Uma semana depois do fiasco da viagem para enfrentar a Argentina numa partida que acabou tendo de ser cancelada, a seleção brasileira volta a se reunir nesta segunda-feira, na Europa. Todos os focos deveriam estar voltados para o retorno de Kaká para o grupo, dois anos depois de ter vestido pela última vez a camisa da verde-amarela. Mas é o programa de viagens da equipe pelo continente que mais chama a atenção. O grupo começa um périplo para dois amistosos com uma agenda rocambulesca e que foi elaborada, levando em conta critérios comerciais.
Nesta segunda, o Brasil desembarca em Wroclaw, na Polônia. Mas não joga contra o time local. Depois de realizar dois treinos na cidade de 600 mil habitantes, já embarca no dia 10 num voo fretado para uma partida na cidade de Malmo, na Suécia. Uma vez mais, o jogo não é contra a seleção local. Mas sim contra o Iraque. Terminada a partida, a seleção volta a tomar um avião e retorna para Wroclaw onde enfrenta, no dia 16, outra equipe estrangeira, o Japão.
José Maria Marin, presidente da CBF, não tem disfarçado seu incômodo em não ter poderes para determinar a agenda da seleção, diante do contrato que a entidade fechou ainda quando Ricardo Teixeira era presidente e que deu a empresas de marketing o controle sobre a programação do time até 2022.
Há duas semanas, em Zurique, Marin admitiu a dificuldade da CBF em encontrar parceiros de nível para enfrentar a seleção brasileira, já que a maioria deles estão usando justamente as datas livres para jogos das Eliminatórias para a Copa de 2014.
A federação de futebol da Polônia revelou à reportagem que resistiu em autorizar a permanência da seleção no país. O principal motivo era o fato de que o jogo do dia 16 entre Brasil e Japão ocorre no mesmo momento em que a seleção da Polônia enfrenta a Inglaterra, numa partida válida pelas Eliminatórias para o Mundial.
Por lei, a Polônia não permite que haja dois jogos internacionais no país no mesmo dia. Mas, diante da necessidade de Wroclaw de arrecadar dinheiro, a federação acabou cedendo. A cidade foi uma das sedes da Eurocopa de 2012 e, para isso, ergueu um estádio de 42 mil e que custou aos cofres públicos R$ 620 milhões.
Mas a cidade recebeu apenas três jogos da Eurocopa, todos da fase preliminar. Desde então, enfrenta sérios problemas para financiar o custo do projeto. O jogo da seleção local ocorrerá na capital Varsóvia e o do Brasil terá seu ponta pé inicial três horas antes, no meio da tarde. Se no Brasil o jogo será transmitido às 9 da manhã, no Japão ele cairá em horário nobre à noite, por pedido da tevê local.
FRETADO
Em meio a sua estadia na Polônia, o Brasil ainda viaja para a cidade sueca de Malmo, onde enfrenta o Iraque do técnico Zico. O jogo ocorrerá no acanhado estádio Swedbank, com capacidade para 21 mil pessoas. Contrariando uma prática tradicional, a seleção não fará sequer um reconhecimento do gramado antes do jogo.
A partida contra o Iraque sequer será organizada pela empresa Pitch que anunciou, com pompas em agosto, que teria os direitos sobre a seleção até 2022. A partida ficou nas mãos da Match World, que tem registro na Fifa e que anuncia em seu website a venda de ingressos para o que ela chama de "jogo histórico".
Na semana passada, ao ser questionado sobre o fato de a Pitch não organizar o amistoso, o vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, afirmou que desconhecia a informação. O Estado revelou que a Pitch jamais organizou uma partida de futebol quando recebeu o contrato de administrar as partidas da seleção por uma década, pagando menos à CBF a cada jogo que o contrato que já existia em 2006. O contrato foi fechado três meses antes de Teixeira deixar a CBF.
Estadão