A investigação sobre possíveis intoxicações causadas por bebidas adulteradas em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, chamou levantou dúvidas da população quanto aos riscos do consumo de produtos falsificados. Consultado pelo R7, um professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) é direto ao afirmar que a falsificação pode produzir substâncias tóxicas à saúde humana, capazes de provocar problemas renais, cegueira e a morte do consumidor.
A avaliação é feita pelo doutor em química Ridinei Augusti, autor de pesquisa sobre a falsificação de uísque, bebida que está na mira dos investigadores em Betim. "Quando o falsificador produz a própria bebida, ele não segue nenhum controle e não analisa a qualidade do produto obtido. É brutal a diferença entre a produção legal e a vinda da falsificação", alerta.
O professor da UFMG explica que um dos problemas que pode ser causado pela falsificação acontece durante a fermentação. Uma etapa inicial no preparo da bebida alcoólica. Segundo ele, quando esta fase é executada sem controle de qualidade, ela acaba produzindo metal, um álcool tóxico.
"O metanol é muito utilizado em produtos químicos, como combustível nos Estados Unidos e no Canadá e como solvente para indústrias", explica. "O organismo humano não consegue quebrar bem esse tipo de álcool", completa.
O especialista explica que a intoxicação com este produto pode provocar problemas renais, de fígado, vômito, além de dores abdominais e de cabeça. Os sintomas são os mesmos relatados pelos pacientes que estão com quadros em investigação em Betim após relato de possível intoxicação. A exceção é a cegueira provisória ou permanente que, até o momento, não entrou na lista de sintomas divulgada pelo poder público.
Analisando os dados do caso divulgados até o momento a pedido do R7, Augusti acredita que a intoxicação, se causada por bebida adulterada, pode ter relação com a contaminação por metanol.
"Na minha avaliação, acredito que o falsificador fermentou um vegetal sem controle, gerando metanol. Em seguida, ele deve ter destilado, produzindo um líquido incolor. Aqui em um outro agravante: os falsificadores costumam usar corante ou iodo para dar a tonalidade de uísque", detalha sobre o possível erro.
Assim como a cerveja, o uísque é feito com a cevada. A diferença é que o último passa por processo de destilação. Entretanto, o professor da UFMG conta que golpistas usam outras matérias-primas.
"A cevada é mais cara. Às vezes os falsificadores usam cana-de-açúcar, que é bem mais barata. No caso de Betim, acredito que tenham fermentado um caldo de cana sem controle e produziram metanol acima do limite indicado para o corpo humano", completa.
Ridinei Augusti detalha que outro golpe comum no meio é uso o uso de álcool combustível, o etanol, para fraudar dos destilados. "Geralmente, os golpistas pegam um litro de combustível, diluem em água e produzem quatro litros de bebida falsificada", explica.
Investigação em Betim
O poder público investiga a possível intoxicação de 10 pessoas em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Duas delas morreram. Um laudo inicial da prefeitura, divulgado nesta quarta-feira (20), indicou que não foi identificada relação entre os casos. As amostras biológicas das vítimas e da bebida ainda estão em análise.
Crime
O artigo 272 do Código Penal prevê como crime o ato de "corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo". O mesmo se aplica a bebidas com ou sem teor alcoólico. A pena para quem pratica o ato é de prisão de 4 a 8 anos, além de multa.
R7