O respeito à atuação do advogado atualmente tem se sustentado num castelo de areia. Desenha-se um profissional ganhador de causas ainda que, para isso, o profissional se valha de caminhos nada recomendáveis. Por quê isso?
Arrisco um palpite. A ética do advogado é guiada pela ética da sociedade na qual ele está inserido. Se o profissional da advocacia se vê diante de uma sociedade que tolera a corrupção, que compactua com o mundo de facilidades, que aquiesce com o tráfico de influência ou com a ideia de levar vantagem em tudo, então teremos um advogado tendente a ser maleável quanto aos seus princípios éticos.
Nos Estados Unidos da América têm se deparado com a mesma situação. Lá, por conta da agressiva competitividade, a situação parece ser ainda pior. Se compararmos dados existentes nos Estados Unidos com o Brasil, teremos a exata dimensão do problema que nos aguarda. Aliás, que já nos é apresentado. A agressividade da concorrência somada à necessidade de sucesso pode fazer do advogado um profissional afastado ou, pelo menos disposto a se afastar da pauta ética.
É preciso deixar claro que um profissional competitivo não é um profissional que se vale de tudo para alcançar o seu objetivo. O jogo em busca do sucesso pode ser duro, pode ser ágil, pode ser agressivo, mas, necessariamente, tem de ser limpo.
Sem ética, não há vitória.
Afastado do ideal ético, o advogado será, sempre, um derrotado.
Então quais elementos deveriam trazer respeito à classe dos advogados e à própria advocacia.
Eis alguns critérios que caminham em direção ao caráter do profissional. A solidariedade, a maneira de conduzir sua própria família e o modo pelo qual trata o seu semelhante são excelentes indicadores acerca da respeitabilidade que o profissional pode trazer para si e para a sua classe.
O advogado integra um comitê jurídico temático. É cumpridor de suas obrigações. Ele debate os assuntos que lhe cabem com seriedade. Respeita os colegas, as questões como estas deveriam ser mais valorizadas por nós em relação à carreira de um advogado.
Nenhum papel social estimula aspirações morais tão ambiciosas como à do advogado e nenhum papel social desaponta tão constantemente as aspirações que estimula.
Muitos jovens vão para a Faculdade de Direito com a esperança de encontrar uma carreira na qual possam oferecer uma contribuição para a sociedade. Tendem a sair com essas esperanças diminuídas, e as esperanças muitas vezes desaparecem sob as pressões da prática. Mais tarde, nas suas carreiras, especialmente alcançam o sucesso mundano, muitas vezes de profissão, recordam-se das suas esperanças com nostalgia e pesar. Devemos a essa experiência de fim de carreira uma florescente literatura de livros, e muitas vezes com lamentos a pobreza ética da prática do Direito.
Portanto, uma explicação da angústia moral associada com a advocacia devia atentar para condições mais permanentes que os desenvolvimentos recentes na organização e na teoria do Direito. Minha explicação concentra-se em uma tensão estrutural no papel do advogado que sempre esteve presente, mas que se tornou mais agora durante o último século. O cerne da explicação é este: a concepção dominante das responsabilidades
profissionais do advogado enfraquece a ligação entre as tarefas práticas da advocacia e os valores de justiça que, os advogados acreditam, provêm os fundamentos morais do seu papel. Essa concepção muitas vezes requer que o advogado pratique ações que contribuem para a injustiça nas circunstâncias em questão. Naturalmente, supõe-se que essas ações facilitam uma justiça maior em um sentido mais remoto. Mas o caráter remoto da sentença moral no final da conduta do advogado é um problema. Na melhor das hipóteses, a situação exige do advogado um ascetismo moral rigoroso. Sua experiência imediata implica-o em violações dos valores com os quais está mais fundamentalmente comprometido; os efeitos benéficos redentores ocorrem em algum lugar fora da sua vida de trabalho, talvez invisivelmente. Portanto, de uma maneira muito prontamente associada com normas religiosas, a advocacia exige um adiamento da satisfação ética de experimentar o bem para o qual contribui a nossa conduta correta.
A vontade de vencer a qualquer custo. A ideia de que os fins justificam os meios. A necessidade de se mostrar perante os colegas por meio de bens materiais. A realização do ofício associado à expectativa por facilidades. A concorrência, além de agressiva, desleal. A mercantilização da profissão.
Tudo isso tem representado um câncer para o ideal ético da advocacia.
Da redação