Equipamento de segurança obrigatório para quem anda de moto, o capacete em más condições de uso pode causar doenças respiratórias e da pele, como micoses e caspas. “Se você usar um que esteja muito suado, você pode ter algum processo infeccioso e até pegar piolho”, alerta Alessandro Mondelli, microbiologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Foi o que aconteceu com a mãe da esteticista Amanda Carla Pingueiro, de 22 anos. "Depois que ela teve piolho, decidi comprar um capacete porque fiquei com medo de pegar também. Já andei muito de mototáxi e a maioria dos capacetes cheiram mal devido ao suor misturado com os diversos odores de perfumes de produtos de limpeza", relata.
Outro que reclama do incômodo é o segurança Márcio Oliveira, de 28 anos. Ele diz que utiliza o meio de transporte de vez em quando, justamente porque já conhece bem as condições. "Acho importantíssimo o uso do capacete para a segurança, mas o fato que não me agradou foi o mau cheiro de cigarro", diz. "Realmente não dá para aguentar, é chato demais", concorda o estudante Alex Ferreira, de 17 anos.
O especialista da Unesp explica que fungos, bactérias e outros microorganismos têm maior sobrevida e predisposição de proliferação em ambientes escuros e úmidos. Devido a um certo calor provocado pelo corpo, o forro do capacete torna-se abrigo ideal para esses germes.
O infectologista Paulo Olzon Monteiro da Silva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) afirma que o ideal seria que cada pessoa tivesse o seu próprio capacete para evitar riscos. Além da eventual transmissão de micose, diz, há riscos de se contrair gripe, resfriado, catapora, meningite, entre outros males.
“Se a pessoa não limpa bem o capacete e deixa alguma secreção, quem vai usar depois pode entrar em contato com a substância e vir a contrair essas doenças respiratórias”, explica o infectologista.
Limpeza e manutenção
Higienizar o capacete diariamente é uma maneira de minimizar a ação de fungos e bactérias, mas a prática requer tempo e disciplina, segundo o microbiologista Alessandro Mondelli.
Mototaxista há cinco anos, Fabiano Campezan, de 41 anos, diz que a limpeza do acessório é uma das suas preocupações diárias. “Chego em casa no fim do dia, pego buchinha com álcool e limpo o capacete do passageiro e o meu. Coloco para secar e deixo a noite inteira tomando ar. Desta maneira evito mau cheiro, até hoje ninguém reclamou”, conta.
O goiano Gerson Félix, de 54 anos, trabalha como mototáxi desde 2005. Para higienizar o equipamento de segurança, utiliza um produto especial comprado na farmácia. “Passo duas vezes por semana e deixo no sol por 20 minutos”, explica o motociclista. Ele afirma já ter oferecido a touca descartável aos clientes, mas muitos recusam.
Apesar dos modos distintos de limpeza, o ideal é deixar o capacete no sol diariamente por até três horas, orienta o microbiologista. “Utilizar um pano com álcool a 70% no forro interno mata as bactérias e elimina a maioria dos patógenos. Água sanitária também ajuda, mas o problema é o cheiro. Essa é uma possibilidade para eliminar principalmente os vírus, que têm um tempo de vida diferenciado”, ressalta.
Touca descartável
O uso opcional da touca descartável sob o capacete pode se tornar uma exigência em Araraquara. A administração municipal promete discutir, entre outras necessidades, a obrigatoriedade do acessório.
Se virar lei, os mototaxistas serão obrigados a ter o produto disponível para os usuários. Eles ainda deverão informar que o fornecimento da touca é uma questão de higiene e de prevenção contra qualquer tipo de doença capilar.
“Há profissionais que já ofereceram o acessório e disseram ter ficado um pouco constrangidos, porque tem passageiro que se ofende. Acha que o motociclista está querendo proteger o capacete, quando na verdade é o contrário”, relata Adriano Parreira, de 38 anos, um dos instrutores do curso de qualificação para a categoria que será ministrado no Sest/Senat em Araraquara nos próximos dias.