Um em cada três hipertensos não sabe da sua condição no Brasil: a doença afeta 50 milhões de pessoas, ou cerca de 45% dos adultos na faixa entre 30 e 79 anos, e pode atingir até 65% dos idosos com mais de 60 anos. Apenas um terço dos pacientes se trata corretamente, segundo dados de um relatório recente da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A hipertensão é uma condição caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial, em que a pressão sistólica (máxima) é maior do que 140 mmHg e a pressão diastólica (mínima) fica acima de 90 mmHg. Seu desenvolvimento é influenciado por fatores genéticos, ambientais e sociais.
“O subdiagnóstico está relacionado principalmente ao fato de se tratar de uma doença assintomática e ao pouco conhecimento da população dos riscos da falta de controle adequado, como lesões em órgão-alvo e, consequentemente, maior risco de infarto, AVC [acidente vascular cerebral] e morte”, diz o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Por ser uma doença silenciosa, as pessoas não se preocupam”, completa a cardiologista Lucélia Magalhães, presidente do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “Nosso estilo de vida, com uma cultura que leva à obesidade e ao sedentarismo, por exemplo, favorece que genes da doença se expressem. É uma verdadeira epidemia, que só piorou após a pandemia”, observa a médica.
Fatores socioeconômicos, como baixa escolaridade e renda, juntamente com o consumo excessivo de sal e o abuso de álcool, também desempenham um papel fundamental nesse problema. A hipertensão, quando não tratada, provoca alterações funcionais e estruturais em órgãos como o coração, o cérebro e os rins, aumentando o risco de infarto, derrame, insuficiência cardíaca e morte. De fato, ela é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares e doença renal crônica.
Controle da pressão A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que a pressão seja medida rotineiramente nas consultas de qualquer especialidade médica. Se o valor encontrado for menor do que os famosos 14x9, o paciente pode ser avaliado anualmente. O diagnóstico é estabelecido quando há alteração em duas avaliações feitas com a técnica correta em pelo menos duas ocasiões. Também é aconselhável, se possível, complementar com exames fora do consultório, como o Mapa, que monitora os valores ao longo de 24 horas.
Uma vez diagnosticada, são necessários outros exames para rastrear lesões em órgãos-alvo, como coração, cérebro e rins. As metas e o tratamento, incluindo o uso de remédios, vão depender da idade e dos fatores de risco de cada paciente. Em muitos casos, ela pode ser controlada apenas com alteração de hábitos.
“O controle da pressão exige alto grau de compromisso com a mudança de estilo de vida e adesão aos medicamentos”, diz Segalla. “Muita gente não consegue aderir ao tratamento, pois é preciso emagrecer, reduzir o sal, adotar uma atividade física e às vezes tomar remédios”, complementa Magalhães. “Então, acaba procurando o médico apenas quando aparece alguma complicação.”
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, hospitalização e atendimento em consultório em todo o mundo. No Brasil, respondem por 27% de todos os óbitos, segundo dados do Datasus (Sistema de Informática do Sistema Único de Saúde) de 2017. A hipertensão está associada a quase metade deles (45%).
Os médicos alertam que fazer check-ups rotineiros permite identificar problemas de saúde em estágios iniciais, bem como avaliar o risco em pessoas assintomáticas e adotar medidas de prevenção. A checagem em consultório, com exames de laboratório e de imagem, ajuda a verificar também a saúde dos órgãos-alvo. A conduta para cada pessoa é planejada a partir do chamado score de risco, estabelecido por meio de um sistema de pontos baseado em fatores como idade, sexo, antecedentes familiares, além da presença de condições como hipertensão e colesterol alto.
Agência Einstein
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