O secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, disse nesta quinta-feira (28) que a pandemia de Covid-19 voltou a se intensificar no interior e o que estado precisará de mais oxigênio hospitalar.
O secretário participou de uma reunião virtual da Câmara dos Deputados, convocada para discutir a situação da pandemia no Amazonas.
O sistema de saúde de Manaus entrou em colapso nas últimas semanas com a disparada dos casos de Covid-19. As internações e os enterros bateram recorde, os hospitais ficaram sem oxigênio e pacientes estão sendo enviados para outros estados. Mais de 30 pessoas morreram por falta de oxigênio nos dias 14 e 15 de janeiro, quando a capital atingiu o ápice da falta do insumo.
A falta de oxigênio foi momentaneamente resolvida com a chegada de cilindros emergenciais ao estado.
“Temos uma estimativa de que vamos precisar de mais oxigênio porque no interior do Amazonas está crescendo a pandemia, e o vírus está se espalhando de novo para o interior”, afirmou Campêlo.
“Há uma preocupação grande porque a logística de oxigênio para o interior é mais complicada”, acrescentou o secretário.
Ele explicou que além das remoções de pacientes para outros estados, o governo do Amazonas trabalha com medidas alternativas, como a instalação de miniusinas de oxigênio para suprir a rede de saúde do Amazonas.
Segundo Campêlo, aproximadamente 580 pacientes estão na fila, aguardando leitos no estado, e outros 100, em situação mais grave, aguardam vagas em UTIs.
Atualmente a demanda diária por oxigênio no estado é de cerca de 80 mil metros cúbicos. Segundo o assessor especial Ridauto Lúcio Fernandes, que falou na reunião em nome do Ministério da Saúde, é preciso que o volume seja ampliado para 120 mil metros cúbicos.
“Para que nós tenhamos uma margem de segurança e possamos dar esse gargalo como removido, tenho que jogar essa quantidade de oxigênio em Manaus, tirá-la da casa dos 80 mil e jogá-la na casa dos 100, de preferência 120 mil metros cúbicos”, calculou Fernandaes.
Segundo ele, os ministérios da Saúde, da Infraestrutura, da Defesa e da Economia estão trabalhando para viabilizar a operação, que terá como prioridade o transporte do material por rios.
"Hoje as ações estão sendo montadas para suspender esse patamar para 120 mil metros cúbicos. É o nosso gol, é o nosso objetivo, e isso tem que acontecer muito rápido, no máximo em duas semanas, mas queremos fazer mais rápido”, afirmou.
Aviso 'suave' sobre falta de oxigênio
O secretário de Saúde do Amazonas relatou que o governo do estado tinha um plano de contingência para uma segunda onda de casos da Covid 19, baseado na ampliação de leitos.
Durante a reunião, Campêlo reforçou em diferentes falas que o risco da falta de oxigênio não foi alertado por municípios, hospitais e pela empresa fornecedora, a White Martins.
“Não tínhamos preocupação alguma com oxigênio, porque não era um tema abordado, nem pela empresa [fornecedora de oxigênio]”, afirmou o secretário. “Ninguém nunca ventilou essa hipótese de oxigênio. Era completamente um tema desconhecido”, disse Campêlo.
Segundo o secretário, a empresa White Martins procurou a gestão do estado para fazer um aditivo contratual, em virtude do aumento de demanda por oxigênio, mas não alertou sobre a situação.
“O que há é um processo de aditivo contratual. A empresa tinha um fornecimento de menos de 20 mil metros cúbicos, antes da pandemia e, durante o pico, em abril, chegou a 30 mil, e depois caiu, mas caiu para uma diferença acima do que era antes. E essa diferença, em torno de 41%, era o aditivo pleiteado”, explicou o secretário. “Era uma questão meramente contratual, de aditivo”, concluiu Campêlo.
Segundo Fernandes, representante do Ministério da Saúde na reunião, a White Martins avisou que o problema era grave quando as reservas já estavam muito baixas. Segundo ele, o Ministério teve noção da situação em Manaus em 8 de janeiro, por comunicação da empresa e de representantes do ministério que foram para Manaus.
“Nós tomamos conhecimento de que o oxigênio passou ser algo a ser considerado, mas nessas tarefas no dia 8 ainda não parecia a necessidade emergencial. A White Martins, o próprio comunicado dela, era um comunicado que transmitia de uma maneira 'suave'. Não apontava para uma crise explosiva e não dizia que suas reservas estavam acabando”. afirmou Fernandes.
Procurada, a empresa explicou “que alertou a Secretaria de Saúde do Amazonas, de forma clara e baseada em fatos, tão logo identificou o aumento do consumo exponencial e abrupto de oxigênio na região, a necessidade de esforços adicionais e a contratação de outros fornecedores para aumentar a disponibilidade de produto dada, a situação de calamidade pública no estado do Amazonas”.
“A comunicação foi feita formalmente no dia 7 de janeiro à secretaria de saúde do estado, com a qual a empresa mantém contrato vigente, informando ainda que a companhia vinha fornecendo o produto em quantidades superiores às suas obrigações contratuais”, continuou a empresa.
“Além disso, a White Martins sinalizou formalmente para a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas, em 16 de julho de 2020 e 9 de setembro de 2020, que o consumo de oxigênio fornecido ao Estado já não mais refletia o volume contratado, razão pela qual solicitava providências da Secretaria para que fosse adequado à tal realidade”, completou a White Martins.
G1
Foto: Bruno Kelly/Reuters