Nem bem acabaram as fases preliminares da Libertadores e a fase de grupos se anuncia para salpicar certa angústia em nossa epopeia carnavalesca – já a partir de terça que vem, em pleno recuo da bateria, começam os jogos (aqui a tabela completa). Os times que avançaram das etapas prévias são Atlético-MG, Melga, Libertad e Palestino, confirmando uma regra: nenhuma equipe que disputa a competição desde as primeiras eliminatórias consegue chegar na fase dos grupos.
Dois times que se esperava ver na fase de grupos acabaram sua jornada no meio do caminho. Após passar com insuspeita autoridade pelo São Paulo, o Talleres, de Dayro Moreno e Guiñazú, esteve em vantagem no placar na maior parte do confronto a até arrastou uma multidão de fanáticos para Santiago, mas sucumbiu ao brioso Palestino, uma equipe de jogo duro e objetivo que comemora a participação na fase de grupos como um título. Com a chegada do técnico Ivo Basay, ex-atacante de larga trajetória no Colo-Colo nos anos 1990, Los árabes não apenas se livraram da ameaça de rebaixamento como conquistaram a Copa Chile, em novembro.
Já o Atletico Nacional, treinado por Paulo Autuori, venceu por 1 a 0 e perdeu um caminhão de gols diante do Libertad, o que não o impediu de amargar sua eliminação mais precoce em 21 participações da Libertadores, ao ser derrotado pelo Libertad nas penalidades. A cruel ironia para os verdolagas é que o técnico dos paraguaios é ninguém menos que Leonel Álvarez, que bateu o pênalti que deu ao Atletico Nacional seu primeiro título de Libertadores, em 1989.
Se a Libertadores perde, digamos, em grife, ganha na fase de grupos dois times extremamente competitivos, que devem deixar a dupla Gre-Nal de olho aberto – o Palestino entra na chave do Inter, junto de River Plate e Alianza Lima, enquanto o Libertad passa a acompanhar Grêmio, Rosario Central e Universidad Católica.
Alguns grupos que trazem camisas pesadas talvez não se mostrem tão carnívoros assim, devido à má fase que vivem alguns grandes argentinos. O próprio Central vive um momento nebuloso – demitiu Edgardo Bauza, foi eliminado da Copa Argentina pelo glorioso Sol de Mayo, da terceira divisão, e cogita até usar time misto na estreia diante do Grêmio, já que sua situação no promedio do descenso não é das mais amistosas. O San Lorenzo, que divide o grupo com Palmeiras, Junior e Melgar, ainda não venceu este ano pela Superliga Argentina, mas provavelmente tem trocado muitos passes com seu próprio goleiro, já que é treinado por Jorge Almirón, vice-campeão da Libertadores pelo Lanús, em 2017.
Se não há um “grupo da morte” indiscutível, todos reservam certa dose de PELIGRO e algumas chaves inclusive têm forte potencial para se tornar carne de pescoço. No grupo D, o Flamengo deve ter imensas dificuldades fora de casa, pois enfrenta LDU e Peñarol, sempre difíceis em seus domínios, e acaricia o garrão de Deus contra o San José, na Bolívia. O grupo E, no qual o Zamora deve ser sparring, provavelmente guarda uma disputa acirrada entre Galo, Nacional e Cerro Porteño. Por fim, Athletico-PR e Boca Juniors são os favoritos para avançarem no grupo G, mas Tolima e Jorge Wilstermann estão bem longe de serem adversários dóceis e convidativos. Na verdade, entre os brasileiros, apenas o Cruzeiro parece ter um caminho relativamente fácil, pois é franco favorito a liderar a chave que divide com Lara, Emelec e Huracán.
Todos os grupos contam com pelo menos um campeão da Libertadores. A chave do Flamengo é a que conta com maior peso de taças – são sete, sendo cinco do Peñarol, uma da LDU e outra dos próprios rubro-negros. Também não teremos nenhum país repetido dentro dos grupos, o que só havia acontecido em 2014 (até porque durante muito tempo havia a obrigação de que times com a mesma nacionalidade dividissem a chave), o que promove uma salutar representatividade. No começo da próxima semana, enquanto o país entrega-se à febre de Momo, nas canchas do continente vão soar também outros ritmos. Cúmbia, salsa, candombe. Além, é claro, da onipresente dança do sarrafo, a música universal da Libertadores.
GE
Foto: Twittter/Libertad