Quando falamos sobre sintomas de ansiedade, os mais citados costumam ser palpitação, insônia, inquietação, tensão muscular e excesso de preocupação. Todavia, há alguns sinais menos comentados que, apesar de serem associados a outros quadros, muitas vezes podem ser indicativos de um transtorno ansioso.
Pensando nisso, entrevistamos Nina Ferreira, médica psiquiatra referência em neurociência, que explica quais sintomas são esses (e por que eles podem revelar a presença de ansiedade). Confira:
- Tudo te incomoda Sabe aquelas pessoas que parecem sempre estar com os nervos à flor da pele, irritadas com tudo? Para Nina Ferreira, esse comportamento costuma ser um sinal de transtorno ansioso.
“Elas explodem facilmente, não têm paciência. Barulhos pequenos, aglomerações, muitas tarefas para fazer ao mesmo tempo. Tudo isso irrita o indivíduo profundamente”, diz.
- Sensação de cansaço constante Nina explica que, normalmente, as pessoas costumam associar o cansaço físico e mental constante à depressão. Porém, a ansiedade, quando patológica, também gera uma sensação de extrema exaustão, visto que há um gasto expressivo de energia com preocupações e pensamentos tanto obsessivos como invasivos.
- Dificuldades de aprendizado e memorização A ansiedade, segundo a psiquiatra, também afeta a nossa capacidade de focar, memorizar e absorver aprendizados. “Inclusive, o transtorno ansioso é, na modernidade, a principal causa de desatenção entre a população”, pontua.
E por que isso acontece? Para Nina, o excesso de estímulos no cérebro faz com que não consigamos direcionar a atenção. “A mente ansiosa sempre estará pensando no que virá a seguir, esquecendo o agora.”
Sem atenção, não conseguimos gravar informações e, automaticamente, reduzimos a capacidade de nossa memória. “Se você não consegue prestar atenção em algo, não será capaz de memorizar.”
- Sentimento de incompetência Nina revela que pessoas com ansiedade tendem a sentir que não conseguirão lidar com os problemas. “Elas sentem que as adversidades são grandes demais, e que ela não possui habilidades o suficiente para manejar suas questões”, diz.
- Alterações na pele A pele e o couro cabeludo também sofrem os impactos da ansiedade. “Coceira, que chamamos de prurido, hematomas, queda de cabelo, unhas fracas. Todos esses sinais podem indicar a presença de uma ansiedade patológica”, afirma.
- Baixa autoestima Aqui, a baixa autoestima e a ansiedade se alimentam em um ciclo vicioso. “Quando a pessoa tem um conceito ruim ou deficitário sobre si mesma, ela necessariamente se sentirá mais ansiosa, pois terá a impressão de que não tem forças, habilidades e competência para lidar com os desafios da vida”, diz.
Sem as habilidades necessárias para conseguir driblar os problemas do dia a dia, nos sentimos automaticamente mais vulneráveis. “O cérebro entende a vulnerabilidade como estar em risco constante, perigo, medo. Ou seja, iremos experimentar níveis maiores de ansiedade”, esclarece.
Sendo assim, uma autoestima fragilizada definitivamente elevará o nosso estado ansioso. Quanto mais ansiosos ficamos, maiores são os impactos na percepção que temos acerca de quem somos.
- Despersonalização A psiquiatra explica que a despersonalização pode ser um sintoma de ansiedade (apesar de que, em alguns cenários, pode ocorrer por vários outros fatores e gatilhos).
“A despersonalização é um fenômeno de estranhamento de si mesmo, um não reconhecimento de si. Sem dúvidas, é um sinal de sofrimento emocional intenso”, pontua.
“Às vezes, pode acontecer até mesmo em pessoas sem diagnóstico psiquiátrico e em pessoas que estão em tratamento ou que têm um diagnóstico fechado. Ela é um evento por si própria que, eventualmente, pode ocorrer também nos quadros de ansiedade”, complementa.
Durante as crises de despersonalização, as pessoas tendem a não se reconhecer. “É como se nos olhássemos no espelho e não soubéssemos quem de fato está ali. É pensar em si mesmo e não se identificar. Classificaria como essa coisa nublada em relação à própria identidade”, diz.
Tratamento para ansiedade Vale lembrar que, antes de sair procurando tratamentos médicos, devemos entender que a ansiedade por si só é uma emoção como qualquer outra. “Ela pode estar presente em diversos momentos, por vários fatores desencadeantes. É comum”, explica.
Agora, quando existe um sofrimento persistente no dia a dia por conta de episódios ansiosos, é necessário buscar ajuda profissional. “O tratamento sempre indicado num quadro patológico, sem dúvidas, é a psicoterapia, principalmente a terapia cognitivo-comportamental. Dependendo do nível e tipo de ansiedade, e do prejuízo que ela causa, pode ocorrer a indicação de tratamento medicamentoso associado”, conclui.
Claudia
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