arterial, diabetes, alcoolismo e tabagismo) são algumas das ações que podem ajudar a evitar o AVC.
Realizar atividades físicas com frequência e seguir uma dieta balanceada - com a redução de comidas com sal, açúcar e gordura – são outras ações eficazes de prevenção.
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