Imagine o seguinte: o jogador de futebol sofreu uma grave lesão no joelho, passou por uma cirurgia e ficou afastado dos gramados por oito meses. Quando imaginava estar perto do retorno, depois de muito tratamento, vem um baque daqueles: na verdade, o joelho não estava plenamente recuperado, de modo que uma nova operação seria necessária. Para piorar, ele seria citado nominalmente por Luiz Felipe Scolari como uma possível adição a sua Seleção campeã da Copa das Confederações da FIFA, mas simplesmente não conseguia jogar e mostrar serviço.
Foi o que aconteceu com o jovem volante Rômulo, vice-campeão olímpico e que deixa boas recordações para o torcedor do Vasco. O jogador do Spartak Moscou disputou sua última partida no dia 23 de setembro de 2012. Só nas últimas semanas conseguiu retomar os treinamentos com bola. Com a parada do futebol russo devido ao rigoroso inverno, só poderá voltar aos gramados, no mínimo, em março de 2014. Terão se passado praticamente 18 meses. Duro, não? Para dizer o mínimo.
Agora, só não esperem que o volante vá entregar os pontos, a despeito de tanto suplício. Este piauiense de Picos sabe que já gastou muito do tempo sem jogar para ficar se lamentando. Ainda mais agora que está liberado para, enfim, mesmo que gradativamente, fazer aquilo que mais gosta: voltar a jogar bola.
“Para mim este ano muito difícil. Não joguei nenhuma vez. Foi o tempo todo fora. Estava me recuperando, então foi mais complicado. Mas agora está dando tudo certo. Estou treinando com bola, e é uma felicidade muito grande. Fazia tempo que não sentia essa emoção de se sentir jogador de futebol”, afirma. “Se você fica sem treinar, quando retorna, reunido com o grupo tudo, mesmo que seja pouco, sem participar de coletivos, a felicidade já é muito grande. Você fica com vontade de fazer tudo.”
Cabeça erguida
Foi numa vitória do Spartak por 3 a 1 contra o Rostov, fora de casa, pelo Campeonato Russo, que Rômulo se lesionou. Ficou constada uma ruptura nos ligamentos do joelho, aquele tipo de notícia que é irrefutável: o atleta sabe que terá de ficar um bom período afastado de suas atividades regulares.
O brasileiro foi operado na Alemanha e, depois, foi autorizado pelo seu clube a conduzir sua recuperação no Brasil, usando as instalações do Corinthians. Retornou a Moscou, com horas e horas de fisioterapia acumuladas, e, todavia, ainda se sentia incomodado. Passou por novos exames, e aí foi detectada a necessidade de um novo procedimento cirúrgico, para restauração plena dos ligamentos, na Itália.
“Foi uma notícia muito triste, que me deixou abalado”, relembra. O volante, no entanto, que já batalhou muito para levar sua carreira ao patamar em que está, não se deixa levar nem por um instante a mais de agonia. Na sequência ele emenda: “Mas também sabia que seria melhor para mim. Não estava me sentindo bem, com confiança, o que me indicava que precisaria passar por tudo aquilo novamente. Era só trabalhar.”
Há vagas?
Pouco depois de deixar a Itália, Rômulo recebeu outra notícia que poderia ter duas interpretações, um tanto agridoce. Foi quando Felipão destacou em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo” que o volante “era um dos jogadores que pretendia convocar”. Por um lado, faz bem a qualquer atleta ser lembrado pelo comandante da Seleção – ainda mais no caso do jovem meio-campista tinha seu nome identificado com o antecessor no cargo, Mano Menezes, que o levou para o Torneio Olímpico de Londres. Por outro, o que fazer com isso quando se está incapacitado de jogar?
“Para mim foi uma motivação a mais, sim, saber que, apesar de estar lesionado, que o treinador da Seleção lembrou de mim”, diz. “Foi uma forma de dar ainda mais na recuperação, pensando em voltar para buscar esse sonho O jogador não pode abaixar a cabeça, desistir. Enquanto tiver tempo, vou buscar isso.”
O próximo jogo do Spartak Moscou está programado para o dia 7 de março, contra o Terek Groznyi. Dois dias antes, a Seleção terá disputado, contra a África do Sul, seu último amistoso antes da convocação final para a Copa do Mundo da FIFA. “Não sei. Fica mais difícil. Mas vamos ver o que pode acontecer.”
O certo para o brasileiro é que não é hora de se precipitar para nada. “Antes de março eu já posso ter condição de jogo. Mas vou ter esse tempo a mais para recuperar sem pressa. É para me recuperar com toda a confiança, voltar, e bem."
Em vez de retornar ao Brasil, Rômulo preferiu ficar em Moscou. Trabalhou com o estafe do clube pela manhã e, com a ajuda de um amigo fisioterapeuta que levou para a capital russa, dava sequência aos exercícios em casa pela tarde. “Às vezes fazia as sessões de noite também”, conta. “São várias as fases de recuperação.”
Sinceramente, não sobrava muitas brechas em sua agenda para sair pela metrópole. “É uma cidade boa, com várias coisas para fazer. Mas você tem de se dedicar 100% à recuperação, sem deixar cair na fase final. Meus últimos meses foram praticamente dedicados a isso. Não sobrou muito tempo para dar uma passeada. O pessoal foi demais comigo, sempre me incentivando. Ter esse apoio só te dá mais confiança.”
Com tantas horas e horas acumuladas nas salas de exercício, usando os mais diversos equipamentos e técnicas, o volante sem dúvida já tem conhecimento de causa. Mas, calma lá. Na sua cabeça, por ora, só fica a expectativa de ter muitos jogos pela frente ainda.
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Fotos: Rafael Ribeiro/CBF e Fifa.com