Você já ouviu falar que o intestino é o “segundo cérebro”? Pois um novo estudo mostra que essa expressão faz ainda mais sentido do que imaginávamos. Pesquisadores descobriram que alterações no sistema digestivo podem dar sinais de alerta para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, até 15 anos antes do diagnóstico neurológico.
A pesquisa, publicada na revista Science Advances, reforça a importância de cuidarmos da saúde intestinal e metabólica. Afinal, nossa microbiota, conjunto de bactérias que vivem no intestino, conversa o tempo todo com o cérebro através do chamado eixo intestino-cérebro, uma rede de comunicação direta entre digestão e sistema nervoso central.
O estudo mais completo já feito sobre o tema Para chegar a essas conclusões, os cientistas analisaram dados clínicos, genéticos e bioquímicos de centenas de milhares de pessoas em biobancos internacionais, como o UK Biobank e o FinnGen. Essa foi a maior pesquisa já realizada sobre a conexão entre intestino e doenças neurodegenerativas.
Os resultados revelaram que condições digestivas e metabólicas comuns — como gastrite, refluxo, diabetes e até deficiência de vitamina D — estão diretamente associadas ao risco de Alzheimer no futuro.
O papel do diagnóstico precoce Hoje, o Alzheimer ainda não tem cura, mas existem medicamentos capazes de retardar a progressão da doença. Por isso, reconhecer esses sinais precoces é tão importante: quanto mais cedo o tratamento começar, mais difícil será a evolução para estágios graves.
Curiosamente, o estudo também encontrou algo inesperado: pessoas com diagnóstico de hemorroidas tinham menor risco de Alzheimer. Os cientistas acreditam que isso pode ter relação com um “viés de sobrevivência”, já que condições graves associadas às hemorroidas podem reduzir a expectativa de vida e, assim, diminuir a chance de a pessoa viver tempo suficiente para desenvolver Alzheimer.
Genética não é tudo, o estilo de vida pesa mais Outro achado surpreendente foi que, em pessoas com distúrbios digestivos ou metabólicos, a genética teve menos peso no risco de desenvolver Alzheimer ou Parkinson. Isso significa que, nesses casos, fatores ambientais e de estilo de vida parecem ter uma influência maior do que a herança genética.
Mesmo que a genética conte, nossas escolhas diárias — como alimentação, prática de exercícios e cuidados com a saúde intestinal — podem ser determinantes para evitar essas doenças.
O futuro da prevenção: modelos preditivos O grande avanço do estudo foi a criação de um modelo preditivo multimodal, que reúne dados clínicos, genéticos, bioquímicos e demográficos. Esse modelo atingiu uma precisão muito alta (AUC 0,90) para prever Alzheimer, mostrando que a ciência está cada vez mais próxima de detectar a doença em estágios muito iniciais, antes de qualquer perda cognitiva.
Entre os biomarcadores mais importantes identificados estão proteínas ligadas a danos neuronais, como a proteína ácida fibrilar glial (GFAP) e a cadeia leve do neurofilamento (NFL). Isso reforça a robustez biológica do modelo.
O estudo deixa claro que o Alzheimer não começa no cérebro, mas pode dar sinais muito antes no nosso intestino e metabolismo. Mais do que genética, nosso estilo de vida e a forma como cuidamos da saúde digestiva desempenham um papel crucial.
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