Novo comentarista de arbitragem do Grupo Globo, Sandro Meira Ricci estreia nesta segunda-feira seu blog. A ideia é transmitir ao público o dia a dia de um árbitro dentro e fora de campo. Em seu primeiro texto, ele entrevista os árbitros que protagonizaram polêmicas e até lesão no clássico mineiro.
Clássico é um jogo especial para torcida, técnicos, jogadores e, claro, árbitros. Muitas vezes, uma vitória em um clássico pode salvar a pele de um técnico, um gol marcado pode transformar um jogador em herói. É realmente um jogo diferente.
Todo árbitro sonha apitar o clássico do seu estado, seja porque representa um reconhecimento de boas atuações e um trampolim para sonhos maiores em âmbito nacional, seja por simples orgulho de ser o principal árbitro do estado pelo menos por um dia.
Este último fim de semana foi dia de clássicos estaduais em locais como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Pernambuco. Em Belo Horizonte, a partida ficou marcada pelo número de jogadas difíceis nos 90 minutos. Foram, no total, 11 cartões amarelos, além de situações de pênalti, gol anulado e expulsões.
Por experiência própria, um jogo não apresenta mais de três grandes decisões (entenda-se situações de pênalti e expulsões). Muitas vezes, não acontece nenhuma. Mas a partida entre Cruzeiro e Atlético fugiu à regra. Foram inúmeras situações de interpretação, para as quais sobraram reclamações por parte de quem se sentiu prejudicado. E, para aumentar a dramaticidade, teve até substituição do árbitro por lesão.
O clássico mineiro foi tema principal das conversas desde a TV ao botequem. Já ouvidos jogadores, treinadores, comentaristas, dirigentes e torcedores, chegou a hora de dar a palavra aos árbitros da partida, Wanderson Alves de Souza e Ronei Cândido Alves. Eles explicam o trabalho em um jogo com tanto tempero quanto o clássico mineiro deste domingo, falam das dificuldades enfrentadas e garantem que tomaram todas as decisões com a convicção do campo.
Conheça a partir de hoje um pouco mais sobre os árbitros em "Bastidores da Arbitragem"!
Veja a entrevista com Wanderson:
Como foi a lesão? Como você está?
- Não senti nenhuma lesão, nenhum fisgamento. Foi uma câimbra forte. A princípio numa perna, depois na outra perna. Tentei ao máximo levar, mas não deu. Pedi atendimento médico. Me senti bem, até pensei que daria para continuar. Mas passado um tempo vi que não daria para ficar.
O que passou pela sua cabeça? Quais as preocupações?
- É uma situação desesperadora. Essa é a palavra. Principalmente porque você está num jogo, buscando minha projeção a nível nacional. Você sabendo da importância do jogo, passa um milhão de coisas na cabeça. Você pensa logo nas oportunidades que você tanto busca, seus objetivos indo por água abaixo. Isso que passa. Você tenta ir, a cabeça quer ir, mas as pernas não obedecem. As pernas travaram e realmente não dá.
Atendimento e palavras do presidente da comissão
- Uma coisa fundamental para mim foi o apoio do presidente da comissão de arbitragem, Giuliano Bozzano, me tranquilizou o tempo todo. Disse: "Qualquer um do meio do futebol está sujeito a isso, e com o árbitro não é diferente". Mas passa muita coisa na cabeça.
Lances do jogo
- Por orientação da CBF e da Fifa eu não posso tecer comentários técnicos. Posso dizer é que todas as decisões foram tomadas com convicção do acerto.
Entrevista com Ronei Cândido Alves:
Esperava estrear assim num clássico?
- É um misto de alegria e de tristeza. Já tem uma grande alegria no momento em que a comissão dá designação para o sorteio. Já foi de extrema alegria para mim, minha família e amigos próximos. E a tristeza é de ver nosso amigo sentindo fortes câimbras.
O jogo estava fervendo. Qual foi a estratégia?
- Cruzeiro x Atlético-MG é sempre uma rivalidade muito grande, grande clássico. Jogo grandioso, e assumir um jogo naquele momento, com calor muito forte em Belo Horizonte, em todo estado, no Brasil em si. Fomos buscando manter para os atletas a credibilidade que a arbitragem vinha dando. Deixá-los tranquilos. A mudança foi pela necessidade do amigo, mas que o jogo seguiria e que poderiam ter confiança para o trabalho em equipe, para legitimar o resultado.
Aplicou dois cartões vermelhos, marcou pênalti. Decisões importantes na partida
- Tivemos grandes decisões no jogo. A Fifa e a CBF preconizam que em grandes decisões, de área, cartão vermelho, o árbitro tem que estar pronto, ter o conhecimento da regra. Para que junto da sua equipe possa tomar a melhor decisão.
Ambiente dentro de campo
- O clássico sempre marca a cidade, o estado, o país. Mas num dia diferente, pelo momento que Minas Gerais passa, o rompimento da barragem em Brumadinho. Pessoas conhecidas minhas, pessoas que são atletas, dirigentes. A gente sente na pele o que as pessoas estão passando, estão vivendo.
GE
Foto: Agência I7/Mineirão