Para quem tem 1,84m de altura, ele se movimenta bem. A perna boa é a direita, mas a canhota não deixa a desejar. Fica à vontade na grande área, só que também já foi visto ajudando na marcação. Este é Hernane, 25 anos, atacante do Mogi Mirim, destaque deste início de Paulistão com quatro gols em dois jogos.
Ele é a primeira cara nova que o interior apresenta no maior estadual do país. Assim como em 2011, quando defendia o Paulista de Jundiaí, balançou as redes nas rodadas iniciais e logo assumiu o topo da lista dos goleadores. A diferença é que agora ele busca uma regularidade. O jogador sabe que não adianta nada brilhar nos primeiros jogos, como um "cavalo paraguaio da artilharia", e depois cair de rendimento.
Baiano de Bom Jesus da Lapa, Hernane tem fé que o começo promissor lhe renda frutos na sequência da temporada. No ano passado, foi dessa forma que conseguiu uma transferência para o Paraná. E foi com essa fé que, há mais de uma década, deixou sua cidade natal atrás do sonho de ser jogador de futebol.
Aos 12 anos, após ser rejeitado por uma série de clubes da Bahia, deixou a casa da avó e se mudou com os irmãos e a mãe para São Paulo. Tentou a sorte em clubes tradicionais da capital, como Palmeiras e Portuguesa, mas acabou indo parar na AD Guarulhos. O sucesso nos juniores o levou ao Atibaia e, em 2007, ao São Paulo.
Chegou a morar no centro de treinamento de Cotia e foi alçado aos profissionais. Porém, nunca recebeu uma chance. Oportunidades de jogar só surgiram quando foi emprestado. Em três anos, foram cinco clubes: Rio Preto, Toledo, Catanduvense, Malmo-SUE e Paulista. O título da Copa Paulista e os gols pela equipe de Jundiaí abriram novamente os olhos da diretoria são-paulina, mas aí já era tarde.
- Eu queria jogar regularmente. No São Paulo, estava difícil. Tinha contrato até o fim de 2011, eles me chamaram para renovar por mais dois anos, mas achei melhor sair e seguir a minha vida.
Livre, acertou com o Paraná, recém-rebaixado para a segunda divisão estadual. Além do clima pesado no clube, sofreu por jogar fora de posição. Aberto pelas pontas acabou marcando somente dois gols em 17 jogos na Série B. Resultado: mais uma transferência ao fim do ano.
- Preferi vir para um clube paulista, já que o estadual daqui dá muita visibilidade.
Os quatro gols já lhe renderam elogios de Rivaldo, presidente licenciado do Mogi. Após a vitória sobre o Guarani, o pentacampeão do mundo foi ao vestiário e elogiou Hernane.
- Ele veio me cumprimentar antes e depois do jogo. Antes da partida, ele disse: “Tem que chutar bastante para o gol, artilheiro”. Depois, me deu os parabéns.
As “dicas” não vêm apenas de Rivaldo. Guto Ferreira, técnico do Mogi Mirim, é o principal responsável pelo sucesso de Hernane neste início de campeonato.
- Venho conversando bastante com o Guto. No primeiro papo que tivemos, ele disse que, no Paraná, eu não tinha atuado na minha função e que gostaria de me ver como homem de área.
Com a confiança do técnico, Hernane diz finalmente ter se encontrado. Agora, espera manter o ritmo de gols para levar o Mogi à Série D e, quem sabe, conseguir uma vaga em um clube da elite do Brasileirão.
O próximo adversário do "Sapão" é a Ponte Preta, neste domingo, em Mogi. Se Hernane mantiver a média de gols, é bom a Macaca se cuidar.
Globo Esporte