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bebetransplanteUma equipe médica do Hospital Oftalmológico de Anápolis (HOA) fez um transplante de córneas em um bebê de cinco meses, filho de uma mulher que usou crack durante a gestação. O procedimento é considerado raro e, segundo especialistas, não foram encontrados registros sobre o caso na literatura médica mundial.



Duas coisas chamam a atenção para esse caso, o fato de as duas córneas terem sido substituídas ao mesmo tempo e a pouca idade do paciente.



De acordo com o oftalmologista responsável pelo transplante, André Pena Corrêa Bittencourt, aos quatro meses, a criança foi diagnosticada com leucoma corneano, que é uma opacidade nas córneas. Um mês depois ela foi submetida a uma cirurgia de transplante de córnea bilateral, quando as duas córneas são transplantadas ao mesmo tempo.



O caso é muito raro, acredita a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria (Soblec), Tânia Schaefer, que é de Curitiba - PR. “Não tenho conhecimento de que esse procedimento já tenha sido realizado antes”, disse, em entrevista.



O oftalmologista com subespecialização em cirurgia de córnea, Arthur Schaefer também garante nunca ter visto registro de transplante bilateral nessa circunstância no mundo. “Pelo que eu já observei, não há relatos de trabalhos científicos ou publicação em revista sobre um caso assim no mundo. Possivelmente, esse é o primeiro e, provavelmente deverá ser publicado”, observa. Para o especialista, a conduta dos médicos em relação ao bebê foi assertiva.



Segundo André Bittencourt, a opção de fazer a operação nos dois olhos durante a mesma cirurgia teve a finalidade de reduzir riscos para o paciente. Normalmente, o procedimento é feito primeiro em um olho e depois de um tempo de recuperação, no outro. Assim como os outros especialistas consultados, Bittencourt afirmou não ter encontrado registros médicos sobre essa dupla intervenção em um paciente tão pequeno.



Recuperação

Três meses após a operação, a criança que agora está com oito meses, começa a apresentar os primeiros sinais de recuperação. "Antes, o bebê ficava sempre com os olhos fechados, não piscava. Agora, ele já abre o olho e já pisca, mas ainda não é possível quantificar o quanto de visão ele tem. O que estamos fazendo agora é tentar evitar que ele perca a visão", afirma Bittencourt. O médico disse ainda que houve também uma melhora no aspecto social da criança, que antes se irritava com frequência e chorava com facilidade.



Segundo o médico, o leucoma pode ter surgido em consequência ao histórico de saúde da mãe da criança, que usou crack durante a gravidez. Apesar do otimismo em relação ao caso, André Bittencourt faz um alerta sobre os riscos das drogas. “O uso de drogas como crack e cocaína por gestantes favorece também o surgimento de outras doenças, como infecções congênitas, desnutrição e até problemas psicológicos que podem influenciar o desenvolvimento da criança”, diz Bittencourt.



A mãe da criança também tem outro filho. Ela confessa que os dois foram gerados em meio a uma vida tumultuada por causa do vício. “Eu não sabia que iria fazer tanto mal para ele”, disse, em entrevista à TV Anhanguera.



Uso de drogas

Ainda é cedo para saber quais serão os reflexos da droga na vida da criança e quanto da visão ele vai recuperar. Enquanto isso não acontece, o bebê depende dos cuidados de uma vizinha, que ajudou a mãe a conseguir o transplante, feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ela prefere não ser identificada, mas foi quem buscou ajuda dos médicos para que a criança voltasse a enxergar. “Eu pensava se o bebezinho nunca iria ver e isso me comoveu muito. Essa foi à única maneira que eu encontrei de ajudar”, conta.



Para o diretor-técnico do HOA, o médico oftalmologista Augusto Pereira, a única certeza é de que dessas mães, o crack arranca tudo, até o instinto de proteção. “Precisamos arregimentar forças e nos unir para lutar contra isso (o crack). Você já imaginou vencer o sentimento de amor de uma mãe por um filho, que é provavelmente o sentimento mais poderoso que nós, seres humanos, conhecemos”, ressalta.




G1