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Um casal que se diz enganado por uma clínica de fertilidade na Nigéria recebeu da Justiça britânica a custódia da criança que eles descobriram não ser sua filha biológica. Segundo um juiz britânico, o caso parece ser um entre vários, envolvendo pais "desesperados para ter filhos" que podem ter sido vítimas de um golpe de falsas gestações e venda de bebês. O casal nigeriano radicado em Londres identificado como Sr. e Sra. S. diz ter pago R$ 18 mil (6 mil libras) para ser submetido a um tratamento de fertilidade em uma clínica em Porto Harcourt, na Nigéria, em 2009. A mulher, hoje com 50 anos, alega que um médico da clínica ministrou nela "injeções, pastilhas e cápsulas".

 

Meses depois, a Sra. S disse ter começado a sentir o que achou serem sintomas da sua gravidez, como inchaço abdominal.

 

Segundo o jornal britânico The Telegraph, ela fez um ultrassom na Grã-Bretanha que não detectou nenhum batimento cardíaco de bebê. Mas o médico na Nigéria havia dito a ela que isso não era incomum.

 

O "parto" foi na Nigéria, em janeiro de 2011. A Sra. S disse ter sido medicada com sedativos e recebido um bebê "ensanguentado".

 

Mas, meses depois, o casal começou a desconfiar que a criança não era sua filha biológica — suspeita confirmada por um exame de DNA.

 

'Fábricas de bebês'

O juiz britânico encarregado do caso cita uma reportagem de 2011 do jornal nigeriano Port Harcourt Vanguard, com a manchete: "Fábricas de bebês: Como gestações e partos são forjados". A reportagem diz que as clínicas usam "meios ilícitos" para obter bebês para casais que sonham em ter filhos. Suspeita-se que os bebês sejam comprados ou roubados.

 

Na clínica, segundo o jornal, são ministradas substâncias que "formam uma espécie de tumor no útero", dando à mulher a impressão de que ela está grávida. Outro medicamento é usado para dar a impressão de a mulher estar em trabalho de parto. Um bebê então é trazido.

 

"A partir dessa reportagem, não há dúvidas de que essa história insólita é real e que a prática é comum em algumas partes da Nigéria", diz um comunicado da Justiça britânica. O texto agrega que o caso é "preocupante", principalmente "pela falta de interesse por parte das autoridades nigerianas".

 

'Poder da oração'

A Justiça diz que o casal enganado é membro de uma igreja carismática e tem "muita fé e crença no poder da oração".

 

"A mulher estava imersa em um ambiente religioso cristão onde milagres não são vistos como algo impossível", diz o texto. "Todas as ações da mãe, tanto na Grã-Bretanha como na Nigéria, são consistentes com as evidências de que ela não tinha ideia de que estaria envolvida nesse golpe, criado para colocar crianças não desejadas nos braços de pais desesperados e sem filhos."

 

O bebê que o casal descobriu não ser sua filha biológica hoje tem quase dois anos. Inicialmente, ela foi levada para pais adotivos. Mas a Justiça decidiu devolvê-la à custódia do casal enganado. "O mais importante é colocar a criança em um lar final", diz a Justiça. "Até onde sabemos, ela não tem conexão com ninguém neste país (Grã-Bretanha) ou mesmo neste mundo."

 

E, segundo o juiz, há outros casos semelhantes a esse, "com fatos quase idênticos".

 

BBC Brasil