• Hospital Clinicor
  • Vamol
  • Roma

robertocarlos copyQuais músicas de Roberto Carlos você escolheria para a trilha do seu filme? A pergunta certa não é bem esta - "Quais músicas o Rei deixaria você usar"? Após um ano tentando, o diretor Breno Silveira, de À Beira do Caminho (filme que estreia nacionalmente em 10 de agosto), chegou ao cantor com uma lista de umas 12 canções e saiu com apenas quatro autorizações.

 

Ainda assim, Silveira (que fez 5,3 milhões de espectadores com 2 Filhos de Francisco) ergue as mãos para os céus e agradece - as quatro canções que Roberto autorizou pessoalmente foram o substrato do seu filme. "Tem músicas que eu não cedo, é uma questão pessoal", justificou o cantor. E Breno, por outro lado - "Ele praticamente me deu as músicas. Cobrou muito barato, um preço simbólico, de quem não queria inviabilizar o filme."

 

A relação entre pai e filho está no centro do cinema de Breno Silveira. 2 Filhos de Francisco, a cinebiografia de Zezé Di Camargo e Luciano, é sobre o sonho de um pai para transformar os filhos em cantores de sucesso. À Beira do Caminho é sobre um caminhoneiro que não tem quem o espere em casa - o inverso de uma canção de Roberto - e que se liga a um menino, na estrada. Outra vez a estrada, agora uma estrada brasileira, não a que pavimentou a utopia beat de Walter Salles em On the Road. E há de novo pai e filho em Gonzaga, que trata da relação entre Gonzaguinha e Gonzagão, o sanfoneiro do Brasil - filme que Silveira finaliza para o centenário do artista, em novembro.

 

Cinema e música, música e emoção. É o tripé sobre o qual se assenta a estética do ex-fotógrafo Breno Silveira. Falando em emoção, quem mais poderia fornecer a trilha de seus filmes? O Rei. O cinema é fascinado pelo repertório de Roberto Carlos. Quando se pensa nele, em termos de cinema, a relação imediata é com os três filmes que o próprio Roberto interpretou para Roberto Farias, há mais de 40 anos.

 

Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, em 1968, foi o primeiro. Seguiram-se Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, em 1970, e Roberto Carlos a 300 Km por Hora, em 1971. À parte o apuro técnico e sonoro - para realçar as canções; cada filme pode ser ouvido como um CD, na época era um long-play, desde Como É Grande o Meu Amor por Você às Curvas da Estrada de Santos e De Tanto Amor -, não há muito mais para destacar e há críticos que não perdoam o diretor (de obras-primas do cinema brasileiro) por haver feito aquelas comédias alienantes enquanto o pau comia sob a ditadura, situação que o próprio Farias mostrou depois em Pra Frente, Brasil.

 

Só que a relação do Rei com o cinema não se esgota aí. Várias de suas composições parecem roteiros prontos de curta e você consegue ver as imagens enquanto ele canta - Detalhes, Eu Voltei e A Varanda. Esse fica ainda melhor, como roteiro, na versão cool de Nara Leão.

 

Em 2003, quase uma década antes de Breno Silveira, Vicente Amorim também foi a Roberto Carlos pedindo autorização para que suas canções embalassem a odisseia de Romão, um brasileiro - interpretado por Wagner Moura na fase anterior ao Capitão Nascimento. Com a mulher e os cinco filhos, ele atravessa meio Brasil de bicicleta para realizar o sonho de reconstruir a vida no Rio Maravilha. De fundo, as canções do Rei. O Caminho foi produzido por Bruno Barreto. Coincidentemente, um verso de Roberto, da música Pra Ser Só, foi o que deu a origem a Amor Bandido, de Bruno, em 1978.

 

E há o Roberto internacional. Canzone per Te, em parceria com Sergio Endrigo, ganhou o Festival de San Remo (em 1968) e foi integrada à trilha de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, naquele mesmo ano. Isso contribuiu para popularizar o Rei na Itália, a ponto de Luchino Visconti o integrar à trilha de Violência e Paixão, de 1974. O filme é sobre um velho professor (Burt Lancaster) que vive isolado. Entra em sua vida uma família que vai desestabilizá-lo. Numa cena chave, uma orgia, todo mundo nu, o sexo é embalado pelo Rei - Testarda/La Mia Solitudine, cantada por Iva Zannichi. A cena é excepcional e a trilha inusitada, considerando-se que Roberto baniu E Que Tudo o Mais Vá para o Inferno de seu repertório.


Estadão