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Terminada a sessão especial do filme “Gonzaga – De pai para filho”, promovida para amigos e equipe num cinema da Zona Sul do Rio, Breno Silveira é um dos primeiros a sair da sala. O diretor do longa, escolhido para abrir a 14ª edição do Festival do Rio na noite desta quinta-feira, 27, no Cine Odeon e no CineCarioca Méier (antigo Imperator), simultaneamente, não se contém. “Vou chorar a cada vez que assistir ao filme”, desabafa Silveira sobre a produção orçada em R$ 12 milhões e que levou sete anos para chegar às telas.

 

“Cada vez que me aprofundava nesta trajetória, descobria que Gonzagão é muito maior do que eu tinha imaginado. A quantidade de histórias sobre ele não caberia em quatro ou cinco filmes. Luiz Gonzaga era um Chaplin, um gênio. Desenhava as próprias roupas, inventava passos de dança, tinha uma noção absurda de ritmo. Nos anos 50, já entendia o que viria a ser o show business. Enquanto as apresentações se limitavam a Rio de Janeiro e São Paulo, Gonzaga criou as turnês nacionais", destaca.

 

Mais do que a cinebiografia de Luiz Gonzaga (1912-1989), o longa destaca a tortuosa relação afetiva entre o Rei do Baião e seu filho, o também cantor e compositor Gonzaguinha (1945-1991). Uma história envolvendo duas pessoas que, segundo o cineasta, colocaram suas vidas nas canções que gravaram.

 

"Isso é o mais importante, pois as músicas nos meus filmes não são só trilha, são enredos. Contam uma parte da história. E, de alguma forma, também preciso me inspirar nelas para filmar", diz Silveira. "Pois não é apenas a biografia que me encanta. Acho que todos esses filmes apenas biográficos, sem um drama forte, acabam virando produções 'chapa branca'", conta o cineasta, também diretor do blockbuster brasileiro "Dois filhos de Francisco", sobre a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, e "À beira do caminho”, road movie inspirado nas canções de Roberto Carlos.

 

“Sou apaixonado por música. Já falei numa entrevista que, se tivesse que recomeçar, seria músico. Inclusive, cheguei a ganhar um festival de música na minha adolescência. E tenho uma relação com a MPB muito forte. Mas parei de tocar violão, porque o cinema acabou dando certo”, explica o diretor.

 

Originado nas conversas de Gonzaguinha com o pai, gravadas em fitas cassete pelo próprio autor de "O que é, o que é?", o longa mostra pai e filho em três fases, com três atores diferentes representando cada cantor. Para Gonzagão, foram escolhidos Land Vieira (dos 17 aos 23 anos), o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho, o Chambinho do Acordeom (dos 27 aos 50), e Adélio Lima (aos 70). Alison Santos (dos 10 aos 12 anos), Giancarlo Di Tommaso (17 aos 22) e Julio Andrade (35 aos 40) interpretam Gonzaguinha.

 

No caso do Rei do Baião, as escolhas foram feitas a partir de um gigantesco processo seletivo, que começou com um anúncio veiculado por rádios nordestinas. Cinco mil candidatos foram inscritos, mas "apenas" 40, selecionados. Destes, dez foram confinados num apartamento em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, por dois meses, juntamente com o preparador de elenco do filme.

 

"Acharam que se tratava do Big Brother, perguntavam pelas câmeras o tempo todo", relembra Silveira, sorrindo. "Mas acabou que um ajudou o outro. Neste processo sobrou Chambinho, um acordeonista tímido, que não era exatamente um bom ator. Apesar disso, tinha um sorriso ingênuo, era muito parecido com o Gonzaga jovem. Quando ele tocava, ficava iluminado. O outro que sobrou deste teste foi Adélio Lima, que faz Gonzagão na fase final da vida. Uma figura fantástica, que veio de Caruaru. E nunca havia feito cinema na vida. Chegou interpretando um Gonzaga muito caricato, de início. Mas, aos poucos, descobri que tratava-se de um grande ator."

 

 

G1