A maioria dos repentistas ainda não conhece a lei que regulamentou a profissão dessa categoria de cantadores no país. No segundo dia do Encontro Nordestino de Cordel, em Brasília, o repentista Antônio Lisboa Filho disse que são poucos os colegas que têm conhecimento da Lei 12.198/2010.
“A lei não chegou a 5% da profissão, dos cantadores, dos cordelistas”. Para ele, é preciso uma divulgação maciça entre esses artistas. “Entendo que grande maioria dos repentistas e cordelistas está desinformada do que ocorreu e do que está por vir. O que precisa ser feito é uma grande divulgação. Que se utilize a mídia da cantoria para isso. São muitos programas de rádio, jornal e TV, além de associações e federações”, disse.
O evento, que aconteceu nessa quinta-feira, 14, também foi marcado pelo debate previdenciário. A mesa teve a participação do advogado Luis Gonzaga de Araújo e de Maria Santos Alves, técnica do Ministério da Previdência Social. Ambos tiraram dúvidas sobre o assunto. A plateia, composta de cordelistas, emboladores de coco, repentistas e declamadores, fizeram perguntas sobre como poderia ser feita a aposentadoria para os repentistas.
Foram discutidas possibilidades de contribuição previdenciária para a categoria. Maria Santos Alves destacou o Artigo 37 da Lei Geral da Copa, criada em 2012, que concede aposentadoria para jogadores de futebol campeões de copas do Mundo. “Esse é um tipo de aposentadoria na qual não há contrapartida. O dinheiro sairá do Orçamento da União. Talvez vocês possam trilhar um caminho semelhante, por conta do valor cultural de suas obras”, declarou.
O cordelista Lisboa Filho considerou o debate positivo, pois esclareceu algumas dúvidas da classe sobre os seus direitos. “Eu acho que foi dada uma luz. Com as informações da mesa podemos também criar algumas comissões de encaminhamento. Estamos criando também um sindicato para nos fortalecer nesse sentido. Vamos discutir para ver o melhor caminho. Mas acredito que foram dadas informações interessantes”.
Ele entende que já existe um caminho a ser seguido pelos profissionais repentistas, mesmo antes de uma solução final. “Talvez uma saída viável seja ver uma forma, dentro das condições da categoria, de começar a pagar, para ir garantindo tempo de Previdência. E, paralelamente, se lute por essas conquistas, quem sabe até a isenção. Mas enquanto isso, o artista já vai garantindo o direito.
O cordelista Antônio Francisco disse que está em Brasília para tirar dúvidas e apresentar sua arte no encontro. Com 63 anos de idade, sendo 17 como cordelista, Francisco revelou que a arte do cordel lhe foi passada pelos os mais antigos. “Eu tive o privilégio de toda noite, em minha casa, as pessoas lerem cordéis. Clássicos, como Pavão Misterioso e A Louca do Jardim. Cresci aprendendo os cordéis; e também morei perto de cantadores de viola. Comecei escrevendo por hobby, mas deu certo. E é assim que a gente aprende. Alguém passou pra mim e eu vou passar para outro”, ressaltou.
Antônio Francisco, que ocupa a Cadeira 15 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, avalia que a sua arte está crescendo e se adaptando aos novos tempos. “O cordel passou um tempo escondido. Talvez numa academia, melhorando seu português e sua filosofia. Para correr ombro a ombro com a tecnologia”.
ABr