Hannes Thór Halldórsson trabalha na indústria dos filmes. Dirigiu clipes de música pop da Islândia, inclusive da banda feminina Nylon e da canção que representou o país no Eurovision de 2012. Foi também responsável por uma série de televisão chamada Nossos jogadores profissionais, em que visitou islandeses importantes que ganhavam a vida chutando bolas, como o seu ídolo Eidur Gudjohnsen, e um comercial da Coca-Cola para a Copa do Mundo da Rússia. Em 2013, começou a trabalhar em um longa que ele se recusa a descrever como “um filme de zumbis”. “É mais um thriller sobrenatural de fantasmas que acontece em algum lugar isolado da Islândia”, disse, à Sports Illustrated. Seu próximo projeto não está confirmado ainda, mas ele tem uma boa história autobiográfica para dirigir, se quiser: o dia em que defendeu um pênalti de Lionel Messi.
Porque no momento ele atua profissionalmente como jogador de futebol e é o goleiro titular da seleção islandesa. Neste sábado, impediu que a Argentina fizesse 2 a 1 contra o seu time, em Moscou, na primeira rodada do Grupo D da Copa do Mundo. Até os 29 anos, recebia salário para jogar bola, mas ainda dividia muito as suas atenções com a produção de vídeos, de música ou comerciais, uma paixão que ele desenvolveu quando era adolescente.
Na infância, começou a treinar para a carreira de futebol que vislumbrava, mas, aos 14, deslocou o ombro fazendo snowboarding. A dor aparecia sempre que tentava treinar. “Isso destruiu meus sonhos de jogar futebol. Fui operado aos 19 anos”, disse, ao Bleacher Report. “Essa época, dos 14 aos 19 anos, é quando os rapazes da minha idade estavam jogando pelas seleções de base da Islândia. Eu tinha zero jogos nas categorias de base. Então, passei minha juventude produzindo curtas. Dos 16 aos 20 anos, me concentrei somente nisso”.
Encorajado pelo pai, Halldórsson tentou mais uma vez. Estava fora de forma e enferrujado, mas conseguiu participar da pré-temporada do Leiknir Reykjavik, clube da terceira divisão do bairro em que morava. Foi reserva o campeonato inteiro, mas, na penúltima rodada, o titular foi expulso. Halldórsson ganhou a chance para a partida final, uma decisão de campeonato contra o Vikingur Olafsvik. Quem vencesse seria promovido.
Animado pela chance de começar jogando uma partida competitiva pela primeira vez na carreira, o goleiro ligou para emissoras de TV. Contou o que estava acontecendo e perguntou se elas não queriam enviar algumas câmeras. Duas apareceram. Ele deve ter se arrependido dessa parte. Aos 43 minutos do segundo tempo, errou a cobrança do tiro de meta e deu a bola para o adversário. Dois atacantes contra Halldórson. O Vikingur Olafsvik marcou, venceu por 2 a 0, e o Leiknir não subiu – clique aqui para ver o lance.
Halldórsson ficou desolado. Trancou-se em casa ouvindo música porque todo mundo no bairro falava sobre o seu erro, transmitido em rede nacional. Mergulhou na sua outra profissão durante o verão europeu e ainda sofreu um acidente que quase quebrou seus dedos da mão esquerda. Quando a temporada seguinte de futebol começou, ele decidiu fazer uma última tentativa. Conseguiu encontrar um clube que não conhecia sua história, o Afturelding, e teve uma grande temporada.
Foi contratado pelo Stjarnan, e começou a receber salário para jogar bola pela primeira vez. Em 2011, chegou ao KR, principal clube do país, mesmo ano em que estreou na seleção islandesa. Saiu da Islândia para fazer carreira na Noruega, com uma passagem pela Holanda, até chegar ao norueguês Randers, que defende atualmente. Foi a muralha na Eurocopa da França, primeira vez que os islandeses disputaram um grande torneio, e segurou a barra durante as Eliminatórias da Copa do Mundo. Na sua primeira partida na Rússia, pegou um pênalti do craque Lionel Messi. Uma história de cinema.
msn