Esta terça-feira, 29 de agosto, é a data que celebra o Dia Nacional de Combate ao Fumo, o principal fator causador do câncer de pulmão. Esse tipo de câncer é o segundo mais comum em todo mundo, depois do de mama. No Brasil, é o quarto em incidência, atrás dos cânceres de mama, próstata e intestino. Com o intuito de sensibilizar os fumantes a largar o vício, representantes da Fundação do Câncer estarão hoje na rodoviária do Rio de Janeiro para distribuir panfletos com um QR code que direciona para a Cartilha Prática para Parar de Fumar, com orientações a quem deseja abandonar o cigarro. A ação ocorre das 7h às 18h.
Quem passar pelo local poderá também participar da campanha interativa #FumoTôFora, tirando foto e escolhendo a sua mensagem para postar nas redes sociais: "Sou vitorioso! Larguei o cigarro", "Este ano, paro de fumar", "Abaixo o vape!" e "Cigarro nunca mais".
As equipes estão no setor de embarque superior do terminal, próximo à praça de alimentação e à passarela central. Os painéis eletrônicos da rodoviária exibirão mensagens de conscientização às cerca de 40 mil pessoas que circulam diariamente no terminal. A campanha se estenderá ao ambiente virtual, nas redes sociais da Fundação do Câncer e da rodoviária do Rio.
Outros oito terminais rodoviários do país sob gestão da Socicam, que recebem juntos 4,1 milhões de passageiros por mês, exibirão mensagens contra o tabagismo. Participam da campanha os terminais Tietê, Barra Funda e Jabaquara (na capital paulista), Ribeirão Preto, Campinas e Jundiaí (SP), Campo Grande (MS) e Brasília (DF). Outros parceiros da iniciativa são a Ecoponte e a Onbus, que divulgarão a mensagem da campanha nos painéis de LED da ponte Rio-Niterói e em pontos de ônibus e mobiliário urbano.
O diretor-executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, afirmou que a ideia é alcançar o maior número de pessoas de todas as camadas da população, especialmente das classes C e D, que, segundo recentes pesquisas, são as que mais compram cigarros. “Um recente estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelou que o percentual de gasto mensal com cigarro é maior entre os mais pobres e mais jovens”, disse Maltoni.
De acordo com o médico titular da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) Wesley Pereira Andrade, o tabaco também está relacionado aos cânceres de boca, orofaringe, esôfago, pâncreas e intestino. “O câncer de pulmão é o principal alvo. Entretanto, outros órgãos são afetados também.”
O especialista citou ainda o câncer de bexiga e o das vias urinárias, que também podem ser consequência do fumo, visto que boa parte do que é absorvido pelo organismo cai depois na corrente sanguínea e é excretado pelo rim. “Significa que as vias urinárias são alvo também dos efeitos do tabagismo.”
Diagnóstico precoce De acordo com Andrade, o tabagismo é responsável pela maioria dos cânceres de pulmão. “Cerca de 85% a 90% dos casos de câncer de pulmão são tabacorrelacionados. O tabagismo é um agente causal importante do câncer de pulmão.”
À Agência Brasil, o médico explicou que o câncer de pulmão tem uma peculiaridade: é difícil descobri-lo na fase inicial. Quando o câncer de pulmão é detectado, na maioria das vezes ele já está em fase mais avançada, em que a chance de cura é pequena. “A mortalidade do câncer de pulmão é muito alta”. O índice é de 80%.
Andrade informou que a chance de cura é bem reduzida (20%) porque, biologicamente, a doença é bastante agressiva. Hoje em dia, entretanto, há algumas estratégias de diagnóstico precoce. Para pacientes com mais de 55 anos que fumam muito, é recomendável fazer uma tomografia de tórax de rastreamento anual.
“A perspectiva é de tentar achar o câncer de pulmão antes de ele apresentar sintomas. Porque, quando ele dá sintomas, já está em fase avançada. A estratégia seria, então, detectar o câncer de pulmão pequenino.”
O médico explica que o exame de rastreamento não é padrão na maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil, “mas é recomendável”. Andrade defendeu a adoção dessa estratégia no país para tentar diagnosticar a doença no início, assim como é feito com os exames periódicos de mamografia para detectar o câncer de mama.
“A principal estratégia é não fumar, mas, para aqueles que fumam, a melhor estratégia é encontrar a doença em sua fase inicial, através da tomografia de tórax.”
Fumantes passivos O especialista advertiu para o risco de uma pessoa não fumante contrair câncer de pulmão por conviver com fumantes.
“Outro fator de risco é, realmente, o tabagismo passivo. Estar em um ambiente no qual as pessoas fumam, aquela pessoa que está consumindo o tabaco de forma indireta tem o risco aumentado de doenças pulmonares, inflamatórias e, também, de câncer de pulmão e outros cânceres relacionados ao tabaco.”
Tratamento Uma vez detectado precocemente, o tratamento do câncer de pulmão é cirúrgico e envolve a retirada da parte afetada do órgão. Isso pode ser complementado com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Há também a terapia-alvo, um tipo de tratamento que usa drogas para atacar especificamente as células cancerígenas e provoca pouco dano às células normais.
Para os casos avançados descobertos tardiamente, quando já existem sintomas, o tratamento é feito com medicamentos, quimioterapia e imunoterapia.
“Ou seja, quanto mais precoce se descobre o câncer de pulmão, mais estratégia cirúrgica de retirar a lesão vamos ter, com maior chance de cura. Para os casos avançados, a cirurgia já não tem papel importante.”
Sintomas Os sintomas que alertam o indivíduo para o câncer de pulmão são tosse diferente do padrão, escarros constantes, dor torácica, falta de ar e emagrecimento. Esses sintomas chamam a atenção da pessoa para que busque uma equipe médica o mais rápido possível.
Weley Pereira Andrade lembra que o tabagismo se relaciona com uma piora da qualidade de vida geral da pessoa do fumante: “Vai sentir cansaço, vai ter redução da capacidade de trabalho, da capacidade cognitiva, da atividade sexual, da chance de a mulher engravidar”.
O cirurgião conta que pacientes que descobrem a doença na fase idosa frequentemente sentem peso na consciência por não poderem sequer brincar com os netos.
Cigarro eletrônico Embora as frequentes campanhas contra o tabagismo tenham apresentado resultado no número de fumantes no país, o consumo de cigarros eletrônicos, especialmente por jovens, vem aumentando. Segundo os dados do sistema Vigitel (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número de brasileiros tabagistas caiu de 30%, em 2000, para 9%, em 2021.
Em contrapartida, o consumo de dispositivos eletrônicos vem aumentando no país. Uma pesquisa recente do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), realizada neste ano, mostra que 2,2 milhões de adultos (1,4%) consumiram cigarros eletrônicos até 30 dias antes do levantamento. Há seis anos, o índice entre a população era de 0,3%.
O geriatra Rafael Canineu, diretor médico de Health Analytics da Alliança Saúde, destacou a necessidade de concentrar esforços para mudar o cenário de consumo de cigarros eletrônicos no país. Ele explica que adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornar fumantes na vida adulta.
Agência Brasil