Após mudar os critérios de correção da redação do próximo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio, o MEC (Ministério da Educação) lançou nesta segunda-feira, 30, o guia de redação da prova com o objetivo de orientar os alunos. Uma das redações destacadas como bom exemplo de texto chama a Venezuela de "ditadura" e erra a grafia do presidente daquele país. O conteúdo já está disponível no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): www.inep.gov.br.
O guia, de 48 páginas, foi elaborado pela equipe da Daeb (Diretoria de Avaliação da Educação Básica) do instituto para esclarecer o que é um texto dissertativo-argumentativo, detalhar os critérios de correção e apresentar exemplos de provas que conseguiram a pontuação máxima (1 mil pontos). O Enem está marcado para os dias 3 e 4 de novembro.
Segundo a Pasta, serão rodadas inicialmente 1,7 milhão de cópias, que serão distribuídas até setembro para alunos e professores de escolas públicas do País.
Em maio, o MEC anunciou mudanças na forma de correção da redação do Enem; a principal delas foi a redução da nota de discrepância de 300 para 200 pontos, o que vai levar a um aumento do número de textos que serão revisados. A Pasta também instituiu uma nota de discrepância dentro de cada uma das cinco competências da redação - superior a 80 pontos.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante disse que desta maneira fica mais claro o que será exigido dos estudantes.
— O filtro é muito mais rigoroso e agora está público e transparente o que se espera de cada competência, onde é avaliado, onde pode perder pontos, tanto o corretor quanto alunos sabem antecipadamente os parâmetros.
Uma das competências avaliadas é o domínio da norma culta da língua escrita. Logo no primeiro exemplo, o manual destaca a redação "O fim do Grande Irmão", feita por uma estudante do Rio de Janeiro. Ao comentar o uso indiscriminado das redes sociais, a aluna destaca que perfis em redes como Facebook e Twitter servem como "ferramenta política e social para aumentar a credibilidade de determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na Venezuela". O certo é Hugo Chávez. "A participante demonstra ter compreendido a proposta da redação e desenvolvido o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo", diz o guia.
— No desenvolvimento, são apresentados os argumentos que comprovam a opinião negativa da participante sobre a ação das redes sociais.
O presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, disse que a estudante usou "a norma culta com perfeição" e aportuguesou o nome do presidente venezuelano.
— A comissão entendeu que isso não dá para penalizar. Não é um erro que cause nenhum dano ao conhecimento da estudante.
Questionado se não causava constrangimentos ao governo destacar uma redação que chama de ditadura a Venezuela, Luiz Cláudio respondeu.
— A redação não é avaliada pela sua ideologia. O Brasil é uma democracia que respeita a liberdade de expressão, respeitamos a posição política de cada estudante, independentemente de concordamos ou não.
A partir deste ano, um acordo firmado com o MPF (Ministério Público Federal) permitirá que os estudantes tenham acesso às redações corrigidas apenas para fins pedagógicos. De acordo com Mercadante, esta medida é um direito dos alunos.
— O que estamos discutindo são os procedimentos de segurança para que (os alunos) tenham acesso. É um direito individual e isso tem de ser preservado, estamos construindo como vão ser os procedimentos.
Agência Estado