No ranking nacional, com 10.076 escolas (com alunos de todos os níveis socioeconômicos), ela fica na posição 4.260. No Estado, é a melhor instituição pública estadual e, considerando as 198 do Piauí, é a 56.ª mais bem classificada.
Filho de agricultores sem renda fixa, praticamente semianalfabetos e moradores da zona rural de Cocal dos Alves – um dos municípios mais pobres do interior do Piauí, a 260 km de Teresina –, Vitaliano Amaral, de 29 anos, nadou contra a corrente das adversidades. O trabalho árduo na roça e o antigo sonho de ser vigia deu lugar à carreira de pesquisador no mestrado em Matemática da Universidade Federal do Piauí.
Mas essa guinada não teria ocorrido se ele não tivesse concluído os estudos na Escola Estadual Augustinho Brandão. Única do município, a escola é considerada a instituição de maior performance no ensino médio no País – ela coloca alunos com grande defasagem educacional no mesmo patamar daqueles que têm melhores condições de aprendizagem por pertencerem a famílias com condições financeiras e culturais privilegiadas.
Entre as escolas que atendem só alunos mais pobres, com renda familiar de até um salário mínimo, a Augustinho Brandão foi a que teve o melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011. Sua média, superior à nacional, desbancou mais de cinco mil instituições públicas e privadas. O número representa 55% do total das escolas que tiveram o resultado no exame divulgado pelo Ministério da Educação, em novembro. O desempenho da Augustinho Brandão ultrapassou o de 32 escolas do País que têm os alunos mais ricos (renda familiar de mais de 12 salários mínimos).
No ranking nacional, com 10.076 escolas (com alunos de todos os níveis socioeconômicos), ela fica na posição 4.260. No Estado, é a melhor instituição pública estadual e, considerando as 198 do Piauí, é a 56.ª mais bem classificada. Para chegar a esses dados, o Estado solicitou à Meritt Informação Educacional o cruzamento das informações do MEC com um estudo feito recentemente pelos pesquisadores Maria Teresa Gonzaga Alves e José Francisco Soares, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eles traçaram o perfil socioeconômico dos alunos das escolas brasileiras.
“Só a gente acreditava no nosso trabalho”, conta a diretora e supervisora da Augustinho, Kuerly Brito, de 34 anos. “Com a grande aprovação nos vestibulares, temos ex-estudantes que hoje são psicólogos, fisioterapeutas e professores. Temos dois alunos cursando pós-graduação em Teresina e Fortaleza.”
Para Soares, da UFMG, Cocal dos Alves é “um exemplo de que, mesmo sendo forte, o determinismo social pode ser vencido”. “É o efeito da escola – e não da família – que gera esse resultado excepcional. É o oposto do que acontece, por exemplo, numa escola de elite em São Paulo”, diz.
Criada em 2003, a escola ganhou em 2011 uma nova sede, com instalações modernas. A mudança transformou a Augustinho Brandão na construção mais bonita da cidade, frequentada por alunos em todos os turnos.
E se a estrutura ajuda, a gestão contribui ainda mais. Os resultados estão fazendo com que o modelo seja referência. “Estamos desenvolvendo um projeto para que o modelo de gestão seja seguido por unidades de ensino de dez municípios”, diz o secretário estadual de Educação, Átila Freitas Lira.
Desafios
Por trás da fama da escola – que tem 10 professores, um coordenador e uma diretora para 135 alunos – está um árduo trabalho. “Primeiro fizemos, trouxemos resultados. Depois, pressionamos a secretaria para que a infraestrutura melhorasse”, afirma a professora de português, Aurilene Brito. Ela destaca, porém, que a improvisação das instalações antes da reforma nunca impediu o trabalho dos professores. “No início, tínhamos apenas duas salas de aula e um pátio minúsculo. Usávamos a cantina para ter outro lugar para dar aula.”
Mesmo com as melhorias, os alunos comem em pé, pois não há refeitório. Também faltam quadra de esportes e laboratório de ciências. Mas o principal problema é a instabilidade da energia. O fornecimento, que nunca foi regular, piorou desde junho. Quedas de energia chegam a ocorrer até três vezes em um minuto. A moderna sala de informática não é usada para evitar a queima dos equipamentos.
Segundo a secretaria, em janeiro será construída uma subestação de energia para atender a escola. Sobre a ausência de quadra, laboratório e refeitório, a secretaria informou que serão construídos até junho de 2013.
Estadão/Portal az