Quase 30 anos após a descoberta de uma ligação entre o consumo de álcool e alguns tipos de tumores, como o de esôfago, cientistas da Universidade de Minnesota, nos EUA, relatam a primeira evidência em humanos de que essas bebidas podem mesmo ser cancerígenas.
Os resultados foram apresentados esta semana no 244º Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química. Segundo a autora Silvia Balbo, que liderou o trabalho, o corpo humano metaboliza – ou seja, quebra – as moléculas de álcool contidas em cervejas, vinhos e destilados.
Uma das substâncias formadas nessa ruptura é o acetaldeído, que tem estrutura semelhante ao formaldeído, um conhecido composto carcinogênico, relacionado a tumores nos pulmões, nariz, cérebro e sangue (leucemia).
Por meio de experimentos em laboratório com voluntários, os pesquisadores observaram que o acetaldeído pode danificar o DNA, causando alterações cromossômicas e agindo como um agente cancerígeno.
Para testar a hipótese, os autores deram para dez pessoas doses crescentes de vodka (uma, duas e três), uma vez por semana, durante três semanas. Eles descobriram que, horas após a ingestão de álcool, os níveis de um marcador biológico do DNA aumentavam até 100 vezes nas células orais dos indivíduos, e diminuíam depois de 24 horas. O mesmo efeito foi observado nas células sanguíneas.
De acordo com Silvia, a maioria das pessoas tem um mecanismo de reparo natural altamente eficaz para corrigir falhas no DNA – uma enzima chamada desidrogenase converte o acetaldeído em acetato, substância relativamente inofensiva –, mas algumas são mais suscetíveis a terem problemas.
Entre esse grupo, estão 30% ou 1,6 bilhão de pessoas de origem asiática que não têm essa enzima. Além dos orientais, americanos (incluindo nativos do Alasca) apresentam uma deficiência na produção da desidrogenase.
Os cientistas dizem, no entanto, que a maior parte dos indivíduos não desenvolverá câncer por beber socialmente, mas é importante lembrar que o álcool traz outros problemas de saúde – ao fígado, cérebro e outros órgãos – e aumenta os riscos de acidentes no trânsito.
G1