Quando a diretora da Escola Municipal Casa Meio Norte, em Teresina, Osana Santos Morais, começou a trabalhar como professora no colégio, na época de sua fundação, há 12 anos, os alunos que estudavam os primeiros anos do ensino fundamental tinham 15 anos, 16 anos, em uma clara defasagem entre idade e série.
“Alguns alunos chegavam armados. Vinham com facas, revólveres. A gente ia mudando, pedindo para que deixassem as armas na entrada da escola, abraçando, dizendo que deixassem as armas e pegassem depois.
Alguns não pegavam mais e a gente ia se desfazendo. Passamos dois anos nessa luta”, afirmou Osana Santos Morais, que conta que em 12 anos, 30 alunos morreram porque foram para o tráfico de drogas e a criminalidade. Três deles morreram em conflitos entre criminosos ou com a polícia.
Dez anos depois, na entrada da Escola Municipal Casa Meio Norte, as estudantes e bailarinas Larissa Leandra, de 11 anos, e Wilklistene Batista, 10 anos, estudantes do 6° ano, ensaiam a declamação do poema “Clarear”, de autoria de um estudante do 9° ano da escola Anderson de Oliveira, que iam apresentar em uma solenidade de entrega pela Assembleia Legislativa do Piauí do título de cidadão piauiense do escritor paulista Ignácio de Loyola Brandão, autor do romance “Zero”, de quem são fãs e leitoras.
A escola mantém um coral, um corpo de balé e um teatro. Dois dos dançarinos do Corpo de Balé passaram nos testes e foram selecionados para a Escola do Bolshoi, em Santa Catarina, mas os pais não aceitaram que fossem estudar balé clássico fora do Piauí.
Essas duas realidades separadas por uma década têm um indicador, a média geral de 6,4 que a Escola Casa Meio Norte conseguiu no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Na Casa Meio Norte, cada criança lê 40 livros paradidáticos por mês, escrevem seus próprios livros e têm um Salão do Livro onde dão autógrafos em suas obras.
Os alunos do 6° ao 9° lêem dez livros por mês, porque são mais volumosos, mas lêem todos os clássicos da literatura brasileira como Machado de Assis, Artur de Azevedo e José de Alencar, fazem resumos das obras escritos e orais.
A diretora pedagógica da Casa Meio Norte, Ruthnéia Vieira Lima Costa, conta que quando a escola começou a funcionar no bairro Cidade Leste, a imagem era de fome e miséria.
A maioria dos pais das crianças era desempregados, vivia de subemprego e 90% eram alfabetizados. Também havia muitos pais que eram dependentes químicos, atuavam no tráfico de drogas e eram acusados de assaltos. O bairro era frequente no noticiário policial.
A solução encontrada pela direção foi levar a comunidade e os pais dos alunos para dentro da escola. Hoje pela manhã, as mães dos alunos têm aulas de ginástica dentro do colégio, onde adquirem boa forma. “Nós chamamos a comunidade para administrar conosco. Era uma região muito perigosa, de violência”, acrescentou Ruthnéia.
Ensino humanizado, crianças alfabetizadas
Ruthnéia Costa Vieira afirmou que a escola começou a trabalhar o que foi chamado de acolhida, para humanizar as crianças e dar para elas os valores. “Não era só conteúdo que iria melhorar o Ideb ou qualquer prova. O que iria melhorar o ensino era humanizar as pessoas, fazer com que se sentissem sujeitos, que a história delas fosse construída por elas.
O primeiro passo para se conseguir esse Ideb era mudar esse perfil de crianças tratadas como objetos, frutos da desigualdade social, e passassem a ser tratadas como pessoas para ser amadas e com grande potencial de aprendizado.
“Por isso, a escola tomou uma posição de mediadora para que a chegada aqui não reproduza a desigualdade para que elas possam entrar em qualquer curso, em qualquer universidade”, destacou Ruthnéia.
A escola recebe ajuda para sua manutenção do Grupo Meio Norte, que fornece a sede da escola, o fardamento escolar, alimentação, divulgação dos eventos, promoção das festas do Dia das Crianças, Natal, verba para a compra de livros paradidáticos e está instalando acesso à internet, já que o colégio não tinha laboratório de informática, além de fornecer bancadas, móveis e construir a quadra de esportes. O colégio é da Prefeitura de Teresina.
Muitos pais se matricularam no Programa Brasil Alfabetizado para acompanhar os deveres escolares dos filhos. Eles participam das reuniões convocadas pela escola. “Nós temos um lema: escola não é depósito.
É um espaço de convivência entre gestores e pais e temos um Projeto Família na Escola, para ensinar os pais a serem pais. Hoje nossos professores estão dando aula de ginástica para as mães. “Um dos nossos propósitos é que esse muro de tijolos da escola deixe de existir”, falou Ruthnéia Vieira.
Escola na zona rural tem Ideb de 7,7
Durante o período de chuvas, os professores da Escola Municipal Laurindo de Castro, no povoado Poço, na zona rural e a 38 quilômetros da zona urbana de Teresina, saem das salas de aulas e vão atravessar os alunos, todas as crianças, em uma ponte sobre um riacho, que fica coberta pelas águas.
A ponte e o riacho dividem os povoados Poço e Boqueirão. O ônibus vai pegar as crianças até a ponte e, no outro lado, uma Kombi as espera para seguir até a escola.
Para chegar à Escola Municipal Laurindo de Castro é preciso percorrer um emaranhado de estrada e de mata. A escola atende aos filhos dos lavradores e de mães que saem de casa para trabalhar como empregadas domésticas ou diaristas em residências no centro de Teresina, capital do Piauí.
A escola, porém, é um oásis no meio de cenário tão desolador. Seu teto estava coberto de bandeirolas e balões de comemoração das festas juninas, as salas de aulas são coloridas com mensagens, desenhos, números e palavras separadas por sílabas.
Em uma das salas, a professora de alfabetização ensina as palavras e os números com ajuda de um CD com músicas infantis como “Aquarela”, interpretada pelo cantor e compositor Toquinho. De difícil acesso, a Escola Municipal Laurindo de Castro tem muito que ensinar ao país.
Sua média no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) é de 7,7, o melhor índice entre as escolas públicas do Nordeste e um dos sete melhores índices do Brasil.
A professora Ingrid Maria de Oliveira Vaz afirma que quase todos os pais dos alunos não têm escolaridade para ajudar as crianças nos deveres escolares feitos em casa.
“O perfil exato é de que todos os alunos são da zona rural e por serem estudantes rurais enfrentam mais dificuldades porque seus pais não são escolarizados. A maioria vive dos recursos do Programa Bolsa Família”, adiantou Ingrid Maria de Oliveira Vaz.
O estudante Luiz Reis de Oliveira, de sete anos, do 2° ano do ensino fundamental, sai de casa às 6:30h, no povoado rural Centro da Maroca, entra no ônibus escolar que vai pegar outras crianças e chega na Escola Municipal Laurindo de Castro, às 8:00h, horário do início das aulas. “Demora, mas aqui a gente aprende a ler, escrever e a contar rápido. Eu gosto daqui”, fala Luiz Reis de Oliveira.
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