A dez dias do início do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou a 'Cartilha da Redação', uma publicação já tradicional na qual os aplicadores do exame mostram quais são os critérios da correção da prova de redação.
Neste ano, o documento é muito semelhante ao do Enem 2018. As novas regras que determinam a nota zero automática continuam as mesmas – mais uma vez, ficou de fora a regra que previa nota zero caso o estudante desrespeite os direitos humanos na prova. No entanto, caso a proposta de intervenção da redação tenha alguma sugestão ferindo os direitos humanos, o candidato não terá chance de tirar nota mil (clique para ler mais).
Cinco competências da redação do Enem
Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa
Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos
Como é definida a nota da redação do Enem?
Cada uma das cinco competências acima pode render ao candidato uma nota parcial entre 0 e 200;
A nota da correção é a soma das notas parciais de cada competência: o máximo, portanto, é 1.000;
Cada prova é avaliada por dois corretores, que não conhecem a nota um do outro;
Caso haja discrepância nas duas notas, um terceiro corretor avaliar a prova;
As discrepâncias podem ser uma diferença de pelo menos 100 pontos entre as duas notas, ou de pelo menos 80 pontos nas notas parciais de qualquer uma das competência;
A nota final de cada candidato representa a média aritmética das duas notas (caso a prova seja corrigida por duas pessoas), ou da média aritmética das duas notas mais próximas (caso a prova passe por um terceiro corretor).
Dicas do Inep para ir bem na redação
A cartilha também incluir dicas dos especialistas do Inep para os candidatos garantirem notas altas em cada uma das cinco competências. Leia abaixo:
COMPETÊNCIA 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa
Para mostrar aos corretores que você domina a escrita formal do português, é preciso ficar atento aos seguintes aspectos:
Convenções da escrita: acentuação, ortografia, uso de hífen, emprego de letras maiúsculas e minúsculas e separação silábica (translineação).
Gramaticais: regência verbal e nominal, concordância verbal e nominal, pontuação, paralelismo, emprego de pronomes e crase.
Escolha de registro: adequação à modalidade escrita formal, isto é, ausência de uso de registro informal e/ou de marcas de oralidade.
Escolha vocabular: emprego de vocabulário preciso, o que significa que as palavras selecionadas são usadas em seu sentido correto e são apropriadas ao contexto em que aparecem.
COMPETÊNCIA 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa
Leia com atenção a proposta da redação e os textos motivadores, para compreender bem o que está sendo solicitado.
Evite ficar preso às ideias desenvolvidas nos textos motivadores, porque elas foram apresentadas apenas para despertar uma reflexão sobre o tema.
Não copie trechos dos textos motivadores. A recorrência de cópia é avaliada negativamente e fará com que sua redação tenha uma pontuação mais baixa.
Reflita sobre o tema proposto para definir qual será o foco da sua discussão, isto é, para decidir como abordá-lo, qual será o ponto de vista adotado e como defendê-lo.
Utilize informações de várias áreas do conhecimento, demonstrando que você está atualizado em relação ao que acontece no mundo. Essas informações devem ser pertinentes ao tema e usadas de modo produtivo no seu texto, evidenciando que elas servem a um propósito muito bem definido: ajudá-lo a validar seu ponto de vista. Isso significa que essas informações devem estar articuladas à discussão desenvolvida em sua redação. Informações soltas no texto, por mais variadas e interessantes que sejam, perdem sua relevância quando não associadas à defesa do ponto de vista desenvolvido em seu texto.
Mantenha-se dentro dos limites do tema proposto, tomando cuidado para não se afastar do seu foco. Esse é um dos principais problemas identificados nas redações. Nesse caso, duas situações podem ocorrer: fuga total ou tangenciamento ao tema.
COMPETÊNCIA 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
Segundo o Inep, essa competência mede a "inteligibilidade" da redação, e ela depende dos seguintes fatores:
Reúna todas as ideias que lhe ocorrerem sobre o tema e depois selecione as que forem pertinentes para a defesa do seu ponto de vista, procurando organizá-las em uma estrutura coerente para usá-las no desenvolvimento do seu texto.
Verifique se informações, fatos, opiniões e argumentos selecionados são pertinentes para a defesa do seu ponto de vista.
Na organização das ideias selecionadas para serem abordadas em seu texto, procure definir uma ordem que possibilite ao leitor acompanhar o seu raciocínio facilmente, o que significa que a progressão textual deve ser fluente e articulada com o projeto do texto.
Examine, com atenção, a introdução e a conclusão para ver se há coerência entre o início e o fim. Também observe se o desenvolvimento de seu texto apresenta argumentos que convergem para o ponto de vista que você está defendendo.
Evite apresentar informações, fatos e opiniões soltos no texto, sem desenvolvimento e sem articulação com as outras ideias apresentadas.
COMPETÊNCIA 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
Nessa competência, o Inep diz que o importante é a articulação das frases e parágrafos, usando conectores e evitando repetições ou substituições inadequadas de palavras. Veja abaixo as recomendações:
Procure utilizar as seguintes estratégias de coesão para se referir a elementos que já apareceram no texto:
Substituição de termos ou expressões por pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos, advérbios que indicam localização, artigos.
Substituição de termos ou expressões por sinônimos, hipônimos, hiperônimos ou expressões resumitivas.
Substituição de verbos, substantivos, períodos ou fragmentos do texto por conectivos ou expressões que retomem o que já foi dito.
Elipse ou omissão de elementos que já tenham sido citados ou que sejam facilmente identificáveis.
Utilize operadores argumentativos para relacionar orações, frases e parágrafos.
Verifique se o elemento coesivo utilizado estabelece a relação de sentido pretendida.
COMPETÊNCIA 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos
A dica do Inep, nesse caso, é que o candidato pense em cinco perguntas antes de elaborar sua proposta:
O que é possível apresentar como proposta de intervenção para o problema?
Quem deve executá-la?
Como viabilizar essa proposta?
Qual efeito ela pode alcançar?
Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?
Já sobre o respeito aos direitos humanos, a autarquia do Ministério da Educação explica que as provas são avaliadas segundo sete princípios definidos nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, aprovadas em 2012:
Dignidade humana
Igualdade de direitos
Reconhecimento e valorização das diferenças e diversidades
Laicidade do Estado
Democracia na educação
Transversalidade, vivência e globalidade
Sustentabilidade socioambiental
"Pode-se dizer que determinadas ideias e ações serão sempre avaliadas como contrárias aos direitos humanos", explicou o Inep na cartilha.
Entre os exemplos de sugestões contrárias aos direitos humanos listadas pela autarquia estão:
defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de 'justiça com as próprias mãos', isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o governo, as autoridades, as leis, por exemplo);
incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica;
explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).
G1