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O segurança do Mineirão que foi alvo de injúria racial na tarde desse domingo após o jogo entre Cruzeiro x Atlético-MG, pela 32ª rodada do Brasileirão, conversou com o GloboEsporte.com na manhã desta segunda-feira. Fábio Coutinho, de 42 anos, desabafou a respeito do episódio triste vivido por ele, quando foi ofendido por um torcedor do Galo.

- Passei a noite em claro, minha esposa não foi trabalhar hoje. Ela está comigo aqui. Só tenho ela aqui, sou do Rio de Janeiro. Meus filhos moram no Rio, são adolescentes. Quando a ficha caiu, fiquei muito chateado. Meus filhos fizeram contato e disseram que viram na rede social: 'Ele cuspiu na sua cara'. Aí eu disse não foi bem assim, disfarcei - contou Fábio Coutinho.

A confusão começou após o clássico, que foi marcado por brigas generalizadas em diversos setores dentro do estádio. Em determinado momento da confusão, a Polícia Militar precisou usar spray de pimenta para apartar a briga e, a torcida do Atlético-MG que estava em menor número no estádio, queria acessar uma área restrita, segundo o segurança, que explicou a situação.

- Situação lastimável. Era uma área restrita aos profissionais da imprensa, ocorreu um tumulto numa outra extremidade da torcida do Atlético, e os policiais intervieram com uso de spray de pimenta. A gente abriu uma exceção para crianças. Até a vovó do Galo. Eu, pessoalmente, retirei ela. Alguns outros, poucos baderneiros infiltrados, queriam adentrar a área restrita da imprensa e da torcida do Cruzeiro. Eu, juntamente com apenas quatro ou cinco vigilantes, impedimos o acesso deles. Não fizemos o uso de força ou violência - contou Fábio, que é carioca e mora em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte há seis anos.

 

O segurança contou ainda que levou uma cusparada do torcedor. No vídeo acima é possível ver o momento em que o torcedor dispara palavras de cunho racistas.

- Nós verbalizamos e, infelizmente, no primeiro momento, eram dois ou três. Um deles cuspiu na minha face. E com o dedo empurrando meu rosto, eu virei para ele e disse: "Pô... Você cuspiu na minha cara. É feio. Nenhuma sociedade no mundo permite isso". Alguns torcedores retiraram ele. Depois ele retornou e disse: "Você pôs a mão em mim. Olha sua cor". Eu disse: "Você é racista! Você é racista!" Aí, os demais torcedores pararam na hora e retiraram ele.

Profissionalismo

O segurança explicou como se manteve em calma diante da tamanha agressão. Fábio ainda contou que os colegas ficaram muito chateados com a situação.

- Na hora meus colegas ficaram baqueados: 'Pô, cara! O cara cuspiu na sua cara'. Todo mundo falou: ´Você não merecia isso, você é um cara tranquilão'. Eu disse para meus colegas: 'Vamos esquecer isso e continuar nosso serviço'. gente tá ali para servir".
- Não quero me vitimizar, não quero ter uma causa particular. É uma causa um tanto quanto coletiva. Muitas vezes, o segurança é mau visto. Eu disse: "Ninguém vai agredir ele, deixa ele". Como nós estávamos em menor numero, se tivéssemos agredido ele, nós perderíamos a razão e todos os outros torcedores viriam em cima da gente. Eu me mantive calmo.

- Eu sou profissional da área, nós não podemos retribuir uma agressão, mesmo que seja uma agressão baixa como esta, nós somos capacitados, somos instruídos - contou o segurança.
Fábio Coutinho é atleticano e revelou chateação com o ocorrido.

- De uma certa forma eu fiquei bem chateado. Eu sou imparcial. Mas eu sou atleticano, e sofrer uma agressão da própria torcida assim... "Olha sua cor, macaco", ninguém entendeu. A gente não acha que vai acontecer com a gente, mas acontece - concluiu o segurança que trabalha no Mineirão há três anos.

O torcedor que cometeu o ato de injúria racial não foi identificado até a publicação desta matéria.

 

GE