A poluição do ar está comprometendo nossa saúde cerebral de formas surpreendentes. Além dos conhecidos danos aos pulmões e ao coração, partículas tóxicas presentes no ar poluído podem atingir o cérebro, afetando memória, raciocínio e capacidade de comunicação.

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Todos os dias, sem perceber, inalamos uma mistura invisível de substâncias tóxicas que pode estar afetando muito mais do que nossos pulmões. O problema é particularmente preocupante para quem vive em grandes cidades, onde os níveis de poluição frequentemente ultrapassam os limites considerados seguros.

O estudo revela que não é apenas o fato de o ar estar poluído que importa, mas também de onde vêm essas substâncias nocivas. Emissões industriais e a queima de combustíveis em residências – como gás natural, carvão e biomassa – mostraram ter efeitos particularmente preocupantes sobre a capacidade cerebral.

O perigo invisível no ar que respirarmos Sabemos que o envelhecimento naturalmente afeta nossas capacidades mentais, mas a poluição do ar parece estar acelerando esse processo.

Os pesquisadores estimam que a exposição prolongada a ar poluído contribui para 2,6% dos casos de demência – um número maior do que o impacto causado por fatores como pressão alta ou falta de exercícios físicos.

Entre os poluentes mais perigosos estão o dióxido de nitrogênio (NO₂), comum em áreas com muito tráfego de veículos, e as minúsculas partículas conhecidas como PM2.5, tão pequenas que podem penetrar profundamente em nossos pulmões e até mesmo alcançar a corrente sanguínea.

O que muitas pessoas não sabem é que esses poluentes não são todos iguais – sua composição varia dependendo da fonte.

A poluição do tráfego, por exemplo, contém mais fuligem e nitratos, enquanto a que vem da agricultura tem maior concentração de amônio. Nos Estados Unidos, pesquisas já mostraram que casos de demência estão especialmente ligados à poluição causada por atividades agrícolas e queimadas florestais.

Uma década de descobertas Para entender melhor esses efeitos, cientistas analisaram dados do English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), acompanhando um grupo de pessoas com idade média de 65 anos entre 2008 e 2017. Eles mediram não apenas os níveis gerais de poluição, mas também identificaram as fontes específicas desses poluentes.

Os resultados foram preocupantes. Mesmo com a queda gradual nos níveis de poluição ao longo dos anos – o NO₂ diminuiu de 28 para 21 microgramas por metro cúbico, e o PM2.5 caiu de 13,5 para 10,3 no mesmo período -, os efeitos acumulativos no cérebro foram significativos.

As pessoas expostas a níveis mais altos de poluição apresentaram pior desempenho em testes cognitivos, especialmente em áreas urbanas onde a concentração de poluentes é maior. A memória e a capacidade de raciocínio foram afetadas, mas o impacto mais forte e consistente foi na habilidade linguística.

Por que a linguagem é tão afetada? O estudo mostrou que a poluição proveniente de atividades industriais e da queima de combustíveis em residências está particularmente ligada a problemas com a linguagem.

Os pesquisadores acreditam que isso pode indicar danos específicos ao lobo temporal do cérebro, região crucial para o processamento da fala e da compreensão.

Isso significa que, além dos já conhecidos problemas respiratórios, respirar ar poluído pode estar dificultando nossa capacidade de nos comunicarmos claramente, de entender o que lemos e ouvimos, e de expressarmos nossos pensamentos.

Um alerta para todos nós O dado mais alarmante da pesquisa é que todos os participantes estavam expostos a níveis de poluição acima do que a Organização Mundial da Saúde considera seguro. Isso mostra que o problema não está limitado a áreas extremamente poluídas – é uma ameaça generalizada que precisa da nossa atenção.

A boa notícia é que o estudo também aponta caminhos para a solução. Reduzir as emissões industriais, melhorar o transporte público para diminuir a dependência de carros particulares e investir em áreas verdes urbanas são medidas que podem fazer diferença.

Enquanto políticas públicas mais eficientes não são implementadas, podemos tomar algumas precauções individuais, como usar aplicativos que monitoram a qualidade do ar e evitar exercícios ao ar livre nos dias mais poluídos.

Protegendo nossa saúde mental Esta pesquisa reforça a ideia de que cuidar do meio ambiente é também cuidar da nossa saúde mental. A poluição do ar não afeta apenas nossos pulmões – está minando lentamente nossas capacidades cognitivas, especialmente à medida que envelhecemos.

Será que a DIETA DO OVO é uma BOA IDEIA ou é FURADA? As descobertas servem como um alerta urgente para governos, empresas e cidadãos. Precisamos agir agora para garantir que o ar que respiramos hoje não comprometa a clareza de nossos pensamentos amanhã. Afinal, proteger o meio ambiente pode ser uma das melhores formas de protegermos também nossas mentes.

Saúde Lab

Foto: Canva PRO