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Você sente tontura ao se levantar, tem o coração acelerado mesmo em repouso ou desmaia com certa frequência? Esses sintomas, que costumam ser atribuídos à uma crise de ansiedade ou até à depressão, podem ter outra origem: uma condição ainda pouco conhecida chamada disautonomia.

Segundo a psicóloga Adriana de Araújo, essa disfunção do sistema nervoso autônomo afeta funções básicas do corpo que deveriam acontecer automaticamente — como os batimentos cardíacos, a respiração, a digestão e a regulação da temperatura.

“O corpo começa a falhar sem aviso, e quem sofre com isso sente os efeitos de maneira intensa e incapacitante”, explica a especialista. O problema é que, como os exames convencionais muitas vezes não detectam alterações claras, esses sintomas acabam sendo confundidos com causas emocionais.

O que é disautonomia e como ela afeta o corpo? A disautonomia é uma disfunção do sistema nervoso autônomo — o mesmo que comanda todas as funções automáticas do nosso organismo, como batimentos cardíacos, pressão arterial, digestão, respiração, sudorese, temperatura corporal e até o funcionamento da bexiga e das pupilas.

“É como se o sistema de ‘piloto automático’ do corpo começasse a falhar. O coração pode acelerar mesmo em repouso, a pressão oscila, a pessoa pode suar frio sem razão aparente ou até desmaiar após uma refeição ou um banho quente”, explica Adriana.

A grande dificuldade é que, apesar desses sintomas físicos, os exames tradicionais muitas vezes não detectam nenhuma anormalidade. “É aí que começa a confusão: os sintomas se parecem muito com questões emocionais, como ansiedade ou depressão, mas têm origem fisiológica. Muitos pacientes acabam sendo diagnosticados erroneamente e recebem tratamentos que não resolvem e podem até piorar o quadro”, alerta a especialista.

Sintomas comuns da disautonomia Os sintomas da disautonomia variam bastante de pessoa para pessoa, mas alguns sinais são frequentes:

Tontura ao ficar em pé Taquicardia (coração acelerado) Sensação de desmaio ou mal-estar extremo Fadiga intensa Enjoo e distúrbios gastrointestinais Visão turva e confusão mental Dificuldade para respirar mesmo em repouso Sudorese irregular “Alguns pacientes descrevem que se sentem como se estivessem bêbados, mesmo sem ter consumido álcool. É como viver com um corpo imprevisível, que pode falhar a qualquer momento. Isso afeta desde a autonomia até a autoestima”, conta Adriana.

Na prática, isso significa que a pessoa evita situações cotidianas, como pegar um transporte público lotado, ficar de pé em reuniões de trabalho ou frequentar ambientes quentes e cheios. “A pessoa passa a moldar a rotina com medo de passar mal, o que pode gerar isolamento e impacto emocional significativo”, diz.

Por que a disautonomia demora a ser diagnosticada? Um dos grandes desafios da disautonomia é que a maioria dos profissionais de saúde ainda não está preparada para reconhecê-la. “Infelizmente, essa condição ainda é invisível na formação médica e de outras áreas da saúde. Como os exames não mostram alterações claras, muitos pacientes são tratados como se tivessem apenas ansiedade ou outro transtorno emocional”, explica Adriana.

Ela destaca que não há problema em oferecer apoio emocional ao paciente, mas o erro acontece quando se ignora a causa física da disautonomia. “O paciente precisa de suporte médico específico. A psicoterapia ajuda a lidar com o impacto emocional, mas não resolve a causa fisiológica do problema”, afirma.

Essa dificuldade de diagnóstico faz com que muitos pacientes passem anos em busca de respostas. “Conheço um caso em que a pessoa passou por 80 médicos, ao longo de 8 anos, até receber o diagnóstico correto. E, com o tratamento certo, teve excelente melhora”, relata.

A disautonomia pode ser confundida com várias outras condições, como síndrome do pânico, fibromialgia, epilepsia, labirintite, síndrome do intestino irritável e até hipoglicemia. A falta de protocolos específicos e a ausência de atenção na rede básica de saúde só agravam o problema.

Impacto na qualidade de vida e possibilidades de tratamento O impacto da disautonomia na vida das pessoas pode ser devastador. “Muitos pacientes abandonam estudos, perdem o emprego, relacionamentos e a capacidade de realizar tarefas simples, como subir escadas ou ficar de pé”, descreve Adriana.

Apesar disso, o tratamento é possível e costuma apresentar bons resultados, mas precisa ser multidisciplinar. “Cada paciente pode precisar de medicações específicas, ajustes alimentares, fisioterapia, exercícios adaptados, psicoterapia, entre outras estratégias. Não existe uma cura única, mas com o plano certo, é possível ter alívio e retomar a vida com qualidade”, afirma a psicóloga.

Um livro gratuito para dar voz a quem sofre com a disautonomia Para dar visibilidade à condição, Adriana de Araújo reuniu mais de 50 especialistas de saúde e lançou, de forma gratuita, um livro completo sobre disautonomia. “Esse projeto nasceu da escuta. Vi que muitos pacientes sofriam com sintomas que não se encaixavam apenas em transtornos emocionais. Decidimos dar voz a quem foi silenciado por tanto tempo”, afirma.

O livro conta com mais de 800 páginas, reúne médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e até advogados e arquitetos, além de relatos de pacientes. Tudo foi feito de forma voluntária e o acesso é gratuito.

“Talvez muitas pessoas que hoje buscam ajuda para ansiedade estejam, na verdade, sofrendo com disautonomia sem saber. E esperamos que esse livro também ajude profissionais da saúde a verem além do que os exames mostram”, destaca Adriana.

O projeto também teve um significado pessoal: “Durante a produção, percebi que meu pai, um médico brilhante, pode ter falecido sem diagnóstico adequado de disautonomia. Não posso afirmar com certeza, mas acredito que, se tivesse sido diagnosticado, ele teria sofrido menos”, revela.

O objetivo é claro: reduzir o sofrimento de milhares de pessoas que, hoje, enfrentam a disautonomia no escuro. “Com informação e cuidado adequado, o bem-estar é possível”, conclui Adriana.

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