O projeto "Percepção sobre Flora e Fauna Nativa dos Alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior do Meio Norte do Brasil", desenvolvido na Universidade Federal do Piauí (UFPI), teve início no ano de 2019. A coordenadora do estudo, a professora do Curso de Ciências da Natureza, Clarissa Gomes Reis Lopes, destaca que o pontapé inicial para desenvolver o projeto surgiu a partir da necessidade de envolver as pessoas na conservação da flora nativa.
"A ideia do estudo surgiu por acreditarmos que o contato e as experiências com ambientes naturais criam laços de afetividade com a biodiversidade, estabelecendo vínculos, que podem refletir no envolvimento das pessoas na conservação da flora nativa", disse a coordenadora. Segundo a coordenadora Clarissa Lopes, a vida corrida de grandes centros urbanos, o fácil acesso às tecnologia e o contato cada vez maior com telas digitais teve um grande impacto na sociedade, tornando-a cada vez mais desconectada de ambientes naturais. Por isso, surgiu a necessidade de focar na valorização das espécies vegetais locais dentro do contexto escolar.
"Os jovens podem explicar o aquecimento global e o impacto do desmatamento da Amazônia, porém, desconhecem como as plantas crescem, florescem e dão frutos em seus próprios quintais, o que caracteriza a desvinculação com o ambiente em que vivem", acrescentou a professora.
Desenvolvido em colaboração com a professora da Licenciatura em Educação do Campo (CCE/UFPI), Maria Jaislanny Lacerda e Medeiros Nogueira, o projeto parte do pressuposto de que "ninguém pretende conservar aquilo que não conhece". Dessa forma, para contornar esse ponto de vista, o estudo visa analisar se estudantes do ensino fundamental, médio e superior do Meio Norte do Brasil conseguem identificar as espécies de plantas nativas da região e observar os fatores que podem afetar a habilidade de constatar a diferença entre plantas nativas e exóticas.
Metodologia
Para obter informações sobre o reconhecimento das espécies, foram disponibilizadas aos estudantes 20 imagens impressas, em alta resolução, de espécies vegetais nativas e exóticas, acompanhadas de um questionário para verificar a identificação dessas plantas. As perguntas foram semi estruturadas com base na idade e no gênero, além de outras variáveis: (a) convívio com áreas menos urbanizadas e áreas naturais (zona rural); (b) se frequentaram aulas de botânica; (c) Programas de TV que abordam questões botânicas.
Resultados observados
Após a análise das respostas obtidas e dos dados coletados, a professora Clarissa Gomes observou que o contato dos alunos com o ambiente natural contribui diretamente na formação acadêmica, desenvolvendo a capacidade de identificar e conhecer a relevância das espécies da flora, além do papel que elas desempenham na natureza e no meio em que estão inseridas.
Ainda de acordo com a coordenadora do projeto, as espécies vegetais mais conhecidas pelos alunos são aquelas cujos frutos são consumidos em sua dieta, como por exemplo, caju, pitomba, goiaba, manga e acerola. "Isso reforça a importância da experiência direta para adquirir conhecimento sobre plantas e animais", apontou Clarissa.
Contexto Social
O projeto "Percepção sobre Flora e Fauna Nativa dos Alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior do Meio Norte do Brasil" conseguiu identificar que a densidade populacional, Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) são fatores sociais que impactam diretamente no conhecimento sobre espécies de plantas nativas.
"Algumas espécies nativas, como oiti, caneleiro e angico, que são bastante presentes na arborização de Teresina, foram pouco reconhecidas pelos alunos deste estudo. Também, observamos que os estudantes que vivem em municípios mais urbanizados, com maior densidade populacional, Produto Interno Bruto e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, também, apresentaram maiores perdas de conhecimento sobre espécies de plantas nativas", observou a coordenadora.
Contato com áreas naturais
A coordenadora Clarissa Gomes destacou a importância das escolas incentivarem o contato com áreas naturais, por meio de aulas de campo ou práticas ao ar livre, para o reconhecimento de espécies nativas, especialmente para os alunos que vivem em áreas urbanizadas.
"É fato que não é possível voltar atrás no que diz respeito à urbanização no cotidiano, mas é possível recuperar o contato mais significativo com a natureza, sendo fundamental o papel da escola no fortalecimento do vínculo dos estudantes com a natureza, com foco na proteção dos recursos naturais", finalizou Clarissa.
Ufpi