ara a maioria das pessoas comuns, a poluição atmosférica é mais perigosa do que o tabaco ou o álcool, e a ameaça é pior no Sul da Ásia, o seu epicentro global, apesar das melhoras registadas na China, afirma um estudo divulgado nesta terça-feira (29).
Apesar deste cenário, o financiamento para enfrentar este desafio é uma fração do destinado ao combate às doenças infecciosas, segundo uma pesquisa do Epic (Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago).
O seu relatório anual sobre o AQI (Índice de Qualidade do Ar) mostrou que a poluição atmosférica por partículas finas — procedentes de emissões de veículos e industriais, incêndios florestais, etc. — continua sendo a "maior ameaça externa à saúde pública". Se o mundo reduzisse permanentemente estes poluentes até o limite estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a expectativa média de vida de uma pessoa aumentaria 2,3 anos com base em dados coletados até 2021.
As partículas finas estão associadas a doenças pulmonares, cardíacas, derrames e câncer. Em comparação, o consumo de tabaco reduz a esperança de vida mundial em 2,2 anos, enquanto a desnutrição infantil e materna é responsável por uma redução de 1,6 ano.
A Ásia e a África suportam a maior carga devido a infraestruturas mais fracas e fundos mínimos para enfrentar a poluição atmosférica. Toda a África recebe menos de US$ 300 mil (R$ 1,4 milhão na cotação atual) para esse fim.
"Há uma profunda desconexão entre onde a poluição do ar é pior e onde, coletiva e globalmente, estamos mobilizando recursos para resolver o problema", disse Christa Hasenkopf, diretora de programas de qualidade do ar do Epic.
Embora exista uma associação financeira internacional chamada Fundo Global que investe US$ 4 bilhões (R$ 19 bilhões na cotação atual) por ano no HIV/aids, na malária e na tuberculose, não existe nenhum fundo equivalente para a poluição atmosférica.
"No entanto, na República Democrática do Congo (RDC) e nos Camarões, a poluição atmosférica encurta mais anos de vida de uma pessoa média do que o HIV/Aids, a malária e outras ameaças à saúde", afirma o relatório.
O Sul da Ásia é a área mais afetada em todo o mundo. Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão são, nessa ordem, os quatro países mais poluídos pelas suas médias anuais de partículas finas, que são detectadas por satélite e são definidas como partículas com diâmetro inferior a 2,5 mícrons (PM2,5).
As concentrações de poluição são então incluídas no índice AQI, que mede o impacto na expectativa de vida.
Os habitantes de Bangladesh, onde os níveis médios de PM2,5 eram de 74 microgramas por metro cúbico, ganhariam 6,8 anos de vida se fossem reduzidos aos 5 microgramas por metro cúbico estabelecidos pela OMS.
Deli, a capital da Índia, é "a megalópole mais poluída do mundo", com uma média anual de 126,5 microgramas de partículas por metro cúbico.
A China "fez progressos de destaque em sua guerra contra a poluição atmosférica" que começou em 2014. A poluição caiu 42,3% entre 2013 e 2021. Se esta tendência continuar, cada chinês poderá viver mais 2,2 anos.
Nos Estados Unidos, regulamentações como a Lei do Ar Limpo ajudaram a reduzir a poluição em 64,9% desde 1970, o que aumentou a esperança de vida dos americanos em 1,4 ano.
Mas a crescente ameaça de incêndios florestais – associada às temperaturas mais elevadas e à menor quantidade de água devido às mudanças climáticas – aumentaram a poluição atmosférica no oeste dos Estados Unidos, América Latina e Sudeste Asiático.
Por exemplo, na temporada de incêndios florestais de 2021 na Califórnia, o Condado de Plumas recebeu uma concentração média de partículas finas mais de cinco vezes superior à relatada pela OMS.
A melhoria da poluição atmosférica na América do Norte nas últimas décadas é semelhante à da Europa, mas ainda existem grandes diferenças entre a Europa Ocidental e Oriental. A Bósnia é o país europeu mais poluído.
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Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS