A Embrapa promete colocar no mercado em até cinco anos uma alface transgênica com concentração 15 vezes maior de folato. Em fase de estudos de biossegurança, a hortaliça, com apenas 12 gramas, poderá suprir 70% da necessidade diária de ácido fólico, cuja ausência no organismo pode causar de depressão a problemas na gravidez.
O projeto, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, desenvolveu uma alface crespa com genes da planta Arabidopsis thaliana, primeira espécie a ter o genoma completamente sequenciado.
Após serem realizados os testes, a comercialização dependerá da liberação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O pesquisador Francisco Aragão, que coordena a pesquisa, afirma:
— A principal função desta alface será servir como alternativa para obtenção de ácido fólico sem necessidade de ingestão de medicamentos.
Segundo ele, a ideia é exercer o mesmo tipo de função que o espinafre possui na Europa — no País, a erva consumida é produzida na Nova Zelândia e possui baixa concentração de folato.
— Futuramente, será possível inserir este gene para a criação de outras espécies transgênica de alface.
Nos homens adultos, é indicada a ingestão de cerca de 200 microgramas por dia, enquanto que para as mulheres a recomendação é de 180 microgramas.
Para complementar a alimentação, há quase uma década a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que o ácido fólico seja acrescentado à farinha industrializada. A medida inclui 150 miligramas de ácido sintetizado a cada 100 gramas das farinhas de trigo, milho e, recentemente, também de mandioca.
Alguns especialistas da área de saúde suspeitam, porém, que a medida é pouco eficiente em alguns estados com menos recursos, onde o consumo de farinha é majoritariamente de origem artesanal.
Na gravidez
Segundo o médico Eduardo Fonseca, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), estudos mostram que o consumo adequado de ácido fólico por gestantes reduz em até 80% os casos de má formação do tubo neural de bebês — que implicam em anomalias permanentes como espinha bífida e anencefalia. Na gravidez, a dose diária recomendada dobra para 400 microgramas.
— Temos um estudo que mostra que só 13,8% das mulheres tomam suplemento de ácido fólico antes de engravidar. Além disso, a prevenção ocorre de maneira desigual, pois no sistema público este número cai para 3,8%.
O suplemento deve ser tomado até 1 mês antes e durante os primeiros três meses de gestação. Outros estudos mostram que o ácido fólico ajuda a prevenir fissura labiopalatal (lábio leporino), além de evitar casos de depressão em jovens e adultos.
Estadão Conteúdo