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Anatólio em uma de suas visitas que fez a imobiliária para entregar a documentação referente ao processo de aquisição de um apartamento financiado com  recursos do Programa Minha Casa Minha Vida, foi informado que deveria apresentar entre outros documentos pendentes, uma declaração de comprovação de renda atualizada e com assinatura reconhecida em cartório.

Animado com a possibilidade de realizar o sonho de comprar o seu apartamento moderno em área de condomínio fechado com muro alto, grades reforçadas, área de lazer e sistema de segurança eletrônica, e ainda se acostumando com a idéia, achando meio desafiante romper com uma longa tradição de residir em casa com amplo quintal onde a vizinhança toda se conhece se cumprimenta e bate papo sentados na calçada e ir residir em um condomínio fechado de apartamentos cenário que se aproxima muito das características das fortalezas da época medieval, segunda feira por volta das 9:00hs chega ao cartório, se dirige ao setor de entrega de senha e recebe a senha número 166. Cartório lotado, a longa espera faz com que Anatólio não resista ao cansaço e tire um longo cochilo chegando inclusive a sonhar.

No sonho recebe uma ligação de um colega de infância que reside em Brasília. O celular chama e Anatólio atende:

- Alô quem está falando?
Almeida – É o Almeida, tudo em paz Anatólio?
Anatólio – Tudo, só não está melhor porque estou enfrentando uma fila Quilométrica de um cartório aqui em Teresina, cheguei, já faz uma hora e meia, minha senha é a 166, tú acreditas que agora é que estão atendendo a 66, são 100 pessoas na minha frente sem contar com o grupo dos prioritários. Isso tudo para conseguir um reconhecimento de firma em uma
declaração.
Almeida – Não acredito Anatólio, pensei que as coisas por aí estavam melhor, e não foi no Piauí que a Assembléia Legislativa aprovou uma Lei para criar mais cartórios? Parece-me que dezenove só para Teresina.
Anatólio – Tem até concurso já realizado, mas parece que tem muitas forças ocultas, muitos poderosos impedindo que as coisas avancem neste setor. Estou até com medo de ter que adiar o sonho de comprar meu primeiro apartamento financiado, por sinal muito moderno, segundo a propaganda da construtora terá até abatimento nas contas de energia por conta da captação de energia através de painéis fotovoltaicos que também serão instalados. Hoje é o último prazo para complementar a documentação, já estou preocupado com tanta demora neste atendimento.
Almeida – Pois é Anatólio, fico aqui imaginando o quanto o processo de desenvolvimento de Teresina é comprometido com coisas desse tipo. Um sistema Cartorial ainda provinciano feito para atender demandas de meados do século XIX ainda permanece o mesmo numa capital de quase um milhão de habitantes. Seja forte amigo isso não pode comprometer seus objetivos.
Exatamente as 15:00 horas o sonho é interrompido e Anatólio acorda espantado com alguém lhe chamando dizendo que o painel chama a senha 166.
Enquanto é atendido reflete e relembra que durante as aulas de história que frequentou e em leituras diversas aprendeu que o Brasil e o Piauí tiveram suas bases de desenvolvimento referenciadas por um sistema latifundista, escravocrata, patrimonialista e concentrador.
Enquanto muitas coisas avançaram o sistema cartorial como um importante serviço criado para dar o suporte burocrático necessário a esse sistema patrimonialista permanece funcionando em quantidade e em condições insuficientes para atender as demandas da população crescente, situação que precisa ser revertida.
Terminado o atendimento Anatólio sai com a certeza de que poderá continuar a luta para atingir o seu objetivo, porém sem conformismo e certo de que será preciso uma árdua luta para que Teresina se desvencilhe desse atraso.
*Técnico em Agropecuária, Lic. Em Pedagogia com Especialização em Gestão do Trabalhochiquinho 1
Pedagógico/Extensionista Rural do EMATER-PI

 

*Francisco de Assis Santos